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Falta de projetos ameaça companhias

Virgínia Silveira

As empresas brasileiras do setor espacial estão demitindo profissionais altamente qualificados por falta de encomendas. A Optoeletrônica, de São Carlos (SP), única empresa nacional capacitada a produzir sistemas ópticos e eletrônicos para defesa e espaço, demitiu 30 pessoas, quase metade dos funcionários dedicados a essas duas áreas.

A empresa desenvolveu uma câmera que ajuda no controle de recursos hídricos e florestais para o satélite sino-brasileiro Cbers-3. O equipamento se tornou um marco de capacitação para o programa espacial brasileiro, por ser considerado o instrumento espacial mais sofisticado já feito no país.

"Não temos nenhum contrato em vista na área espacial e por isso tivemos de cortar 30 postos de trabalho, todos especializados em tecnologia de desenho óptico, mão de obra que não existe no país", disse o presidente da empresa, Jarbas Castro.

Segundo a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), o país conta hoje com 12 empresas voltadas para o segmento espacial, das quais seis dependem exclusivamente de programas nessa área. Essas empresas empregam cerca de 400 pessoas. O faturamento médio anual das empresas fica entre US$ 50 milhões a US$ 60 milhões, mas esses valores vêm sofrendo queda progressiva, devido à falta de contratos.

Todas as empresas do setor no Brasil, de acordo com o presidente da Optoeletrônica, estão reduzindo o quadro de funcionários para conseguir se adaptar à situação e tentar sobreviver. "Em 2014 a área de defesa e espaço, que representava 60% da nossa receita, cairá para 40%. Estamos tentando retomar a área de produtos civis, voltada ao segmento médico para compensar a queda de receita."

O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Leonel Perondi, disse que a indústria nacional está preparada para um novo desafio e que o desenvolvimento de um novo satélite semelhante ao Cbers, mas 100% nacional, seria viável no curto prazo.

Perondi defende o modelo de política de desenvolvimento industrial adotado pela Suécia, que decidiu produzir o Gripen no país. "Para cada bilhão de dólar investido no Gripen houve retorno de US$ 3 bilhões para a economia sueca." Esse modelo, segundo Perondi, é o adotado pelo Inpe em relação aos satélites. Mas neste momento faltam programas para dar continuidade a política realizada com o Cbers 3 e 4, que contratou mais de R$ 300 milhões da indústria nacional.

A Orbital, outro exemplo de empresa estratégica para o programa espacial, foi a responsável pelo sistema de suprimento de energia do Cbers 3. A empresa demitiu 10 pessoas e reduziu o quadro para 15 pessoas. O presidente da Orbital, Célio Vaz, disse que a situação das empresas é tão crítica que não sobrevivem mais um semestre sem medidas urgentes. "No caso da Orbital, o que tem mantido a empresa em funcionamento é um contrato de exportação de serviços de engenharia espacial para o Canadá."

O plano para a área espacial e definido no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), segundo Vaz, não está sendo cumprido. Especialistas consultados pelo Valor afirmam que a maior parte dos recursos do programa espacial foi desviada para o programa do foguete ucraniano Cyclone 4, parceria binacional feita com o Brasil que deu origem a Alcântara Cyclone Space (ACS).

Segundo o Valor apurou, parte dos recursos aprovados para o programa de foguetes conduzido pelo Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) também está sendo destinada a outros projetos, como o do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação (SGDC), que será fornecido pelas empresas europeias Thales e Arianespace.

A Mectron, do grupo Odebrecht Defesa e Tecnologia, não quis dar entrevista. A empresa decidiu minimizar suas atividades no setor espacial e já teria demitido 40 funcionários em São José dos Campos.

O presidente da AEB, José Raimundo Braga Coelho, disse que assinou oito contratos com as empresas espaciais no âmbito do satélite Cbers-4, que será lançado em dezembro. Segundo ele, uma nova agenda está sendo discutida com os chineses para viabilizar novos programas em parceria, entre eles, o de um satélite geoestacionário. "Os novos projetos e contratos só deverão ser viabilizados a partir de 2015."

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