Projeto M-113Br – Revitalização do M113A2 MK1 no EB

Cap. RENAN RODRIGUES DE OLIVEIRA


Recentemente o Exército Brasileiro (EB), dentro da Estratégia Nacional de Defesa (END), vem desenvolvendo uma série de projetos de reaparelhamento, e neste contexto resolveu incluir as já consagradas viaturas blindadas de transporte de pessoal (VBTP) M 113 B, amplamente utilizadas no mundo e empregadas nas tropas blindadas do Brasil desde os anos setenta.

O Projeto M 113 do EB é dividido em dois subprojetos, um que visa à modernização da maior parte da frota atual e outro que pretende revitalizar as VBTP em melhor estado de conservação.

A Revitalização

Conforme o MD35-G-01 (Glossário das Forças Armadas – 2007), a revitalização consiste em um trabalho de manutenção executado, em todos os sistemas da VBTP, com a finalidade de restaurar a capacidade operacional ou prolongar a vida útil (dando continuidade ao atendimento dos requisitos operacionais básicos originais), por meio da retífica ou substituição de partes estruturais e de componentes ou equipamentos, desde que tal substituição não implique uma homologação suplementar de tipo. 

Portanto o resultado final desta revitalização é uma viatura com as mesmas características da atual, com a substituição dos componentes considerados sem reparo ou inservíveis. Cabe ressaltar que neste tipo de serviço podem ser aplicados materiais de 2ª classe, ou seja, usados com bom estado de conservação.

A Modernização

Conforme o MD35-G-01 (Glossário das Forças Armadas – 2007) a modernização é uma modificação introduzida no material ou sistema, ou sua total substituição, com a finalidade de atualizá-lo e readequá-lo às necessidades operacionais, ou objetivando um melhor desempenho operacional. Neste processo a VBTP receberá outro motor e componentes mais robustos para suportar a potência adicional.

Este processo está sendo realizado pelo Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar (PqRMnt/5), em Curitiba, com a fase inicial de confecção do lote piloto de 4 viaturas em conjunto com funcionários da empresa americana BAE SISTEMS, através do Foreign Military Sales (FMS), com previsão de conclusão até o final do ano de 2012 e a segunda fase com a execução por parte do PqRMnt/5 dos lotes anuais totalizando 376 VBTP até 2019. Com esta modernização a viatura será configurada nos moldes do M 113 MK 1, com a diferença que as lagartas permanecerão no modelo atual e não do modelo T 150.

Cabe ressaltar que o objetivo principal da modernização da VBTP é dar-lhe maior capacidade operacional, e que seu principal emprego é como viatura blindada de dotação das organizações militares (OM) das brigadas blindadas, porém o emprego em combate destas viaturas é normalmente em conjunto com os Regimentos de Carros de Combate (RCC), atualmente dotados de Viaturas Blindadas de Combate Carros de Combate (VBCCC) Leopard 1 A 5.

É oportuno relembrar as características básicas da tropa blindada, que são mobilidade, proteção blindada e poder de fogo, e que atualmente as VBTP M 113  não possuem potência suficiente para acompanhar as VBCCC Leopard 1 A 5. Com as modificações acordadas junto à empresa BAE SISTEMS, as VBTP serão dotadas de uma potência adicional que, muito provavelmente, lhes darão força suficiente para atender tal carência.

Entretanto, na realidade do combate blindado moderno, onde a velocidade e o amplo emprego de ações noturnas são características consagradas, não se pode conceber uma viatura blindada não dotada de meios mínimos de visão para o combate noturno, e até o presente momento, não foi adicionado ao projeto de modernização da VBTP qualquer equipamento que dê esta capacidade, somente foi autorizada a instalação na viatura protótipo de câmeras infravermelhas (tecnologia ultrapassada) frontais e de retaguarda de uso civil adaptadas à viatura.

Esta iniciativa aparentemente parece satisfatória pois atualmente a VBTP nada possui para satisfazer esta carência, entretanto o ideal para emprego em campanha é no mínimo um periscópio de intensificação de luz residual para o motorista e de um periscópio termal para o atirador acoplado a uma estação  de  armas remotamente controlada estabilizada. Outro aspecto que deve ser citado, é que os blindados da família Leopard 1A5 já possuem esta capacidade, acarretando na impossibilidade dos M 113 serem empregados em condições de visibilidade reduzida em conjunto com estas viaturas, apresentando uma grande limitação ao emprego das Forças Tarefa Blindadas (FTBld).

No corrente ano foi realizado o Estágio Tático de Blindados no Centro de Instruções de Blindados (CIBld), onde se levantaram algumas incompatibilidades graves no emprego do M 113 B com a VBCCC Leopard 1 A 5, tais como impossibilidade de monitoramento do campo de batalha no período noturno, incompatibilidade dos equipamentos de comunicações que por se tratarem de materiais de gerações e fabricantes diferentes impedem a utilização de transmissões em segurança criptográfica, baixa proteção blindada da viatura face às ameaças atuais do campo de batalha, elevada assinatura termal da viatura por não receber uma pintura com baixa emissão termal como a da VBCCC Leopard 1 A 5, grandes dificuldades na condução da viatura pela precariedade dos meios de intercomunicação, e por fim a impossibilidade da realização do tiro preciso em movimento das metralhadoras .50, primeiro pela precariedade das metralhadoras, também com alto índice de indisponibilidade, e pela falta de uma plataforma de armas estabilizada.

Atualmente a modernização aumentará as capacidades mecânicas da VBTP para o acompanhamento da VBCCC Leopard 1 A5 e conta com modificações significativas na parte de comunicações, com a adoção do equipamento rádio FALCON III da empresa Harris, produto de defesa de última geração e altamente testado por diversas tropas em combate no mundo, e que teve sua compra baseada em meses de estudo por parte de especialistas em comunicações do Exército Brasileiro.

Apesar deste avanço não permitir as comunicações em segurança com o equipamento rádio que equipa as VBCCC Leopard 1 A 5, eficiente porém, bastante antigo, é uma medida acertada pois este equipamento irá dotar a maior parte das demais tropas da força terrestre, uniformizando procedimentos e assegurando as comunicações seguras nível tático.

No tocante a pintura da VBTP, esta receberá o mesmo modelo aplicado atualmente, com tinta veicular comum fosca, facilitando sua detecção em operações noturnas em comparação com a VBCCC Leopard 1 A 5, fato este verificado repetidamente nas instruções de equipamentos ópticos ministradas no CIBld e no Estágio Tático de Blindados Sobre Lagartas realizado no ano de 2012.

Quanto à substituição dos equipamentos e intercomunicação, apesar de já haver sido realizada a amostra de material tanto no CIBld, quanto no PqRMnt/5 do sistema SOTAS da empresa Thales, a única medida que está realmente acordada é o fornecimento por parte da BAE SISTEM de apenas 25 conjuntos de intercomunicadores (com capacetes) compatíveis com o rádio Falcon III da Harris. Independente do material a ser adquirido, a maior causa de indisponibilidade do atual é a inexistência de cabos para reposição no mercado nacional, já o modelo Sotas utiliza cabos coaxiais disponíveis em qualquer loja de materiais elétricos, que diminuiria a dependência do exterior.

Outro item não contemplado pela modernização é um sistema mais moderno de extinção de incêndio permanecendo o sistema atual com acionamento manual, que somada à permanência do tanque interno diminui sensivelmente a sobrevivência da tripulação e mantém elevado o  risco de incêndio.

Outras possibilidades

Há uma série de produtos disponíveis no mercado internacional para modernizar a VBTP M 113, tais como:

-lagartas T 150, com maior vida útil e melhor desempenho;
-lagartas de borracha com metade do peso, com redução de 7 dB no ruído e  60% da vibração;
-sistema de ar condicionado capaz de refrigerar inclusive os equipamentos eletrônicos;
-aplicação de blindagem espaçada que aumenta a proteção da VBTP de 7,62 mm para 14.5 mm ou tipo gaiola, oferecendo proteção frente a munições de carga oca;
-blindagem anti-mina na parte inferior;
-tanques externos com o mesmo nível de proteção balística do veículo e com controle automático;
-sistema de supressão de incêndio automático;
-lançadores de granadas fumígenas em número mínimo de 4 por lado, possibilitando maior chance de sobrevivência em caso de aplicação de manobras evasivas;
-guincho externo para manobras de força;
-clinômetro interno para avaliação da angulação do terreno durante deslocamento;
-aquecimento do compartimento da guarnição e outras possibilidades.

Conclusão

Mesmo com uma série de outras possibilidades e de algumas necessidades não contempladas pelo projeto M 113- B seja na modernização ou na revitalização, dentro do contexto nacional, a alternativa adotada apresenta bom custo benefício, atende as necessidades operacionais no aspecto mecânico do veículo, deixa de atender aspectos como segurança da tripulação e sobrevivência da viatura além de impossibilitar seu emprego eficiente em ações noturnas em conjunto com a VBCCC Leopard 1 A 5, contudo garante uma sobrevida as VBTP e fornece boas condições para manutenção dos padrões da tropa blindada brasileira.
 

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O autor:  Cap RENAN RODRIGUES DE OLIVEIRA
Instrutor do Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires (CIBld)

Vìdeo: BAE Systems apresenta na LAAD 2013 o M113A2 MK1 do EB revitalizado.

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