Brasil, Copa do Mundo, Olimpíadas e a (in)segurança virtual

Alberto Medeiros


"A violência está em todo lugar." Esse tipo de argumento, infelizmente, fez com que nos "acostumássemos" aos perigos que rondam as ruas das grandes cidades. Mas a ação de criminosos que buscam por oportunidades para agir ilicitamente está cada vez mais ultrapassando o mundo real e se intensificando, rapidamente, no universo virtual.

No mundo físico, quando algum grande evento é realizado, a ocorrência de furtos aumenta em função da aglomeração de pessoas. Não é raro ocorrer roubo de bolsas, carteiras, celulares e máquinas fotográficas em shows e jogos, por exemplo. Em breve o Brasil será palco dos maiores eventos esportivos mundiais — Copa do Mundo e Olimpíadas. O mundo estará de olho e muitas pessoas desembarcarão no país. Todos esperam que esse tipo de problema aumente, uma vez que cidades, shopping centers, estádios e ginásios estarão sempre lotados.

Muitos podem pensar que, ao deixar em casa objetos de valor, estão mais protegidos. Essa não é mais uma garantia. Seguindo a tendência do mundo físico, o universo virtual também fica mais vulnerável quando ocorrem grandes eventos, já que os cibercriminosos aproveitam o interesse que o assunto desperta nos internautas como isca para aplicar golpes, da mesma forma que se aproveitam de memes e assuntos de apelo popular.

O cenário se complica ainda mais quando adicionamos os elementos "mobilidade" e "consumerização", tendências cada vez mais presentes na nossa rotina. Mais de 350 milhões de pessoas acessam redes sociais como Facebook, Linkedin e Twitter por meio de dispositivos móveis. Imagine como será durante os eventos que estão por vir. A ânsia pelo compartilhamento de informações, como resultados, imagens de atletas e diferentes ângulos de jogadas, por exemplo, movimentará a rede de tráfego de dados do Brasil como nunca.

E a mobilidade não irá retroceder. A cada ano mais e mais pessoas terão acesso a dispositivos móveis e as próximas edições desses e de outros eventos serão mais movimentadas, exigindo cada vez mais banda, velocidade e segurança. Falando em segurança e mobilidade, inclusive, existem ataques específicos para dispositivos móveis, os iPhishings — que se aproveitam da dificuldade de se observar uma URL completa de um site ao acessá-lo por smartphone.

Mas os ataques que estão sendo esperados não são novidade nem privilégio nosso. Nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, por exemplo, toda a estrutura foi alvo de ataques diários, que tinham o intuito de impedir o tráfego de dados e o roubo de informações confidenciais. O que se espera para o nosso ambiente virtual são ataques coordenados em duas frentes: com a exploração do assunto como poderosa isca para enganar os internautas e à estrutura dos eventos durante sua realização.

A engenharia social, artifício muito usado pelos criminosos virtuais e que consiste em atrair a atenção dos internautas por meio de algum assunto em alta no momento, com certeza será muito utilizada. A partir do interesse das pessoas, os hackers podem disseminar malwares e links maliciosos em e-mails e mensagens disfarçadas, prometendo, por exemplo, venda e premiação de ingressos, imagens exclusivas, etc. Geralmente esses ataques têm como foco o roubo de informações bancárias, como número de cartões de créditos, resultando em perdas financeiras.

Já a segunda vertente, que visa ao ataque a serviços relacionados aos eventos, tem como principal objetivo a queda da disponibilidade dos serviços. Essas investidas podem acontecer não só à estrutura do evento, o que já causaria grandes transtornos — imagine se as pessoas ficarem impossibilitadas de compartilhar informações de um jogo entre Brasil e Argentina, por exemplo —, como também podem focar emissoras de rádio e tevê, ou ainda o sistema de comunicação de companhias viárias e aéreas.

Perante todos esses riscos, a pergunta que fica é: o Brasil está preparado para tudo isso? E a resposta é: sim, está! O Brasil vem fazendo um grande investimento, preparando uma estrutura robusta para atender aos eventos. Segundo os organizadores, a maioria dos estádios contará com uma rede 4G para que as pessoas possam navegar e compartilhar experiências com segurança, sem a necessidade de expor informações em uma rede pública e pouco confiável, como o wi-fi.

Mas todo esse investimento em segurança não será o bastante se as pessoas não se conscientizarem e fizerem sua parte. Da mesma maneira que é perigoso andar com a janela do carro aberta e a bolsa solta no banco do carona, também é arriscado acessar a internet por meio de um dispositivo sem nenhum tipo de segurança embarcada. O fato é que os ataques virtuais estarão, sim, mais intensos durante a realização da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. E por mais que a estrutura garanta uma boa segurança para quem estiver conectado, é fundamental que os internautas percebam que a responsabilidade é deles também e que busquem blindar seus gadgets, contribuindo assim para um ambiente mais seguro para todos.

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