Pouso Forçado – Pilotos levaram nome do Brasil pelo mundo

 

Na cabine de comando de modestos DC-3 ou possantes Boeing 747, os pilotos da VARIG transportaram celebridades e chefes de Estado. Aos cinco continentes, levaram a rosa  dos ventos, símbolo da companhia aérea, na cauda dos aviões. Muitas dessas lembranças devem ser suscitadas no encontro de hoje para lembrar os 60 anos da primeira turma da Escola Varig de Aeronáutica (Evaer).

Em meio à turbulência provocada pelo provável fim do Aerus, o ex-comandante Fredy Wiedemeyer é o agitador do reencontro da primeira turma de pilotos Varig, formada há 60 anos. Do quarto de 10 metros quadrados no apartamento onde mora, no norte de Florianópolis, abarrotado de relíquias dos países por onde andou, articulou com os ex-colegas pelo telefone a reunião. O gorro de couro usado no primeiro voo, a miniatura do avião a hélice do início da carreira e o diploma da Evaer estão expostos com orgulho. Aos 79 anos, viúvo duas vezes, o porto-alegrense vive há duas décadas em Santa Catarina, desde que se aposentou. Percorreu 64 países, dominou cinco idiomas, morou em Lisboa, Los Angeles e Roma. As estrelas de cinema Lana Turner, Rock Hudson, Romy Schneider e Catherine Deneuve viajaram com ele. Enquanto presidentes, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Fernando Collor e o secretário-geral da ONU, Kurt Walheim, cumprimentaram-no na cabine. Em 1980, foi abordado várias vezes por um curioso João Paulo II, deslumbrado com a paisagem amazônica, na viagem de volta a Roma.

Dos 40 inscritos para a primeira turma de pilotos, 22 foram selecionados. Filho de um engenheiro alemão trazido a Porto Alegre para a construção da Usina do Gasômetro, Wiedemeyer ingressou nas aulas aos 17 anos. É o caçula dos experientes. Em dois anos de aulas teóricas, voos em simulador e mais de 150 horas práticas no aeroporto de São Leopoldo, 16 alunos receberam o brevê. Três migraram para outras companhias. Os demais começaram em rotas pelo interior do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, cresceram com a Varig e se aposentaram nos anos 1990, ostentando nos ombros a divisa de comandantes master de rotas intercontinentais. No último voo, com 35 mil horas de navegação, Wiedemeyer se despediu com coquetel e champanhe oferecido pelos colegas. Era dezembro de 1992, saía de Los Angeles rumo ao Rio e tinha 60 anos, idade limite para pilotar rotas internacionais.

Criada em Porto Alegre em 1927, a Varig despontara como a principal empresa aérea nacional na década de 1950 e precisara formar pilotos e mecânicos para fortalecer os planos de expansão. Os formados na primeira turma são movidos pelas lembranças da empresa em que “tudo funcionava”.

– Ainda sonho com o que eu vivi. As conversas com os colegas na cabine. Minha felicidade se deve ao fato de eu ter conseguido voar na Varig – suspira Ricardo Lobo, 85 anos, morador do Rio de Janeiro.

Na década de 1960, o ex-comandante pilotava um DC-3 para 30 passageiros, que saía de Porto Alegre e pipocava entre Tubarão, Araranguá, Florianópolis, Navegantes, São Paulo até chegar ao Rio.

O mais rodado é Jair Schütz, 81 anos, de Porto Alegre. Viúvo há um ano, Luiz Achutti, 84 anos, também vive na capital gaúcha. Faz as contas no caderno onde anotara todas as rotas e descobre: só para Nova York foram 230 viagens:

– Era uma vida muito boa. A gente era respeitado. Piloto era tratado como autoridade. E a Varig custea- va tudo. Isso não existe mais hoje. Nem é possível.

O gaúcho Alfredo Flemming, 80 anos, mora na Barra da Tijuca, no Rio, onde vive desde 1960, quando a Varig expandiu as operações, inclusive mudando a sede para a capital fluminense. Evita recordações para não se emocionar. Com o Aerus minguando, Achutti vendeu uma casa em Capão da Canoa e outra em Canela. Schütz acabou de se mudar para uma casa menor, na zona sul da Capital.

 

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