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O nosso vulcão-problema

Larissa Veloso

Em seis dias de atividade do vulcão Puyehue, no sul do Chile, os voos cancelados nos aeroportos brasileiros passavam de 200, conforme balanço da Infraero. A nuvem de cinzas expelida pelo vulcão a uma altura de 12 quilômetros foi carregada pelo vento nas direções leste e nordeste (veja quadro a seguir). Partículas foram detectadas no Rio Grande do Sul na terça-feira 7, e aeroportos do Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai foram fechados, num raio de até 2,3 mil quilômetros de distância da cratera. Mais uma vez, a natureza demonstra força e nos coloca à sua mercê.

Composta de gases tóxicos e partículas de sílica, material semelhante ao vidro, as cinzas podem facilmente danificar os aviões comerciais. Caso entrem nas turbinas das aeronaves, o risco é de que o material derreta e impeça o funcionamento dos motores. Além disso, de acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes da Aeronáutica (Cenipa), a nuvem pode prejudicar a visibilidade dos pilotos durante o voo. Em nota, a instituição esclareceu que está monitorando o avanço das cinzas junto ao escritório argentino da organização internacional Volcanic Ash Advisory Centers, responsável pelo acompanhamento desse tipo de situação.

Segundo o professor Antonio José Ranalli Nardy, especialista em rochas vulcânicas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a distância percorrida pelas cinzas está ligada às características do Puyehue. “Esse vulcão é do tipo explosivo. Gera uma coluna de fumaça que pode chegar facilmente a 20 quilômetros de altura. Como são pouco densas, essas partículas são carregadas pelo vento em qualquer direção”, explica.

O episódio lembra os ocorridos na Islândia em abril de 2010 e no mês passado. Na última ocorrência, o Grimsvötn, vulcão mais ativo do país, cuspiu cinzas durante nove dias, gerando interdições parciais em aeroportos do Reino Unido, da Alemanha, Dinamarca e Islândia. No ano passado, o Eyjafjöll foi responsável pela maior interdição do espaço aéreo já ocorrida na Europa. Mais de 100 mil voos foram cancelados, afetando mais de oito milhões de pessoas.

Voltando à América Latina, apesar de a fumaça continuar se espalhando, a atividade do vulcão diminuiu de intensidade já na quarta-feira 8. Mesmo assim, ainda não é possível prever o fim da história. “A erupção pode durar meses ou até anos, embora isso seja raro. O que sabemos pela história do Puyehue é que se trata de uma estrutura explosiva e perigosa”, afirma a vulcanóloga brasileira a serviço da Nasa, dra. Rosaly Lopes.

Os vulcões classificados como explosivos estão entre os mais nocivos do mundo, pois podem soltar grandes quantidades de material flamejante de uma só vez. Apesar disso, os especialistas acreditam que os impactos do Puyehue sejam pequenos se comparados a outros eventos históricos. “Esta erupção tem índice de explosão 3 em uma escala de 0 a 8. Outras, como a de 18 de maio de 1980, do Mon­te Santa Helena (nos EUA), e a de 1883 do Krakatoa (na Ilha de Java), atingiram índice 6”, compara Nardy. Mesmo assim, o nível 3 de atividade vulcânica já foi suficiente para causar prejuízos a cinco países. O que prova que, quando o assunto são os fenômenos naturais, pouco importa se a batata quente está com o país vizinho.

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