Embraer vê com otimismo o ambiente para negócios


João Caminoto

LONDRES – O presidente da Embraer, Maurício Botelho, vê com otimismo o ambiente para negócios e não considera que a competição de aviões de porte regional que serão fabricados na Rússia e China nos próximos anos representa uma ameaça a sua empresa no médio prazo. No entanto, ele criticou a Força Aérea Brasileira (FAB) por nem sempre privilegiar a aquisição dos produtos da indústria nacional para a renovação e expansão de sua frota e equipamentos.

Em entrevista a Agência Estado por telefone de Paris, o executivo disse que a decisão sobre a escolha do nome que deverá sucedê-lo na presidência da empresa em abril de 2007 – ele permanecerá na presidência do conselho administrativo – deverá acontecer em breve, mas evitou estipular prazos. "Vai ser uma sucessão absolutamente tranqüila, transparente", disse Botelho, que na semana que vem participará da feira internacional de aviação de Farnborough, no interior da Inglaterra.

Comportamento positivo

Segundo ele, o mercado internacional para os fabricantes de aviões apresenta um comportamento positivo. "A economia mundial continua bem, crescendo, e as companhias aéreas em geral também, com exceção nos Estados Unidos, onde muitas ainda passam por um processo de reestruturação", disse. "Não estamos vendo nenhum problema nos mercados, e o desempenho das empresas aéreas na Europa e Ásia tem sido muito positivo."

Botelho afirmou que a Embraer continua expandindo seus mercados fora dos Estados Unidos e Europa, com vendas de suas aeronaves em Taiwan, Hong Kong, Arábia Saudita e Jordânia. Ele reafirmou que a empresa mantém inalterada sua previsão de entrega de 145 aviões neste ano, apesar do ceticismo com essa meta expressado recentemente por alguns analistas de mercado.

Ele considera equivocadas as comparações feitas entre o volume de vendas de aeronaves da Embraer e das duas maiores fabricantes de aviões do mundo, a Boeing e Airbus. "Invejo elas, com suas vendas que atualmente chegam quase a mil aviões por ano, mas nosso negócio não é esse", disse. "Nosso plano era vender mil aviões em dez anos." Ele frisou que a Embraer já acumula encomendas firmes de cerca de 480 aviões da família de jatos regionais modelos 170 e 190. "Já entregamos umas 160 aeronaves, temos outras 320 ou mais para entregar, isso representa quase três anos de nossa produção e é muito positivo."

Ameaça

Segundo ele, a produção de aviões de porte regional na Rússia e China não representa um ameaça para o domínio da Embraer e da canadense Bombardier nesse segmento. "São duas empresas muito sólidas nesse setor regional, com um histórico, competente assistência aos clientes e numa posição privilegiada difícil de ser superada", disse. Segundo ele, a Rússia deverá ser a primeira a fabricar os seus jatos regionais, mas isso não ocorrerá antes de 2009. "E o foco na Rússia será o mercado doméstico", disse. "Não vemos um impacto no médio prazo, tantos os russos e chineses terão que enfrentar a inexperiência e criar uma estrutura de serviços para tentar se expandir fora de seus mercados domésticos, e isso leva tempo."

Segundo ele, o interesse e demanda pelos aviões executivos da Embraer, que incluem o Legacy, os jatos Phenom e o modelo Lineage tem sido muito positiva. Na próxima terça-feira, durante a feira de Farnborough, a empresa anunciará o backlog, ou seja, o volume de encomendas firmes para esse segmento. "As vendas estão correspondendo muito bem às nossas expectativas."

Militares

Botelho admite que a Embraer vem há tempos enfrentando dificuldades para fechar negócios relevantes para suas aeronaves militares, mas atribui parte do problema à postura do governo brasileiro. "O Brasil é um País difícil de se ter um programa, de se desenvolver seus produtos nessa área de defesa, que é de nicho", disse. "A FAB (Força Aérea Brasileira) tem algumas vezes uma visão que nem sempre privilegia o produto do País." Ele disse que o ano passado foi marcado por várias notícias negativas nessa área, entre elas o cancelamento do programa FX (de novos caças) e a decisão da FAB de comprar aviões de patrulha marítima P3 da marinha norte-americana, que acumulam cerca de 45 anos de uso. "Você não vê um país no mundo que seja fornecedor importante de equipamento de defesa, cujas empresas do setor não contam com o apoio do governo no emprego de seus produtos", afirmou. "Isso cria capacitação, investimento e competitividade."

Sobre o impacto da valorização do real nos resultados da empresa, ele disse que isso "é uma preocupação permanente". No ano passado, acrescentou, "foi o pior dos mundos", pois a empresa teve que importar insumos com um dólar mais forte e ao vender seus produtos, a cotação da moeda norte-americana havia declinado acentuadamente. "Mas nos últimos meses temos visto uma maior estabilidade maior do câmbio, que é um alívio", disse. Segundo ele, as alterações cambiais que vêm sendo anunciadas pelo governo, principalmente o fim da cobertura cambial obrigatória, serão benéficas para a Embraer. "Realizamos enormes movimentos com moedas fortes e essa mudança terá um impacto importante para nós", disse.

Botelho qualificou como "extremamente positivo" o resultado da pulverização do controle acionário da Embraer feita neste ano, o que deverá inclusive facilitar novos investimentos.

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