MALAN – 100 ANOS DA MISSÃO MILITAR FRANCESA NO BRASIL


100 ANOS DA MISSÃO MILITAR FRANCESA NO BRASIL


 

Cel R1 Carlos José Sampaio Malan
Neto de
Alfredo Souto Malan
 

 
A Missão Militar Francesa de Instrução no Brasil (MMF), chefiada pelo general Maurice Gamelin, foi contratada no dia 08 de setembro de 1919 para orientar, a partir de 1920, a modernização do Exército Brasileiro (EB). Inicialmente prevista por quatro anos, teve seu contrato renovado, sucessivamente, por 20 (vinte) anos, permanecendo entre nós de 1920 a 1940. Consistia em reorganizar, num primeiro momento, as escolas militares e, em seguida, o próprio EB.

Os termos do contrato estipulavam que oficiais franceses comandariam durante quatro anos as escolas de Estado-Maior (EEM), de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), de Intendência, Veterinária, Saúde, Equitação e Educação Física. O contrato representou um grande passo na direção da profissionalização e modernização do Exército e contribuiu para fortalecer o poder militar.

Uma das principais consequências da atuação da MMF, na EEM, foi a introdução e o ensinamento de elementos universais para o estudo do problema tático, os chamados fatores da decisão militar: a missão, o inimigo, o terreno e os meios. Assim os missionários franceses encarregavam-se de reorientar a doutrina do Exército, elaborar novos regulamentos e aperfeiçoar o ensino e a instrução militar. Sua ação resultou na reformulação das missões do Estado-Maior do Exército (EME) e na criação da Escola de Aviação Brasileira no Campo dos Afonsos, embrião da Força Aérea Brasileira (FAB).

Colocou-se em prática a ideia, então dominante, de que a finalidade principal do Exército era o preparo das forças nacionais para a guerra, e assim foi viabilizado o enquadramento do potencial militar. Ademais, a mobilização militar passou a ser encarada como uma mobilização nacional.

FOTO DO QUADRO

Quadro do Cel Estigarríbia, “O CONTRATO”, retrata a assinatura do Contrato da MMF, em Paris, no dia 08 de setembro de 1919.

Constam do quadro da esquerda para direita de pé o Embaixador brasileiro Raul Régis de Oliveira, sentado assinando, o Ministro da Guerra da França George Clemenceau, de pé  o Ministro das Relações Exteriores da França Stephen Pichon e assistindo sentados à frente o Adido Militar do Brasil na França, Ten Cel Alfredo Malan D’Angrogne e o Chefe da MMF,  Gen Maurice Gamelin.

O autor Cel R1 Carlos José Sampaio Malan. Quadro do Cel Estigarríbia: “Aproveitamento do Êxito”, Final do Combate de Monte Caseros. Osorio Cmt do 2 RC,carregando sobre os soldados de Rosas. Data provável 02 Fev 1852”

QUESTÕES ABORDADAS

– O que foi a MMFIEB?

Foi uma Missão Militar Francesa de Instrução junto ao Exército Brasileiro.
Da necessidade de modernização do Exército Brasileiro.
 
– Por que ela foi uma missão contratada na França e não em outro país?

O fato de o Brasil já ter tido uma Missão Militar Francesa contratada pela Força Pública de São Paulo, antes da Primeira Guerra.
A presença em Paris, desde 1917 de uma importante missão de compra de do Exército e seu oficiais terem combatido nas fileiras do Exército Francês, e após a mesma a França ter sido vitoriosa no conflito, fez com que a dúvida entre uma Missão Alemã e Francesa se definisse pela França.
 
– Foi cogitada a possibilidade de contratação de uma missão militar junto à Inglaterra, aos EUA ou até mesmo à Alemanha, mesmo derrotada na Grande Guerra (I Guerra Mundial)?

Não.
 
– Quais foram as autoridades civis e militares brasileiras e francesas envolvidas na contratação da MMF?

Militares: Gen Alberto Cardoso de Aguiar, Ministro da Guerra, Ten Cel Alfredo Malan D’Angrogne, Adido Militar do Brasil na França, Marechal Joseph Joffre, Vencedor da Batalha do Marne, Gen Maurice Gamelin, Chefe do Estado-Maior do Gen Joffre.

Civis: Epitácio Pessoa, Chefe da Delegação do Brasil na Conferência de Versalhes, Dr. Pandiá Calógeras, membro da Delegação do Brasil de Versalhes, Dr. Domício da Gama, Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Dr. Olintho e Dr. Raul Regis de Oliveira Embaixadores do Brasil na França, Monsieur George Clemenceau, Ministro da Guerra da França, Monsieur S. Pinchon, Ministro das Relações Exteriores da França.
  
– Qual era a duração inicial da MMF estabelecida no contrato?

4 (quatro) anos.
 
– Qual a relação existente entre a I Guerra Mundial (Grande Guerra) e a contratação da MMF pelo Brasil?

Após a Conferência de Versalhes em que participaram Epitácio Pessoa, futuro Presidente do Brasil e Pandiá Calógeras, futuro Ministro da Guerra, corroboraram a iniciativa do Ministro Cardoso de Aguiar de atribuir ao Ten Cel Alfredo Malan D’Angrogne a precisa e delicada missão de contratar a Missão Militar Francesa.
 
– Era realmente necessária a contratação de uma missão de instrução para o EB?

Sim. Principalmente após o término da I Guerra Mundial, quando se viu a necessidade de modernização do Exército.
 
– Quais foram as áreas de atuação da MMF no EB?

A MMF foi contratada para orientar a partir de 1920, a modernização do Exército Brasileiro, consistia em reorganizar, num primeiro momento, as escolas militares e, em seguida, o próprio Exército Brasileiro.

– O EME recebeu os relatórios dos chefes da MMF ao longo dos 20 anos de atuação da mesma no Brasil?

Com certeza.
 
– Caso positivo, o EME dispõe desses relatórios?

Acredito que sim.
 
– Qual foi o legado geral da MMF para o EB?

O grande legado da MMF foi conscientizar da necessidade de o Exército em tempo de paz estar sempre voltado para sua finalidade principal que é o preparo para a Guerra.
 
– Qual foi o legado doutrinário da MMF para o EB?
 

Implantação do método para solução de problemas;
Processo mais seletivo na formação dos Chefes;
Elevação do nível cultural e profissional dos oficiais e surgimento de pensadores militares brasileiros;
Formação dos Chefes que conduziram a FEB na Itália;
Estímulo ao estudo da História do Exército para a formulação de Táticas e Estratégias calcadas na experiência militar brasileira;
Dinamização dos trabalhos de Mobilização;
Introdução das Manobras de Grande Envergadura.;
Grupos de Combate em torno de metralhadoras;
Introdução dos Blindados;
Surgimento da Aviação;
Organização do Terreno;
Apoio Logístico para grandes efetivos (uso de transportes ferroviários); e
Novas Técnicas de Estado-Maior (Mobilização e Concentração)

 
– Os ensinamentos, pressupostos, normas e condutas estabelecidos pela MMF ainda permanecem no EB?

Apesar da mudança para doutrina americana após a Segunda Guerra Mundial, ainda temos influência da MMF, principalmente, nas Escolas Militares.
 
– Passados 100 anos, quais ensinamentos da MMF permaneceram no EB?

Só para dar um exemplo o Estudo de um Problema Tático, os chamados fatores da decisão militar:
A Missão;
O Inimigo;
O Terreno; e
Os Meios.
 
– A MMF chegou a interferir na estruturação do EB?

Com certeza, só para exemplificar, a distribuição das Regiões Militares permanece praticamente a mesma esboçada pelo Gen Gamelin.
 
– Qual foi o relacionamento dos oficiais franceses com a oficialidade brasileira?

Muito boa.

– Os chefes da MMF se manifestaram em relação ao ciclo revolucionário brasileiro durante o período da Missão (1919/1940), mormente Tenentismo, Revoluções de 1923, 1924 e 1926, Coluna Miguel Costa/Prestes, Revolução de 1930, Revolução Constitucionalista de 1932, Intentona Comunista, Estado Novo e Intentona Integralista?

Não, não se intrometeram nos problemas políticos.
.
– A França já havia enviado alguma missão militar de instrução para algum outro país do mundo antes de 1919?

Sim, Polônia, Thecoslováquia, dentre outras.
 
– Quais são as possibilidades de acesso, na França, do conjunto completo dos relatórios franceses sobre a MMF no Brasil?

Segundo o Cel Charles Orlianges, Adido Militar da França no Brasil, os Arquivos estão abertos à Pesquisa. 
 

 

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