Em todas as regiões do País, militares da FAB trabalham para prevenir e investigar acidentes

Ten Emilia Maria

Três profissionais: essa é a formação básica de uma Comissão de Investigação de Acidentes Aeronáuticos. Em casos mais complexos, a Comissão pode ser formada por diversos especialistas, como pilotos, engenheiros, psicólogos, controladores de tráfego aéreo e mecânicos, que trabalham para chegar às causas do ocorrido e prevenir outros acidentes.

Esse é o grande objetivo do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), sediado em Brasília (DF), e dos Serviços Regionais de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA), localizados por todo o Brasil.

Os profissionais trabalham na identificação dos fatores contribuintes presentes, direta ou indiretamente, na ocorrência e na emissão de Recomendações de Segurança (RS) que possibilitem a ação direta ou tomada de decisões que eliminem aqueles fatores ou minimizem as suas consequências.

Veja o depoimento de alguns dos profissionais que integram Comissões de Investigação:

Coronel Médica Gisele Leite L’Abbate: “Trabalhar em uma investigação de acidentes aeronáuticos, além de ser motivo de muita responsabilidade, é uma oportunidade singular de integrar a medicina e a aviação em prol de um propósito comum e maior: o compromisso com a vida. É um trabalho em equipe, onde cada parte é importante, e o resultado final só se constrói com o empenho de cada um”.

Tenente Engenheiro Aeronáutico Ricardo Maia Senna Delgado: “O trabalho de um engenheiro em uma comissão de investigação de acidentes aeronáuticos é algo certamente motivante e desafiador. Cada ocorrência possui características próprias, exigindo muita dedicação e horas de estudos. Porém, o resultado final sempre traz grande satisfação em contribuir para a segurança da aviação”.

Tenente Psicóloga Camila Ferrari de Almeida: “Uma das principais atuações do psicólogo envolve atividades promocionais e educativas de prevenção e de investigação de ocorrências aeronáuticas no âmbito dos Fatores Humanos. Assumimos, portanto, um compromisso ético com a sociedade, pois o produto do nosso trabalho reflete na segurança e eficiência do transporte aéreo brasileiro, benefício evidente para clientes e usuários desse serviço. Além disso, fomenta a qualidade de vida no trabalho para os profissionais que se dedicam a esta atividade. Impactar positivamente na vida de tantas pessoas é motivo de muito orgulho”.

Major Aviador Thiago Alexandre Lírio: “Poder contribuir para que esse sistema seja mais eficiente, mais eficaz e, acima de tudo, mais seguro é uma grande satisfação e motivo de orgulho na minha carreira. Trabalho na área desde 2003 e tenho certeza que o trabalho que desenvolvemos no CENIPA é de muita relevância para a sociedade brasileira como um todo e até para o mundo. Por meio da prevenção, tornamos o sistema mais seguro e, mediante a investigação de acidentes, podemos dar respostas à sociedade – no caso da perda de entes queridos – e também aprendemos, mitigando riscos na atividade aérea”.


Formação básica da Comissão de Investigação

– Investigador-Encarregado: Responsável pela organização, condução e controle da investigação, de acordo com a legislação em vigor. Pode acumular a função responsável pelo fator operacional.

– Fator Operacional: Área responsável pela investigação de aspectos referentes ao desempenho do ser humano na atividade relacionada com o voo. Inclui as seguintes áreas: meteorologia, infraestrutura, instrução, manutenção, aplicação dos comandos da aeronave, tráfego aéreo, coordenação de cabine, julgamento da tripulação, deficiência de pessoal, deficiência de planejamento, deficiência de supervisão, indisciplina de voo, influência do meio ambiente e experiência de voo na aeronave, entre outros.

– Fator Material: Área responsável pela abordagem da segurança de voo que se refere à aeronave nos seus aspectos de projeto, fabricação e de manuseio de material. Não inclui os serviços de manutenção de aeronave.

– Fator Humano – Aspectos médico e psicológico: Área responsável pela abordagem da segurança de voo em relação ao complexo biológico do ser humano, nos aspectos fisiológicos e psicológicos que possam ter refletido nas ações da tripulação e demais pessoas envolvidas no acidente, servindo para clarificar a sequência dos acontecimentos na ocorrência.

Todos devem ser profissionais credenciados pelo Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER).

Etapas da Investigação:

Coleta de Dados: Ação Inicial das equipes de militares especializados que consiste na coleta de dados. Para isso, analisa os destroços, busca indícios de falhas, levanta hipóteses sobre performance da aeronave nos momentos finais do voo, fotografa detalhes, entrevista testemunhas e retira partes da aeronave para análise.

Análise de Dados: Fase em que os dados coletados são analisados, estabelecendo relações que levarão em conta diversos fatores contribuintes, sejam materiais (sistemas da aeronave e projeto), humanos (aspectos médicos e psicológicos) ou operacionais (rota, meteorologia entre outros). Ao longo dos trabalhos, outros profissionais (pilotos, engenheiros, médicos, psicólogos, mecânicos) poderão se integrar à comissão, conferindo um caráter multidisciplinar.

Apresentação dos Resultados: O resultado da investigação é divulgado somente após a conclusão do Relatório Final, que é publicado no site do CENIPA[Link]. Ele identifica os fatores que contribuíram para o acidente e elabora as respectivas recomendações de segurança, de forma a tornar a aviação mais segura no Brasil e no mundo.

SERIPA V promove curso de prevenção de acidentes aeronáuticos¹

O Quinto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA V), localizado em Canoas (RS) e com atuação em toda a região sul, em conjunto com o Centro Nacional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, realiza, até o dia 10 de agosto, a oitava edição do Curso de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos – Aeroagrícola (CPAA-AG).

O objetivo é transmitir os conhecimentos básicos necessários ao desenvolvimento das atividades de prevenção de acidentes aeronáuticos nas empresas e organizações da aviação agrícola, além de promover o conceito de que a prevenção de acidentes depende da gestão profissional e do gerenciamento do risco.

"A nossa preocupação é em prevenir, essa é a essência da segurança de voo. Não queremos que os acidentes aconteçam e não queremos perder vidas. É muito triste perdermos vidas por motivos que poderiam ser evitados, como falta de planejamento, de engajamento e de responsabilidade. Esse curso busca provocar o engajamento, a responsabilidade e multiplicar o conhecimento para que os senhores e senhoras possam voar cada vez mais, melhor e com mais segurança”, destacou o Comandante da Ala 3, Brigadeiro do Ar Arnaldo Silva Lima Filho, durante a cerimônia de abertura, realizada na segunda-feira (30).

Participam do curso pilotos e profissionais da aviação agrícola do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Pará. São duas semanas de aulas integrais com corpo docente da Força Aérea Brasileira (FAB) da área operacional, investigativa, médica, psicológica e jurídica, além de parceiros como a Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC), Embraer, Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica (PUC), BR Aviation e escolas e centros de treinamento de aviação agrícola.

No programa, são abordados assuntos como aspectos médicos e psicológicos, gerenciamento do risco, manutenção de aeronaves, vistoria de segurança de voo, planejamento operacional, combustíveis e lubrificantes, sobrecarga autoprovocada, manuseio de agrotóxicos, entre outros.

De acordo com o Secretário Executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (SINDAG), Junior Oliveira, no Brasil são 2.115 aeronaves agrícolas em atividade, trabalhando em 72 milhões de hectares com diversas culturas. "A cana de açúcar, por exemplo, necessita da aviação agrícola para o seu cultivo, movimenta até 62 bilhões de reais em atividade econômica no país e gera um milhão de empregos. Portanto, nós do SINDAG, enxergamos a qualificação e cursos como este de extrema importância e fazemos questão de sermos parceiros e parabenizarmos o SERIPA V e o CENIPA pela iniciativa”, concluiu.

¹ por Tenentes Fabiana Cintra João Elias e Capitão Oliveira

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