Análise – O que os EUA trazem para o combate ao Ebola

Por Jane Davidson – Texto do Defense One

Tradução, adaptação e edição por Nicholle Murmel

As reações foram diversas após o presidente Barak Obama anunciar o envio de 3 mil militares para a Libéria para ajudar na contenção da epidemia de Ebola. Os Médicos Sem Fronteiras já vinham atuando na linha de frente contra o vírus e pedindo apoio militar. Enquanto isso, alguns generais da reserva condenaram a decisão de Obama, alegando “mal uso” das tropas, cujo trabalho é “lutar em guerras, não em batalhas médicas”.

Esses oficiais não poderiam estar mais errados.

A ameaça do Ebola para além da África é real, e o relógio não para. Apesar de o risco direto dos casos documentados no Texas e na Espanha ter sido superado, especialistas avisam que o vírus está em mutação e caso não seja detido, se espalhará para muito além do continente, desafiando até mesmo a capacidade de contenção dos países desenvolvidos.

Além disso, o Ebola representa uma questão de segurança significativa. À medida em que a doença se alastra, o mesmo acontece com o pânico, e o pânico leva à violência. Segundo Laurie Garrett, do Council on Foreign Relations (CFR), “a baderna vai aumentar à medida em que forças policiais sucumbirem ao vírus e agentes apavorados abandonem seus postos”.

Enquanto profissionais de saúde morrem ou desistem do trabalho, ou as pessoas evitam hospitais por medo de contágio, haverá mortes por outras causas facilmente tratáveis. Ainda de acordo com Garrett, “mulheres morrerão no parto, vítimas de acidentes de carro vão sangrar até morrer por falta de atendimento de emergência, epidemias de doenças antigas, erradicadas por vacinas, podem ressurgir uma vez que profissionais de sáude temem vacinar crianças potencialmente contaminadas com Ebola, e a desnutrição infantil vai se consolidar”.

Sendo assim, uma vez que os governos são incapazes de administrar o surto da doeça e o pânico resultante, as reverberações da epidemia vão debilitar as estruturas governamentais e societárias, criando problemas de segurança ainda maiores. Essa espiral de caos, por sua vez, só vai acelerar a propagação do vírus e atrapalhar os esforços para controlá-lo.

Medias pequenas logo no início poderiam ter eliminado a epidemia em seu estágio inicial. Mas estamos muito além disso agora. Somente militares – entenda-se militares americanos com sua vasta capacidade organizacional, de comando e controle – podem fazer o necessário para coordenar esforços multinacionais para contra a doença. Assim como na guerra, é tudo uma questão de logística e liderança. Eis o que as tropas dos Estados Unidos trazem para o combate ao Ebola:

Liderança e coordenação:os EUA estão enviando metade do contingente da 101ª Divisão Aerotransportada para coordenar iniciativas multinacionais e entre várias agências. São vários atores envolvidos: o governo da Libéria, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), trabalhadores da ONU e as próprias tropas da 101ª Divisão. Trata-se de um desafio organizacional para o qual as Forças Armadas americanas são especialmente qualificadas.

Centros de tratamento e laboratórios móveis: engenheiros militares e empreiteiros de apoio construirão 17 centros de tratamento pré-fabricados para isolamento e tratamento dos doentes. Laboratórios móveis permitirão aos agentes de saúde identificar e separar pacientes com Ebola de outros com doenças diferentes.

Trasnporte:Uma vez que companhias aéreas comercias estão cada vez mais relutantes em voar entre os países com surto do vírus, transporte militar será necessário para manter o fluxo de profissionais e suprimentos médicos. Isso inclui itens críticos, como kits de higiene e equipamento de proteção.

Treinamento: profissionais militares de saúde poderão treinar 500 agentes locais e voluntários por semana em procedimentos básicos de auto-proteção para controlar a contaminação. Esse empoderamento dos trabalhadores locais será a chave para deter a epidemia e ao mesmo tempo limitará a exposição direta das tropas americanas ao vírus.

Essa contribução sólida dos EUA representa um entendimento de que a epidemia de Ebola é um desafio global, que deve ser abordado com uma solução global. Como em um combate contra qulaquer oponente, uma estratégia baseada apenas em auto-isolamento e evasão não seria bem-sucedida. Seremos mais eficazes quando buscarmos eliminar o vírus em sua origem. Apesar da premissa errônea de que militares servem apenas para lutar e vencer as guerras do país, nossas tropas já realizaram várias operações humanitárias e de estabilização ao longo de seus 239 anos de história.

Encarar esse tipo de missão não é apenas um dever moral, mas recai fortemente sobre os interesses nacionais dos EUA. A comunidade global precisa se unir para reverter o o avanço do Ebola, e os Estados Unidos precisam assumir o papel de liderar os esforços.
 

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