Potencial de Embraer divide analistas, com foco nas encomendas dos EUA

Daniela Meibak

O desempenho da fabricante de aeronaves Embraer divide os analistas que acompanham o setor. Com isso, as recomendações para os papéis da empresa variam de "compra" a "venda". Neste ano, as ações acumulam alta de 34,2%, considerando o fechamento da última sexta-feira (7), a R$ 19,30. No mesmo intervalo, os recibos de papéis negociados no mercado americano (American Depositary Receipts, ADRs) subiam 29,4%, para US$ 36,43.

Os pontos principais no radar do mercado são potenciais encomendas de clientes da companhia nos Estados Unidos, a qualidade da carteira de pedidos e, obviamente, o preço dos ativos em bolsa.

O Bank of America Merrill Lynch (BofA), o BTG Pactual e o Deutsche Bank estão entre as instituições otimistas com Embraer, com recomendações de compra para as ações. A visão dos bancos se baseia em um cenário de possíveis encomendas vindas dos Estados Unidos e fechadas durante o Paris Air Show, evento que acontece entre os dias 17 e 23 deste mês e pode gerar novos negócios.

O BTG Pactual tem preço-alvo de US$ 40 para os ADRs da empresa, com potencial de alta próximo a 10%. "A dinâmica positiva pela qual a companhia passa atualmente deve persistir. Ainda esperamos melhora na carteira de aviação comercial em 2013 e 2014, com pedidos menores de economias emergentes no curto prazo e maiores encomendas dos Estados Unidos", afirma relatório da equipe de Renato Mimica. Os analistas esperam o lançamento de jatos na Paris Air Show e afirmam que não ficariam surpresos com novas ordens de compra.

As perspectivas positivas, dizem, estão baseadas nas estimativas da própria empresa. Em entrevista recente ao Valor, o presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, disse que a companhia acumula encomendas de 119 aviões comerciais em 2013, dos quais 117 vêm do mercado americano. O volume dos jatos comerciais até agora é sete vezes maior do que o número de encomendas recebidas no primeiro semestre do ano passado.

Os fundamentos da companhia continuam fortes, na opinião da equipe de análise do BofA. A visão positiva do banco reflete também a expectativa de novas encomendas dos Estados Unidos, os benefícios com o câmbio acima de R$ 2 e os incentivos fiscais do governo brasileiro.

Tais eventos, conjugados, devem suportar as margens da Embraer. Além disso, a instituição afirma que a carteira de pedidos está aumentando a confiança na recuperação da empresa. O BofA reiterou no início do mês a sua recomendação de compra para as ações da Embraer, com preço-alvo de US$ 42, equivalente a um potencial de ganho próximo de 15%.

O quadro positivo gira em torno ainda da melhora da taxa de entrega em relação à carteira de pedidos da empresa (book-to-bill) na aviação comercial e do forte impulso na receita do segmento de defesa. Pelas contas do BofA, a Embraer entregou de 17 a 21 aviões em maio, levando em consideração os dados da balança comercial, e nos dois últimos meses as entregas teriam somado 29 jatos – o que significa que faltariam apenas 17 unidades para cumprir a meta de 46 no trimestre.

"Nós continuamos otimistas com as encomendas da Embraer. Após o anúncio da Republic Airways, da SkyWest e da Sierra Nevada, acreditamos que pode haver mais por vir", afirmaram os analistas Ronald J. Epstein, Sara Delfim e Elizabeth Grenfell,

em relatório recente.

A grande expectativa de ordens dos Estados Unidos, sobretudo pela United Continental e pela American Airlines, é compartilhada pelo Deutsche Bank.

Em relatório, o banco afirma que a administração da Embraer já deu sinais de confiança em um possível anúncio nos próximos meses. O preço-alvo definido pelo banco para os papéis da empresa é de US$ 41, correspondente a um potencial de alta próximo a 12%. A recomendação dos analistas é de compra.

Visão diferente têm os analistas do J.P. Morgan e do Citi em relação à Embraer. Os primeiros compartilham da opinião de que a companhia, de fato, pode ter mais encomendas de empresas americanas, mas pondera que a alta concentração da carteira representa riscos. As encomendas de jatos executivos continuam encolhendo, com os preços das aeronaves sob pressão, e as entregas dos primeiros Legacys 500 e 450 estão sendo postergadas, diz o J.P em relatório. "Neste ano, a geração de caixa deve ser excepcionalmente fraca pelo terceiro ano consecutivo." A recomendação da casa é de venda para os papéis, com preço-alvo de US$ 32 – o que indica um potencial de queda de aproximadamente 12%.

No caso do Citi, um ponto destacado é que os múltiplos da companhia subiram e a qualidade da carteira de pedidos diminuiu. A instituição também tem recomendação de venda para as ações, com preço-alvo de US$ 30, equivalente a uma perda potencial de quase 18%. "A Embraer está cara por ser negociada a um múltiplo de 0,5 vez o valor da companhia [enterprise value] pela carteira de pedidos, enquanto os demais pares do setor são negociados em média a 0,2 vez."

As grandes concorrentes são a Bombardier e a Airbus. "Essa situação persiste mesmo com a Embraer sendo a única empresa do segmento que registrou grandes quedas na carteira de pedidos em vários anos e a única a indicar uma redução nas entregas de aviões em 2013", afirmou a equipe do analista Stephen Trent, do Citi. "Embora o fluxo de pedidos por jatos comerciais seja provável, oferecendo oportunidades de negociação no curto prazo, a geração de margens e de receita poderá decepcionar à medida que a qualidade da carteira de pedidos cair."

A agência de classificação de riscos Standard & Poor"s (S&P) elevou os ratings da Embraer de "BBB-" para "BBB", com perspectiva estável, nesta semana. A S&P avalia que a empresa tem conseguido compensar os impactos de caixa derivados das renegociações com clientes e, ao mesmo tempo, manter uma liquidez "excepcional". "A Embraer continua a apresentar fortes métricas financeiras e melhor posição de negócios, resultantes de maior diversificação e portfólio competitivo de produtos."

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