Ucrânia e EUA afirmam que intenso ataque russo em Donbass está prestes a começar

Enquanto as tropas russas continuam o cerco a Mariupol, no sul da Ucrânia, a tensão sobe na região de Donbass, no leste. Segundo autoridades ucranianas e americanas, uma imensa ofensiva será lançada em breve nesta que é considerada a região primordial para Moscou tomar o controle.

"O inimigo quase terminou os preparativos para a invasão do leste. O ataque ocorrerá em pouco tempo", advertiu o porta-voz do Ministério da Defesa da Ucrânia, Oleksandre Motouzianik. No local, principalmente em cidades que fazem fronteira com a Rússia, tropas ucranianas e separatistas pró-russos combatem desde 2014.

No Facebook, o exército ucraniano indicou que o exército russo prevê ofensivas em localidades como Popasna e Kurakhove para "tomar a totalidade da região de Donetsk", uma das províncias do Donbass. Em Washington, uma fonte do Pentágono confirmou que as forças da Rússia estão se preparando também nas proximidades da cidade de Izium.

"A batalha em Donetsk e Lugansk é um momento crucial da guerra", declarou Andriï Yermak, o chefe do gabinete do presidente russo, Volodymyr Zelesnky, no Telegram. Na mesma linha, o governador ucraniano de Lugansk, Serguii Gaidai, disse que o cenário de devastação e violência de Mariupol, no sul, pode se repetir no leste.

"A batalha por Donbass vai durar vários dias, durante os quais nossas cidades poderão ser completamente destruídas", publicou ele, no Facebook. Gaidai voltou a fazer um novo apelo para que os moradores deixem urgentemente a região.

Segundo as autoridades locais, a maioria dos civis vem obedecendo as recomendações. As cidades do leste da Ucrânia se esvaziaram rapidamente nos últimos dias, na iminência dos ataques. Ao menos outros seis trens devem sair hoje de Lugansk e Donetsk, transportando cidadãos para outras áreas mais seguras.

Putin quer "garantir a segurança da Rússia" e salvar ucranianos

Em visita a Vostochny, no leste da Rússia, o presidente Vladimir Putin saudou, nesta terça-feira (12), a luta "corajosa, profissional e eficaz" dos soldados que "participam da operação militar especial no Donbass".

Segundo ele, essa ofensiva é necessária e inevitável para "garantir a segurança da Rússia", diante de uma Ucrânia "que começou a ser transformada em um reduto anti-Rússia, para cultivar o nacionalismo e o neonazismo".

Citado pelas agências estatais de notícias da Rússia, o presidente afirmou que o exército irá "atingir seus nobres objetivos". Putin também declarou que a operação tem como meta principal "salvar" a população do leste da Ucrânia. "Está claro que não tínhamos outra escolha.

Essa foi a boa decisão", disse. Especialistas acreditam que, face à inesperada resistência dos ucranianos, Putin quer obter uma vitória a todo custo no leste. O fim dos ataques na região do Donbass já teria até um prazo: dia 9 de maio, quando um imenso desfile militar na Praça Vermelha, em Moscou, lembra o triunfo soviético sobre as tropas nazistas na Segunda Guerra Mundial.

Russos deixam rastro de destruição em Borodianka¹

A destruição de áreas residenciais em Borodianka é visivelmente maior do que em outras localidades ao redor de Kiev. Logo no início da invasão russa, no final de fevereiro, o pequeno município de 13 mil habitantes localizado a cerca de 50 quilômetros da capital da Ucrânia passou a ser palco de intensos combates.

No início de abril, Borodianka foi libertada das tropas russas. Autoridades ucranianas organizaram então uma excursão até a cidade para jornalistas da imprensa internacional, incluindo a DW, para mostrar as consequências destes combates e da ocupação russa.

Na cidade, as ruas estão praticamente vazias, devido ao toque de recolher ainda em vigor imposto em toda a região. No centro, onde havia casas, prédios do governo, cafés e restaurantes, restam muitas ruínas, resultado dos bombardeios e ataques russos. Árvores caídas e veículos queimados bloqueiam as ruas.

De acordo com Petro Kisiljow, da defesa civil ucraniana, mais de 90% do centro de Borodianka foi destruído. O inventário da situação, no entanto, ainda não foi concluído. A equipe de Kisiljow remove agora os escombros. Ele ressalta que na cidade não havia quartel das tropas ucranianas e nem instalações militares de importância estratégica.

"As tropas russas simplesmente agiram de forma bárbara contra os civis", afirma. Ao longo da principal rua da cidade, restam apenas escombros e cinzas de uma dúzia de prédios residenciais. Moradores relataram à DW que, desde o início, caças russos voando baixo jogaram bombas nesses edifícios.

"Militarmente isso não faz sentido algum", enfatiza Anton Herachtchenko, assessor do Ministério do Interior da Ucrânia, que acompanhou os jornalistas na visita. "Os pilotos russos bombardearam indiscriminadamente".

Escombros transformados em valas comuns

"Uma das maiores tragédias da Ucrânia", disse o ministro do Interior ucraniano Denys Monastriskij, sobre o ataque em Borodianka, que, segundo ele, foi uma das localidades na região de Kiev que mais sofreu durante a ocupação russa. De acordo com o ministro, corpos ainda devem estar no meio dos escombros.

"Há um mês, equipes de resgate tentaram remover os escombros, mas foram atacadas pelos inimigos", afirmou Monastriskij, acrescentando que, naquele momento, ainda era possível resgatar os soterrados com vida. Todas as tentativas de resgate fracassaram sob fogo russo e, por fim, os voluntários ucranianos não tiveram mais acesso aos prédios destruídos.

O ministro disse ainda que as operações de busca e resgate só puderam ser retomadas após a libertação de Borodianka no início de abril. "Sabemos que não encontraremos mais sobreviventes nos escombros.

Este é outro crime contra a humanidade cometido deliberadamente pelas tropas russas, pois aqui não havia quartel ou equipamentos militares, somente casas e um jardim de infância", enfatiza. Herachtchenko acrescenta que os escombros se tornaram efetivamente valas comuns para muitos ucranianos.

Sem segurança nos abrigos antiaéreos

"Ao ver um avião, o único quer era possível fazer era se deitar e rezar para não ser atingido por uma bomba", conta Olha, que vive em Borodianka. Depois que um prédio de nove andares ameaçou desabar após os ataques, os moradores foram evacuados de ônibus para outros locais na região.

"As pessoas estavam muito assustadas. Os abrigos antiaéreos não eram uma salvação, pois com a destruição das construções, as pessoas acabaram enterradas nos porões. Isso foi muito ruim", acrescenta.

Ela conta que combates tão grandes como esses ela só tinha visto em filmes. "A guerra é algo muito terrível. Continuei rezando pela paz, para que não houvesse mais troca de tiros. Tudo isso é horrível. Eu estava constantemente preocupada, tensa e em choque. Espero que a guerra nunca mais volte para Borodianka", diz Olha.

¹com Deutsche Welle

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