Sob Dilma, ”mudança de tom” com os EUA

Denise Chrispim Marin

A apenas três dias de deixar o Departamento de Estado, onde comandou o setor de Hemisfério Ocidental por mais de dois anos, o chileno Arturo Valenzuela disse ontem ter havido "certa mudança no tom" das relações Brasil-EUA desde a posse da presidente Dilma Rousseff.

Valenzuela explicou que o anseio brasileiro por acesso a tecnologias mais avançadas aproximará o Brasil dos EUA e, mais desinibido para apresentar seu ponto-de-vista à imprensa, alertou para a necessidade de o País eliminar seus traços protecionistas e investir em estratégias de integração econômica internacional.

"Creio que, com a posse de Dilma Rousseff, houve certa mudança de tom (na relação bilateral). Não é que, necessariamente, a posição do Brasil tenha mudando. Mas foi buscada uma interlocução maior", afirmou. "A química dos dois presidentes foi muito boa em Brasília", completou o diplomata, referindo-se à visita de Barack Obama ao Brasil, em março passado.

Em sua avaliação, não foi gerado novo atrito pelo fato de Obama ter determinado a presença de forças americanas na coalizão contra a Líbia enquanto estava no Palácio do Planalto, ciente da oposição de Dilma Rousseff a essa iniciativa. Conforme explicou, o diálogo bilateral foi fortalecido pela primeira vez durante os governos de Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton, nos anos 90. Alheio à aversão de setores republicanos, o americano George W. Bush decidiu manter uma relação forte com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos primeiros anos da década passada. As posições brasileiras sobre o Irã e Honduras distanciaram os dois países nos últimos dois anos. Mas, com Dilma, Obama parece afinar-se melhor.

"Nunca vi na minha vida algo igual à recepção a Obama, quando ele entrou no palco com os braços abertos e o sorriso amplo, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro", afirmou. "Há algo especial entre Obama e o Brasil."

"Divergências". A relação não está plenamente azeitada e ainda enfrentará "divergências naturais", como as que sobrevivem em torno da solução militar para o caso da Líbia e do próprio Irã.

Para Valenzuela, o Brasil tem condições de exercer papel relevante na discussão das questões do Oriente Médio, seja pelo respeito conquistado por sua diplomacia ou por sua presença na região e na África. Valenzuela, porém, não foi além da resposta padrão quanto ao desejo do Brasil de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas: a de respeito, mas sem anunciar apoio.

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