EMBRAER prevê desafio ao duopólio da BOEING e da AIRBUS

Embraer prevê desafio ao duopólio da Boeing e da AirbusFabricante brasileira de aeronaves afirma que demanda crescente permitirá que novos rivais tomem participação de mercado dos grupos americano e europeu

Michael Pooler em São José dos Campos
e Sylvia Pfeifer em Londres

A crescente demanda por aeronaves comerciais criará espaço para rivais desafiarem o duopólio da AIRBUS-BOEING, de acordo com o presidente-executivo da fabricante brasileira de aeronaves Embraer.

Francisco Gomes Neto disse ver potencial para novos concorrentes na produção de jatos narrow-body, que atualmente são construídos apenas pelas empresas europeia e americana.

“Quando olho para as projeções para os próximos 20 anos, vemos uma oportunidade para 40.000 aeronaves nesse segmento”, disse ele ao Financial Times na sede da empresa em São José dos Campos. “É muito. Acho que há espaço para mais de dois fabricantes, certo? Quer dizer, talvez três ou quatro.”

A partir da esquerda: Francisco Gomes, CEO EMBRAER, Andrew Levy, fundador e CEO da Avelo Airlines e Arjan Meijer, presidente e CEO da Embraer Aviação Comercial. A empresa americana Avelo assinou em setembro compra firma de 50 e mais 50 opções de EMB 195-E2

A EMBRAER é a terceira maior fabricante de aviões do mundo e domina os jatos regionais menores, que transportam menos de 150 passageiros, embora sua produção esteja muito atrás das gigantes do setor AIRBUS e BOEING.

O grupo, que movimenta US$ 10,6 bilhões, vem estudando opções para a próxima geração de seus jatos comerciais e executivos, mas Gomes Neto afirmou que uma decisão só deverá ser tomada na próxima década, no mínimo, porque seu foco está na venda de produtos existentes. O modelo mais recente e maior da Embraer, o E195-E2, pode transportar até 146 passageiros.

Crises recentes na BOEING e atrasos nas entregas de aeronaves tanto da fabricante americana quanto da AIRBUS, em meio a problemas persistentes na cadeia de suprimentos, alimentaram discussões sobre se a Embraer poderia ser tentada a entrar no mercado de aeronaves de corredor único.

Gomes Neto afirmou que alguns clientes da Embraer “dizem que gostariam de ter mais opções”. No entanto, ele alertou que existe uma “grande lacuna” entre dizer algo e comprar algo.

Ron Epstein, analista do Bank of America, acredita que há argumentos para a EMBRAER desenvolver uma aeronave maior.

“A grande questão para eles é, estrategicamente, o que fazer a seguir?”, disse ele. “Observe a demanda por aeronaves comerciais nos próximos 20 anos e acho que quase certamente haverá espaço para um terceiro player”, acrescentou, observando que a crise da Boeing lembrou às companhias aéreas que “ter outro player no mercado é bom para todos”.

A EMBRAER, disse Epstein, era uma das poucas empresas que conseguia “lançar um novo produto no mercado com relativa eficiência em termos de custo-benefício”.

Os comentários de Gomes Neto ecoam os de executivos da Boeing e da Airbus, que afirmaram que nenhuma decisão sobre o lançamento de um novo jato de corredor único é iminente. Ambas estão focadas em atender aos pedidos de seus modelos narrow-body existentes — a família de jatos A320 mais vendida da Airbus ultrapassou o 737 da Boeing como a aeronave comercial mais popular da história em entregas esta semana, de acordo com dados do setor.

Executivos do setor acreditam que a COMAC, da China, é a empresa com maior probabilidade de romper o domínio da Boeing e da Airbus. A estatal lançou seu primeiro avião comercial fabricado no país, o C919, em 2023, e seus clientes incluem as três maiores companhias aéreas do país, bem como algumas companhias aéreas estrangeiras.

Concorrer diretamente com a AIRBUS e a BOEING seria um empreendimento arriscado para a EMBRAER. Uma tentativa anterior da Bombardier de entrar no mercado de aeronaves de fuselagem estreita quase se mostrou ruinosa, levando a fabricante canadense a se retirar da produção de aeronaves comerciais e se concentrar em jatos executivos.

Gomes Neto afirmou que a Embraer não gostaria de colocar a “saúde financeira” da empresa em risco. A EMBRAER planeja quase dobrar a receita de seus jatos regionais e executivos existentes, com a meta de atingir US$ 10 bilhões até o final desta década.

A empresa está desfrutando de forte demanda por seus jatos regionais, apesar de estar sujeita ao imposto de importação de 10% estabelecido pelo governo Trump em seu maior mercado. A empresa pressionou com sucesso Washington por uma isenção da tarifa adicional de 40% imposta ao Brasil há dois meses, com Gomes Neto se reunindo com os secretários do Tesouro, Comércio e Transportes dos EUA para defender sua posição.

Mesmo assim, Gomes Neto afirmou que o imposto de 10% adicionaria cerca de US$ 80 milhões em custos para o grupo, principalmente resultantes da importação de peças para seus jatos particulares, que são montados na Flórida. Ele expressou otimismo com a remoção da tarifa remanescente sobre os produtos aeroespaciais brasileiros. O lucro semestral ajustado antes de juros e impostos foi de US$ 253,8 milhões.

A EMBRAER não está imune aos desafios da cadeia de suprimentos do setor. Gomes Neto afirmou que as entregas de componentes como motores e peças da fuselagem ainda estão atrasadas, mas que a situação está melhorando e que a empresa ainda está no caminho certo para atingir 100 entregas de aeronaves comerciais por ano até 2028.

Ele acrescentou que o grupo está buscando diversas oportunidades de vendas internacionais para seus jatos regionais, inclusive na Índia.

A empresa também busca impulsionar as vendas no exterior de seus produtos militares, incluindo a aeronave de transporte de reabastecimento KC-390 Millennium, e espera se beneficiar dos maiores gastos militares dos países da OTAN. Oito países europeus já encomendaram o KC-390.

A Embraer está trabalhando em planos para montar o KC-390 nos EUA como parte de uma tentativa de conquistar um contrato com a Força Aérea dos EUA para o programa Sistema de Reabastecimento Aéreo de Próxima Geração.

Separadamente, Gomes Neto disse que espera que o táxi aéreo elétrico da empresa, Eve, entre em serviço comercial até o final de 2027. A subsidiária, que é vista como uma área de potencial crescimento chave para a Embraer, está entre várias empresas que desenvolvem aeronaves movidas a bateria que podem pousar e decolar verticalmente para levar passageiros em viagens de curta distância.

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