Operação Flak – Tráfico aéreo de droga recrutou até pilotos comerciais


Julia Affonso e Marina Dayrell
21 Fevereiro 2019 | 11h57

 
O esquema especializado em transporte aéreo de drogas, alvo da Operação Flak, deflagrada nesta quinta-feira, 21, recrutou até pilotos comerciais ‘com grande experiência’. A Justiça Federal de Palmas decretou a apreensão de 47 aeronaves e 13 fazendas com mais de 10 mil cabeças de gado bovino que são parte de esquema.

“Os pilotos não precisam atender a requisitos específicos, sendo recrutados pilotos recém-formados, pilotos da aviação agrícola, pilotos de idade avançada e até pilotos comerciais com grande experiência”, relata o juiz Pedro Felipe de Oliveira Santos, da 4ª Vara Federal de Palmas.
 
A Polícia Federal, a FAB e a Polícia Militar estão nas ruas desde muito cedo para cumprir 54 mandados de prisão e 81 de busca e apreensão no Distrito Federal e nos estados de Tocantins, Goiás, Paraná, Pará, Roraima, São Paulo e Ceará na maior ação já realizada no País contra logística de transporte internacional de drogas.
 
A Operação Flak dividiu a estrutura do esquema em quatro núcleos operacionais: logístico, aeronáutico, mecânico e varejista. O comando da organização, segundo a investigação, estava nas mãos de João Soares Rocha, um dos 23 presos pela PF até as 10h desta quinta.
 
“A organização supostamente comandada por João Soares Rocha funciona como prestadora de serviços de transporte e de distribuição de drogas com origem na Colômbia, Venezuela e Bolívia. A organização tem sido contratada por produtores e varejistas para a busca de carga nos países de origem e a posterior entrega em destinos intermediários, especialmente Suriname, Honduras e Guatemala, de onde é encaminhada para países destinatários, como o Brasil, e outros na Europa e na África”, narra o magistrado.
 
Segundo o juiz Pedro Felipe de Oliveira Santos, o esquema de transporte aéreo de drogas aproveitava as ‘extensas áreas não fiscalizadas sobre o Brasil e sobre os países vizinhos’.
 
A investigação aponta que os traficantes usavam aeronaves adulteradas.
 
“Os mecanismos de abastecimento são irregularmente alterados para carregamento adicional de combustível durante a realização do voo, visando ao prolongamento da autonomia respectiva”, relata o magistrado.
 
Ele destaca que ‘os prefixos de identificação das aeronaves são comumente alterados, com o intuito de ludibriar as autoridades aeronáuticas e policiais’.
 
“Nesses moldes, a droga costuma ser armazenada em pistas de pousos clandestinas de difícil acesso por terra ou a uma distância considerável dos centros urbanos, dificultando ainda mais a fiscalização por parte das forças de segurança.”

Na decisão, o juiz detalhou os núcleos operacionais do esquema. O logístico fazia o ‘gerenciamento das operações de transporte e de distribuição transnacional de cocaína’.

“Eles são responsáveis pelas tratativas com produtores e com varejistas, pela organização do modal aéreo, pelo recrutamento de pilotos e de mecânicos para a realização das tarefas operacionais, pela definição das estratégias de evasão do controle aeronáutico e policial, pela seleção das pistas de pouso e de outros pontos de apoio, entre outras funções gerenciais”, aponta o magistrado.

Faziam parte do núcleo aeronáutico, segundo a investigação, ‘pilotos e ajudantes que prestam serviços regulares ao núcleo empresarial’. Eles eram ‘responsáveis pela condução das aeronaves adulteradas contendo drogas e/ou dinheiro, bem como pela elaboração de planos de voos irregulares, inclusive mapeando rotas que escapem ao controle aeronáutico e policial’.

O núcleo mecânico alcançava ‘mecânicos à disposição da apontada organização criminosa’.

A Flak aponta que eles faziam ‘manutenções periódicas nas aeronaves, bem como adulterações estruturais para permitir o prolongamento da autonomia de voo e a ocultação da real prefixagem dos aviões’.

Do núcleo varejista faziam parte ‘produtores ou compradores de cocaína, os quais contratam os serviços do núcleo logístico para o transporte e a distribuição do produto ilícito’.

VEJA OS MODELOS DE AVIÃO À DISPOSIÇÃO DO ESQUEMA DE TRANSPORTE DE DROGAS

– Cessna 210: Monomotor. Era a aeronave mais usada, por sua versatilidade. A Operação Flak identificou o transporte de aproximadamente 488 quilos de cocaína com uma autonomia de voo de 8 horas e com tripulação composta por dois indivíduos de estatura mediana, além de galões com combustível (PT-LNU).

– Beechcraft Baron: Bimotor. Capacidade de carga estimada em 700 quilos para a mesma tripulação e autonomia de voo. A PF afirma que a PR-NIB foi usada em uma operação de frete que resultou na queda da aeronave em território venezuelano em março de 2017.

– Piper Navajo: Bimotor. Capacidade média de carga de até uma tonelada. Segundo a PF, a aeronave PTIDQ foi testada diversas vezes na ‘pista do Wisley’ em Porto Nacional, Tocantins. Os investigadores suspeitam que o avião foi usado para o transporte de uma carga de entorpecentes apreendida durante uma das fases da Operação Spectrum (mais de uma tonelada de cloridrato de cocaína).
 
– Beechcraft King Air: Bimotor Turboélice de elevada capacidade de carga, podendo ultrapassar duas toneladas em certas situações. Pode ter autonomia para atravessar continentes. A aeronave PR-IMG, apreendida na Guiana, continha coordenadas de uma pista no Saara Ocidental.

– Cessna 401: Bimotor. Capacidade de carga e autonomia de voo similar à do Beechcraft Baron. A PF identificou uma a aeronave clonada prefixo PR-XFR que foi apreendida na cidade de Rio Verde, em Goiás, na posse de Harti Luís Lang e Willy Norman Schaffer Buitrago em maio de 2017.

    
    
    
   

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