Forças ucranianas retomam controle de subúrbio de Kiev e Grupo Wagner vai para o leste

As forças ucranianas retomaram um importante subúrbio de Kiev e estão lutando para manter o controle do porto sitiado de Mariupol. Em Istambul, representantes da Ucrânia e da Rússia voltam a se reunir nesta terça-feira (29) para a sequência das negociações.

As tropas "libertaram" a cidade de Irpin, um importante ponto de acesso a Kiev, disse o ministro do Interior ucraniano, Denys Monastyrsky.

No entanto, houve fortes bombardeios ??na região provocando a fuga de habitantes, que relataram cenas horríveis de bombas e pessoas sendo assassinadas a sangue frio tentando deixar o local.

"Vimos veículos tentando sair, foram esmagados por tanques com pessoas dentro", disse Roman Molchanov, de 55 anos, com a voz embargada de emoção. Sua irmã acrescentou que os russos "mataram pessoas sentadas em seus carros".

Analistas ocidentais chamaram a perda de Irpin de um grande golpe para as forças russas que buscam se reagrupar após uma tentativa fracassada de cercar a capital.

Há mais de um mês desde os tanques do presidente russo, Vladimir Putin, entraram na Ucrânia na esperança de enfraquecer ou derrubar o governo democrático de Kiev.

Os combates deixaram cerca de 20 mil mortos e forçaram mais de 10 milhões de pessoas a fugir de suas casas. Diante disso, a perspectiva de um fim pacífico da guerra, ou a vitória de uma das partes, parece distante.

Ainda assim, os negociadores ucranianos e russos devem retomar as negociações de paz em Istambul, na Turquia, nesta terça-feira. O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, indicou que as negociações em Istambul se concentrariam em melhorar a situação humanitária, embora tenha dado a entender que está cético quanto ao resultado.

"Se virmos que o tom mudou e que eles estão prontos para uma conversa séria e substantiva e um acordo equilibrado, então as coisas vão avançar", disse Kuleba. "Mas se for uma repetição de sua propaganda, as negociações fracassarão”, disse ele.

Status de neutralidade

Putin justificou a invasão da Ucrânia para realizar a "desmilitarização" e "desnazificação" do país, e agora pede a imposição de um status de neutralidade e o reconhecimento de que as regiões de Donbass e a Crimeia não fazem mais parte desta ex-república soviética.

Kuleba indicou que há pouco espaço para um acordo sobre esse tema: "Não estamos negociando pessoas, terras ou soberania. Nossa posição é firme".

Capturar Kiev

As autoridades ucranianas ainda acreditam que a Rússia quer tomar Kiev e descartam a ideia de que o Kremlin se concentrará na região leste de Donbass.

“Capturar Kiev é equivalente a capturar a Ucrânia, e esse é o objetivo deles", disse a vice-ministra da Defesa ucraniana, Ganna Malyar, que insistiu que a Rússia "está tentando romper o corredor ao redor de Kiev e bloquear as rotas de transporte".

Na segunda-feira (28), ataques russos perto de Kiev deixaram mais de 80 mil casas sem energia, disseram autoridades, reiterando o perigo que a cidade ainda enfrenta.

Corpos nas ruas em Mariupol

As forças ucranianas contra-atacam no norte enquanto lutam para manter o controle da cidade de Mariupol, no sul. As tropas russas cercaram este porto estratégico e continuam a bombardeá-lo, mantendo cerca de 160 mil pessoas com pouca comida, água ou remédios.

Pelo menos 5 mil pessoas foram mortas de acordo com um alto funcionário ucraniano, que estima que o número real de mortos pode chegar a 100 mil.

"Os enterros foram suspensos há 10 dias devido ao bombardeio contínuo", disse Tetyana Lomakina, assessora presidencial encarregada dos corredores humanitários. Por sua vez, a vereadora Kateryna Sukhomlynova disse que há corpos nas ruas e que os moradores estão amontoados em porões onde comem neve para se manterem hidratados.

O Ministério das Relações Exteriores ucraniano descreveu a situação de Mariupol como "catastrófica" e indicou que os ataques russo por terra, ar e mar "reduziram a pó" uma cidade que já teve 450 mil habitantes. França, Grécia e Turquia esperam iniciar a retirada em massa de civis de Mariupol nos próximos dias, de acordo com o presidente francês Emmanuel Macron, que busca o apoio de Putin.

Potências ocidentais disseram ter evidências de crimes de guerra, que estão sendo investigados pelo Tribunal Penal Internacional. A procuradora-geral ucraniana, Iryna Venediktova, disse que há evidências de que as forças russas usaram bombas de fragmentação – proibidas em 2010 por uma convenção internacional – nas áreas do sul de Odessa e Kherson.

Grupo Wagner, milícia privada russa

O Ministério da Defesa britânico revelou que a empresa paramilitar privada russa Wagner está indo para o leste da Ucrânia, onde "espera enviar mais de 1.000 mercenários, incluindo altos dirigentes da organização, para assumir as operações de combate".

Considerado próximo de Putin, o grupo Wagner e seus mercenários foram acusados ??de abusos no Mali, na Líbia e na Síria.

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O presidente dos EUA, Joe Biden, expressou "indignação moral" com a guerra e provocou polêmica ao sugerir que Putin "não pode permanecer no poder". Mais tarde, ele esclareceu que não está buscando uma mudança de regime e minimizou as preocupações de que seus comentários tenham agravado as tensões com o líder russo.

Kiev registra € 500 bi de prejuízos e 87% dos russos estão preocupados com crise

O governo ucraniano afirmou nesta segunda-feira (28) que a guerra resultou em perdas econômicas de mais de € 500 bilhões ao país. Do outro lado do front, cidadãos russos enfrentam aumento da inflação e começam a estocar produtos básicos.

A ministra da Economia e vice-primeira-ministra da Ucrânia, Ioulia Sviridenko, anunciou no Facebook que desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, Kiev registrou € 515,8 bilhões de prejuízos.

Segundo ela, esses são "efeitos diretos das destruições", que resultaram, também, na explosão do desemprego, na forte diminuição do poder aquisitivo e na baixa das receitas do Estado.

No entanto, Sviridenko explicou que as maiores perdas dizem respeito à infraestrutura, com "cerca de oito mil quilômetros de estradas prejudicadas ou destruídas", além de "dezenas de estações e aeroportos", um montante de € 108,5 bilhões.

Segundo ela, em um mês de guerra, dez milhões de metros quadrados de imóveis e 200 mil veículos foram dizimados. A ministra indicou que o Produto Interno Bruto (PIB) da Ucrânia deve registrar uma queda de € 102 bilhões em 2022, uma contração de mais de 55% da economia do país, em relação a 2021.

Já o orçamento do Estado deve ser amputado de € 43,8 bilhões, diminuindo 90% do montante previsto para esse ano. "A cada dia os números mudam e, infelizmente, os prejuízos aumentam", declarou Sviridenko. Segundo ela, Kiev deve exigir do "agressor" uma compensação financeira, "seja por decisões da justiça ou transferindo diretamente ao Estado os ativos russos congelados na Ucrânia".

Russos preocupados com crise econômica

Não apenas os ucranianos sofrem com as consequências da guerra. Segundo uma pesquisa do instituto Ipsos, 87% dos cidadãos russos dizem estar preocupados com a economia do país.

O número é inédito, desde que a instituição realiza sondagens na Rússia, há 14 anos. A queda do rublo e o aumento dos juros deixaram a população em alerta, principalmente em relação aos produtos importados. Comprar um par de tênis está 20% mais caro, material médico novo, entre 30% e 40%.

Alimentos industrializados para bebês dobraram de preço, e as fraldas viram seu valor triplicar. Antes do início da guerra na Ucrânia, a inflação estava em 7%, mas deu um salto de 20% em apenas um mês.

O resultado é que os russos estão estocando produtos básicos, como açúcar e farinha. Não é à toa que, segundo a pesquisa do instituto Ipsos, os russos estão pessimistas em relação ao futuro.

Dois terços da população acreditam que a crise econômica deve durar cerca de dois anos. Um quarto dos cidadãos apostam que a situação se estenderá para além dos cinco anos.

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