“Vitória” russa em Mariupol transforma sonhos da cidade em escombros

Nos anos que antecederam a invasão russa da Ucrânia, a cidade portuária de Mariupol passava por uma renovação.

Mais de 600 milhões de dólares foram investidos em novas ruas, um hospital infantil, e novos parques para modernizar a cidade majoritariamente russófona como parte de uma campanha para demonstrar os benefícios de uma Ucrânia mais voltada ao Ocidente, após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.

"Nós vivíamos bem, felizes", disse Maria Danylova, de 24 anos, que havia se mudado para um apartamento novo na cidade em agosto do ano passado, depois de se casar.

Como muitos de sua família, ela trabalha para a gigante siderúrgica Metinvest, que investiu mais de 2 bilhões de dólares em duas unidades em Mariupol desde 2014.

"Era uma cidade livre em desenvolvimento, e que oferecia tudo que queríamos", disse, relembrando caminhadas nos finais de semanas com seus pais na orla restaurada da cidade.

Hoje, após dois meses de bombardeios, a cidade está em ruínas, e as ruas estão cheias de túmulos improvisados.

Em cada rua é possível ver prédios de apartamentos bombardeados, escurecidos pela fumaça. Veículos militares destruídos estão entre os escombros. Acredita-se que milhares de pessoas tenham morrido nos ataques.

Mariupol é um prêmio estratégico para a Rússia, e reforça seu acesso à península da Crimeia anexada, através de territórios controlados por separatistas favoráveis às forças russas.

Mas a intensidade do cerco danificou quase metade da cidade industrial para além da possibilidade de restauração, de acordo com as autoridades locais.

Os combates também paralisaram o trabalho nas várias instalações siderúrgicas da cidade, uma delas inclusive se tornou o último reduto das tropas ucranianas no local.

"Tudo que foi investido (em Mariupol) foi destruído", disse o ministro ucraniano de Infraestrutura, Oleksander Kubrakov, à Reuters.

Cercada por colunas de fumaça, a cidade de aço no Mar de Azov já foi sinônimo de poluição e da decadência industrial pós-soviética.

Seu destino mudou em 2014, com o início dos conflitos com os separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia. Controlada pelos rebeldes por um breve período, Mariupol foi recapturada pelas forças ucranianas, e se tornou a maior cidade na região do Donbass, no leste do país, sob o controle de Kiev.

Mais de 100 mil pessoas deixaram territórios separatistas na região para fazer uma nova vida em Mariupol, e as autoridades locais iniciaram um plano de revitalizar a cidade.

Rússia relata explosões no sul, Ucrânia chama de vingança por invasão

A Rússia relatou uma série de explosões no sul do país e um incêndio em um depósito de munição nesta quarta-feira, o último de uma série de incidentes que um alto funcionário ucraniano descreveu como vingança e "carma" pela invasão do país feita por Moscou.

Sem admitir diretamente que a Ucrânia foi responsável, o conselheiro presidencial Mykhailo Podolyak disse que era natural que as regiões russas onde o combustível e as armas são armazenados estivessem aprendendo sobre a "desmilitarização".

O uso dessa palavra foi uma referência pontual ao objetivo declarado de Moscou para a guerra de nove semanas na Ucrânia, que ela chama de uma operação militar especial para desarmar e "desnazificar" seu vizinho.

"Se vocês (russos) decidirem atacar massivamente outro país, matar massivamente todos lá, esmagar massivamente pessoas pacíficas com tanques, e usar armazéns em suas regiões para permitir as mortes, então mais cedo ou mais tarde as dívidas terão que ser pagas", disse Podolyak.

As explosões nesta quarta seguiram-se a um grande incêndio esta semana em uma instalação russa de armazenamento de petróleo na região de Bryansk, perto da fronteira.

No início deste mês, a Rússia acusou a Ucrânia de atacar um depósito de combustível em Belgorod com helicópteros, o que um alto funcionário da segurança de Kiev negou, e de abrir fogo contra várias vilas da província.

Os incidentes expuseram vulnerabilidades russas em áreas próximas à Ucrânia que são vitais para suas cadeias logísticas militares

O 'CARMA É CRUEL'

Nos últimos incidentes, o governador regional de Belgorod, Vyacheslav Gladkov, disse que um incêndio em um depósito de munição havia sido extinto e que nenhum civil havia sido ferido.

Roman Starovoyt, o governador de Kursk, outra província que faz fronteira com a Ucrânia, disse que também haviam sido ouvidas explosões na cidade de Kursk no início da quarta-feira e que, muito provavelmente, os sons dos sistemas de defesa aérea estavam disparando.

Mais tarde ele disse que um veículo aéreo ucraniano não tripulado foi interceptado no céu sobre a região de Kursk, acrescentando que não houve vítimas ou danos.

Em Voronezh, o centro administrativo de outra província do sul, a agência de notícias Tass citou um funcionário do Ministério de Emergências dizendo que duas explosões haviam sido ouvidas e que as autoridades estavam investigando.

O governador regional Alexander Gusev disse pela manhã que um sistema de defesa aérea havia detectado e destruído um pequeno drone de reconhecimento.

A Rússia disse que estava enviando investigadores para as regiões de Kursk e Voronezh para documentar o que chama de "ações ilegais do Exército ucraniano".

Podolyak disse que não era possível "ficar de fora" da invasão russa. "E, portanto, o desarmamento dos armazéns dos assassinos de Belgorod e Voronezh é um processo absolutamente natural. O carma é uma coisa cruel", disse.

Moscou cita risco de guerra nuclear; EUA e aliados prometem mais armas à Ucrânia

A Rússia acusou a aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de se envolver em uma batalha por procuração que criou um sério risco de guerra nuclear, ao mesmo tempo em que Washington reuniu seus aliados nesta terça-feira em uma base aérea alemã para prometer as armas pesadas de que a Ucrânia precisa para alcançar a vitória.

Com as forças russas sendo forçadas a voltar de Kiev e agora tentando um novo avanço no leste da Ucrânia, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, recebeu autoridades de mais de 40 países em Ramstein, sede do poder aéreo dos EUA na Europa.

"Como vemos esta manhã, nações de todo o mundo estão unidas em nossa determinação de apoiar a Ucrânia em sua luta contra a agressão imperial da Rússia", disse Austin. "A Ucrânia claramente acredita que pode vencer, assim como todos aqui."

Em uma escalada da retórica russa, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, foi questionado na TV estatal sobre perspectiva da Terceira Guerra Mundial e se a situação atual era comparável à crise dos mísseis cubanos de 1962, que quase causou uma guerra nuclear.

"Os riscos agora são consideráveis", disse Lavrov, de acordo com a transcrição da entrevista feita pelo ministério.

"O perigo é sério, real. E não devemos subestimá-lo", afirmou Lavrov. "A OTAN, em essência, está engajada em uma guerra por procuração com a Rússia e está armando esse representante. Guerra significa guerra."

Autoridades dos EUA mudaram a ênfase nesta semana para falar de uma vitória ucraniana que seria um golpe na capacidade da Rússia de ameaçar vizinhos no futuro.

Austin, que visitou Kiev junto com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, no domingo, disse na segunda-feira: "Queremos ver a Rússia enfraquecida a ponto de não poder fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Ucrânia".

O presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mark Milley, voando para a reunião de terça-feira, afirmou a repórteres que as próximas semanas na Ucrânia serão "muito, muito críticas".

"Eles precisam de apoio contínuo para serem bem-sucedidos no campo de batalha. E esse é realmente o objetivo desta conferência."

O objetivo seria coordenar a ajuda que inclui armas pesadas, como artilharia obus, bem como drones letais e munição, disse o general Milley.

"BRAVATA"

Kiev e seus aliados minimizaram os comentários de Lavrov sobre guerra nuclear.

A Rússia perdeu sua "última esperança de assustar o mundo", tuitou o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, após a entrevista de Lavrov. "Isso significa apenas que Moscou sente a derrota."

O ministro britânico de Serviços Armados, James Heappey, chamou as observações de Lavrov de um exemplo de "bravata" que se tornou a "marca registrada" do ministro das Relações Exteriores da Rússia.

"Não acho que agora haja uma ameaça iminente de escalada", disse Heappey à BBC Television.

 

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