Ataques no Chile refletem guinada perigosa em direção ao terrorismo

Brenda Fiegel,
Escritório de Estudos Militares Estrangeiros,
Fort Leavenworth, KS


Desde 2005, grupos anarquistas detonaram artefatos explosivos em zonas não povoadas do Chile nas últimas horas da noite em pelo menos 198 ocasiões, de acordo com o jornal espanhol El País.

Devido ao horário e à ausência de civis no momento dos ataques, não foram registrados feridos. Mas recentes atentados realizados em julho e setembro de 2014 saíram do padrão original: ocorreram na Estação de Metrô de Santiago, um sistema de transporte público usado por cerca de 2.500.000 pessoas por dia.

E, embora não tenham provocado vítimas fatais, deixaram claro que células extremistas de grupos anarquistas têm disposição e capacidade para realizar ataques terroristas em grande escala a fim de deixar múltiplos feridos a qualquer hora do dia.

Os ataques de 2014

Em 13 de julho de 2014, o último vagão de metrô da noite chegava à estação Los Dominicos do Metrô de Santiago. Conforme o protocolo, um funcionário do metrô começou a vistoriar os vagões, um a um, para se certificar de que estavam vazios. Uma mochila foi encontrada debaixo de um assento do primeiro vagão.

A mochila continha um extintor de incêndio cheio de pólvora e um relógio conectado com fios ao dispositivo. O incidente foi imediatamente informado à segurança do metrô e à polícia. Em resposta à ameaça, a plataforma do metrô foi evacuada e, pouco depois, o artefato foi detonado antes mesmo que as autoridades tivessem tempo de analisá-lo. Segundo dados divulgados pela agência de notícias chilena Emol, que não foram registrados feridos.

No entanto, foi o primeiro caso em que supostos anarquistas ousaram detonar um artefato explosivo em um local público com cidadãos ainda presentes.

Em 8 de setembro de 2014, uma multidão se reuniu para almoçar num restaurante de fast food localizado perto da estação de metrô Escuela Militar (foto), no bairro de Las Condes em Santiago, Chile. Às 14:05, um extintor de incêndio cheio de pólvora foi detonado, deixando 14 feridos.

Após o ataque, o jornal peruano El Comercio informou que pelo menos duas das vítimas sofreram amputações completas de membros, mas, como no primeiro ataque, nenhuma morte foi registrada. Horas após o incidente de setembro, a Conspiração das Células de Fogo (CCF) divulgou um comunicado online assumindo a responsabilidade pelos dois atentados no metrô.

O grupo culpou as autoridades pelos ferimentos dos civis e afirmou que seu alvo não era a população civil, mas as “estruturas, propriedades e agentes do poder”.

Ao realizar dois atentados no metrô do país, a Conspiração das Células de Fogo não apenas debilitou grupos anarquistas legítimos dedicados a gerar uma mudança social duradoura, mas também enfatizou seu potencial para realizar potenciais ataques terroristas em grande escala. Mas a questão é: como um pequeno grupo coordenou um ataque terrorista com potencial letal massivo e quem poderia tê-lo ajudado?

Do anarquismo ao anarquismo extremo

O anarquismo foi usado durante décadas no Chile para lutar contra as injustiças do capitalismo. Mas, até 2014, nunca havia sido utilizado para atacar civis inocentes. Ao contrário: grupos anarquistas chilenos são conhecidos por usar táticas políticas para obter reformas educativas, políticas e tributárias.

Hoje, esses grupos continuam a lutar por reformas, mas pontos de vista diferentes sobre como alcançar os objetivos resultaram na fragmentação dos grupos. Alguns deles agora mantêm laços com grupos extremistas violentos da Europa. Acredita-se que esses mesmos grupos europeus forneçam orientação e apoio a células extremistas do Chile.

É o caso da CCF. Esse grupo é originário da Grécia, mas, como ficou evidente nos ataques ao metrô de Santiago, tem pelo menos uma célula no Chile formada por cidadãos chilenos. A célula chilena teria sido orientada pela CCF grega sobre como usar produtos do dia a dia para criar artefatos explosivos. Prova disso é o fato de que extintores de incêndio cheios de pólvora foram utilizados em ambos os ataques de julho e setembro.

A filial da CCF no Chile é preocupante. Segundo autoridades gregas e informações divulgadas pelo site de notícias The Perfect Storm, a estrutura solta e horizontal da CCF, formada por células individuais, torna o grupo mais difícil de combater. Também preocupante é o fato de que alguns analistas de segurança descreveram o grupo como uma serpente mitológica, ou seja: se a cabeça é cortada, outra surge em seu lugar. Se isso for verdade e existirem mais células da CCF operando no Chile, acabar com os membros restantes será fundamental para impedir ataques futuros.

O El País também divulgou informações indicando que anarquistas radicais atuantes no Chile teriam vínculos com grupos terroristas da Espanha. No ano passado, dois anarquistas chilenos foram julgados e absolvidos por envolvimento com os ataques em Santiago, mas foram presos depois na Espanha, acusados de planejar um ataque a bomba a uma igreja em Zaragoza.

Além disso, pelo menos nove conhecidos terroristas espanhóis visitaram o Chile para apoiar diretamente ataques a bomba em pequena escala nos últimos anos. Por esses e outros motivos, os vínculos chilenos com grupos extremistas violentos internacionais são preocupantes, já que podem influenciar mais ataques de grande porte.

Os anarquistas extremistas chilenos responsáveis pelos ataques terroristas ao metrô de Santiago deixaram claro que têm disposição e capacidade de atentar contra locais densamente povoados durante o dia. Possíveis ataques futuros também são motivos de preocupação, mas o governo chileno está determinado a frustrar todas as tentativas e perseguir os criminosos com uma lei antiterrorismo usada pela primeira vez durante a era Pinochet.

A lei permite que a acusação utilize o depoimento de testemunhas anônimas e prevê penas maiores. Ao aplicá-la, o governo chileno provavelmente espera desmantelar pequenas células extremistas com possíveis laços internacionais, enquanto restaura a paz e a tranquilidade nas ruas de Santiago.

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