Zona de defesa aérea chinesa aumenta risco de guerra na região, diz analista

A China monitorou os voos de dois bombardeiros americanos que sobrevoaram sua nova zona de defesa de identificação aérea, segundo informações do Ministério da Defesa chinês.

Os aviões B-52 voaram sobre ilhas de Diaoyu e Senkaku, disputadas entre o país e o Japão no Mar do Leste da China, sem avisar as autoridades chinesas que estavam entrando em uma parte de seu novo espaço aéreo, declarado no sábado.
 

O Japão e os Estados Unidos se opõem à decisão da China de alterar unilateralmente seu espaço aéreo e acusam o país querer escalar as tensões regionais.

A zona de defesa de identificação aérea chinesa se sobrepõe ao espaço aéreo japonês e inclui ilhas disputadas que são controladas pelo Japão.

Escalada

Para Alexander Neill, do Instituto Internacional para estudos estratégicos (IISS), a demarcação de uma zona de defesa área representa uma tomada de posição por parte da China que pode trazer riscos para a região.

Ainda segundo Neill, a medida demonstra a determinação do presidente Xi Jinping em defender a integridade territorial do país.

Este é o maior sinal de escalada militar envolvendo a China desde que ele chegou ao poder, há um ano.

Líderes chineses devem se abster de críticas à sua decisão, argumentando que o espaço de defesa aérea japonês se estende sobre o território reivindicado pela China.

A imposição da zona de defesa de identificação aérea da China ecoa um episódio ocorrido em 1996, quando o então presidente chinês Jiang Zemin ordernou uma exclusão aérea e marítima durante uma série de testes com mísseis no norte e no sul de Taiwan.

A declaração de sábado confirma que as ilhas de Diaoyu e Senkaku passam para o centro de preocupações da China, sendo incluídas na mesma categoria do Mar do Sul da China e de Taiwan.

Narrativa oficial

Alexander Neill afirma que na última década o nacionalismo populista da China tem sido alimentado por uma narrativa oficial de humilhação devido ao fato de as ilhas estarem nas mãos do Ocidente. Este sentimento havia sido atenuado graças à adesão de Deng Xiaoping (líder chinês dos anos 1970, 1980 e 1990) a uma estratégia mais contida em relação ao assunto.

Mas, recentemente, as demonstrações do poder militar chinês sugerem que Xi Jinping pode estar preparado para ignorar esta política mais contida.

A nova identidade regional da China, como uma potência econômica com um setor militar cada vez mais forte, tornou a narrativa da humilhação menos relevante; um sentimento de orgulho nacional agora é comum no país.

E este último gesto do governo chinês ocorreu em um momento de tensão militar na região.

Em janeiro de 2013, o Ministério da Defesa do Japão acusou o Exército de Liberação do Povo chinês de direcionar seus radares contra um navio japonês que estava próximo das ilhas. A China nega.

Agora, a melhor opção da China para manter a dominância na falta de uma presença militar permanente na região de Senkaku é o estabelecimento da zona de defesa de identificação aérea.

Por outro lado, a grande limitação para a China seria o estabelecimento, por Tóquio, de posições habitadas por japoneses nas ilhas, uma ação que pode levar a um aumento rápido das hostilidades.

Os dois países estão evitando estas ações até agora. No entanto, recentemente a China enviou aviões não tripulados para perto da região disputada.

Vigilância americana

Outro fato recente foi a apresentação do primeiro avião de tecnologia stealth (que não pode ser detectado por radares) da China, algo que ocorreu logo depois do primeiro voo do J-31, o jato stealth chinês, no começo do ano.

Todas estes sistemas de armas ainda estão na fase de desenvolvimento, mas eles destacam o sucesso da modernização no setor militar da China.

A China ainda pode estar longe de se transformar em uma potência militar global, mas os especialistas em defesa dos Estados Unidos notaram que o país conseguiu concentrar uma capacidade militar formidável em seu próprio quintal. Alguns analistas sugerem até que, em certas áreas, o Exército chinês pode conseguir rivalizar com a capacidade militar americana na região.

E a zona de defesa de identificação aérea é um símbolo da insatisfação da China com os destacamentos de vigilância e inteligência reunidos pelos militares americanos no mar e no espaço aéreo nas fronteiras do país.

Um episódio delicado de destaque foi a perda do piloto de caça chinês, morto em uma colisão com uma aeronave de vigilância americana que estava em uma missão para colher informações secretas no Mar do Sul da China em 2001.

Líderes chineses vão argumentar que o estabelecimento da zona de defesa de identificação aérea visa evitar este tipo de incidente, mas com os tempos de reação extremamente curtos necessários para uma interdição aérea e a inexperiência relativa das forças aéreas chinesas e japonesas, o potencial para um rápido aumento das hostilidades e possíveis erros aumentarão.

A proximidade da 7ª Frota americana no Japão e as operações regulares dos militares americanos na zona de de defesa chinesa significam que o Pentágono vai resistir muito antes de obedecer aos protocolos de identificação aérea exigidos pela China. E isto também pode ser aplicado aos militares japoneses.

A criação de uma zona de defesa de identificação aérea também desmente a confiança da China em suas próprias redes de comando e controle e em sua capacidade de estabelecer uma vigilância aérea em uma grande extensão do Mar do Leste da China.

A resposta americana poderá ser o aumentdo do ritmo de seus exercícios militares planejados para a região, obrigando o Exército chinês a dar uma resposta defensiva, testando a determinação de Xi Jinping e também sua cadeia de comando.

Entenda o caso

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