À medida que diminuem os problemas fronteiriços e conflitos internos na região, a política de defesa sul-americana passa a ter como objetivo a segurança estratégica e conjunta dos recursos naturais, afirmou a secretária-geral da Unasul, Maria Emma Mejía, esta sexta-feira, em entrevista à AFP em Lima.
Mejía, que está na capital peruana para uma reunião de ministros da Defesa da União de Nações Sul-americanas (Unasul), afirmou que a região "é o grande ativo para o mundo em termos de reservas naturais".
"Temos hidrocarbonetos, minérios, água, grandes florestas naturais, a Amazônia, grandes reservas de alimentos. Então, o Conselho de Defesa (que reúne os ministros dos 12 países da Unasul) falaram desse tema, começando a pensar qual é o elemento estratégico perante o mundo", disse.
Ela advertiu que "não se trata de fixar uma política de defesa para cuidar esses recursos como se fossem roubá-los de nós, mas na medida em que diminui a pressão militar tradicional fronteiriça ou conflitos internos nos países sul-americanos, vejo cada vez mais os exércitos e uma política de defesa comum para esses grandes ativos e teremos que trabalhar nisso".
Mejía, ex-chanceler colombiana, afirmou que esse enfoque é possível pela "maturidade que se alcançou na compreensão da necessidade de uma política comum na questão da defesa na América do Sul".
"Isso é histórico. Há poucos anos, isto era impensável, inclusive com duros enfrentamentos, e hoje há uma região de paz consolidada", acrescentou.
"Se pode haver uma inquietação, eu diria que em comparação com o resto do mundo a corrida armamentista na América do Sul é um mito. Esta é uma região de paz", reiterou, ao ser consultada acerca de receios sobre os gastos na defesa de países como Venezuela e Chile.
A questão da defesa dos recursos naturais foi abordada durante a inauguração do Centro de Estudos Estratégicos da Defesa da Unasul (CEED), em maio passado, em Buenos Aires.
O diretor da entidade, o argentino Alfredo Forti, afirmou que um dos principais objetivos do CEED é que a América do Sul tenha informação própria sobre seus "ativos estratégicos".
"É alarmante registrar que as principais fontes de informação sobre os recursos da nossa região venham de fora. São instituições governamentais, agências multilaterais e organismos privados que, de Londres, Nova York, Estocolmo, Washington ou Pequim, nos dizem o que temos o que não temos. É nestes centros que se realizam estudos prospectivos sobre a América do Sul", comentou Forti.
"Os recursos naturais, na qualidade de bens estratégicos, são fatores de altíssima importância que podem ser cobiçados por países de outras regiões", acrescentou.
O Instituto Internacional para a Paz (SIPRI) de Estocolmo informou, em seu último relatório, que em 2009 a América do Sul destinou 51,8 bilhões de dólares para despesas militares contra 680 bilhões da América do Norte (principalmente os Estados Unidos).
A Unasul não possui ainda estatísticas de gastos e precisamente será um Plano de Ação, firmado esta sexta-feira em Lima, que permitirá afinar uma metodologia para padronizar estes números.