DITABRANDA – Copa de 70 Revisitada

 

Otávio Fakhoury

Capturado do Facebook

 

Ontem, mais precisamente na madrugada de hoje (20JUN2018), Pedro Bial fez um papel lamentável em seu programa de entrevistas na TV, Conversa com Bial.

A pretexto de falar do assunto do momento, a Copa do Mundo, Bial convidou os ex-jogadores Rivelino e Raí para o programa.

Logo no início, ficou claro que, na verdade, ele queria falar de política com foco em detratar o período pós 64.

A intenção era posar de "democrático" e marcar pontos com a numerosa e influente comunidade de Esquerda.

Deu com os burros na água.

Ele começou perguntando a Rivelino se ele e os demais integrantes da mítica seleção de 1970 tinham sofrido pressão da "ditadura", em especial do próprio presidente Médici, a quem ele se referia o tempo todo com um tom ensaiado de repulsa.

A resposta de Rivelino foi curta e enfática: "Nenhuma!".

Bial ficou desconcertado, meio que perdido, pois ele esperava ouvir algum tipo de crítica ao regime ou a revelação de algum segredo que o desabonasse.

Bial ainda insistiu, dizendo que o Brasil vivia "os anos mais negros da ditadura" e que era possível que a seleção brasileira também estivesse sofrendo algum tipo de restrição, ameaça ou imposição de conduta e mais uma vez Rivelino respondeu de pronto: "Nenhuma!".

Acredito que Rivelino, a esta altura, já tinha entendido os objetivos de Bial e decidido que não iria fazer o jogo do apresentador.

Bial lembrou do episódio do afastamento de João Saldanha da função de técnico da seleção de 70,  pouco antes da Copa, possivelmente por exigência de Médici, em função de um suposto comportamento crítico de Saldanha em relação ao regime.

Rivelino lembrou que havia motivos de outra natureza, principalmente que Saldanha era jornalista e não técnico de futebol, além de ser um personagem polêmico. Apesar disso, elogiou outras qualidades de Saldanha.

Ainda sobre esse episódio, Rivelino recordou, olhando diretamente nos olhos de Bial, que a imprensa era quem criticava rotineiramente João Saldanha, tendo, possivelmente, um papel preponderante na saída do técnico. Para o jornalista Pedro Bial, isso foi sentido como um soco na barriga.

O apresentador veio então com um assunto que até então eu desconhecia, que o presidente Médici tinha feito muitas ligações para os jogadores da seleção brasileira durante o campeonato no México, inclusive para Rivelino. Acredito que Bial estava insinuando que os jogadores poderiam estar agindo como colaboradores do regime e trafegando informações sigilosas com o presidente Médici.

Perguntado sobre essas ligações do presidente para os jogadores, Rivelino confirmou que falara várias vezes com o presidente mas que este só conversou sobre futebol, comentando os jogos, elogiando os jogadores e fazendo votos de mais sucesso na campanha.

Nesse ponto, Rivelino já tinha desconstruído todo o roteiro pré-estabelecido por Bial, que queria porque queria apresentar ao seu público um linchamento ao vivo do regime de 64 por um dos grandes ídolos de um grupo que marcou época justamente naqueles anos chamados "de chumbo" pelos pseudo-democratas da Esquerda e da "luta armada".

Foi então que eu entendi a presença de Raí no programa. Bial queria mesmo era ter chamado Sócrates, ex-jogador de futebol e militante político com um viés contrário ao regime pós 64. Sócrates teria sido mais útil aos propósitos de Bial mas, como já é falecido, o apresentador achou que o irmão dele, o também ex-jogador Raí, poderia compartilhar dos sentimentos e da ideologia do irmão e derramar críticas ao antigo regime.

Acontece que Raí também frustrou o apresentador. O tempo todo esquivou-se das perguntas maliciosas de Bial. Falou pouco e só enalteceu o papel do irmão na transição do regime e na redemocratização do país.

Bial estava com azar, mas, pelo menos, ele tinha a seu lado, à distância e por vídeo, o jornalista e comentarista de assuntos internacionais Marcelo Lins, da Globonews.

Bial, para dissimular e não fugir ao "tema", introduziu Marcelo Lins como grande fã e conhecedor de futebol.

Acontece que Marcelo Lins não falou uma palavra sobre o esporte, restringindo-se apenas a críticas duras contra o regime pós 64 e falando de sua própria "dolorosa" experiência como filho de um "perseguido" do regime e do "sofrido" exílio da família na Suíça, onde um dos "poucos" prazeres era frequentar a casa de um cônsul brasileiro onde assistiam futebol com outros membros da comunidade brasileira de exilados.

Numa última tentativa de retomar seu roteiro e implicar Rivelino, Bial citou a Copa da Independência de 1972, um torneio de futebol com a presença de 20 países, organizado como parte dos festejos dos 150 anos da independência do Brasil e do qual Rivelino havia participado.

Bial classificou o torneio como mera propaganda de um regime ditatorial e ainda chamou a  comemoração cívica do Sesquicentenário da Independência de "efeméride inventada", sugerindo que nada havia a comemorar e que a independência, ou a democracia, era uma farsa e o evento apenas uma exaltação de um regime ilegal e impiedoso.

Bial perguntou a Rivelino a visão dele a respeito desses fatos e o ex-jogador, com uma linguagem bem direta e segura, disse que não entendia nada de política, que nessa matéria ele era "um zero à esquerda" e que o negócio dele era futebol, que era do que entendia e o que sabia fazer. E por aí a conversa parou.

Meio desolado, Bial chamou mais uma vez Marcelo Lins para desfiar sua ladainha contra o antigo regime e reforçar os propósitos daquela conversa. Pouco depois, Bial fez os agradecimentos e a despedida de praxe e encerrou o programa.

Programa Conversa com Bial, 20 Junho 2018. Captura de tela.

Eu não era grande fã do Bial mas nunca pensei que fosse capaz de protagonizar um papel desses. Pensei que o ponto mais baixo de sua carreira tivesse sido o Big Brother Brasil, mas não foi.

Quanto a Rivelino, conhecido nos bons tempos como Patada Atômica devido ao seu forte chute, cresceu ainda mais no meu conceito. Em um chute virtual, jogou o goleiro Bial e a sua bola murcha lá para os fundos da rede, onde ficou caído desnorteado, com as pernas para cima.

Notas DefesaNet

Listamos alguns pontos interessantes sobre a campanha da Seleção de 1970.

– É sempre propalada a interferência do então presidente Gen Ex Emilio Carrastazu Médici na Seleção. Em especial por ter indicado o centroavante, do Atlético Mineiro Dario, que depois se consagrou como o Dadá Maravilha.

– Como relaado por Rivelino havia uma forte campanha na imprensa contra o treinador João Saldanha. Em especila após uma derrota para a Argentina, em Porto Alegre, e ter dito que Pelé estava "cego".

– Porém, houve sim uma interferência enorme dos militares em dois pontos:

1 – Preparação Física – Aproveitando a experiência de jovens oficiais que serviam na Escola de Educação Física do Exército, RJ. Em especial o então capitão Claudio Coutinho. Em 1968, foi escolhido para representar sua escola em um Congresso Mundial, realizado nos Estados Unidos. Lá conheceu o professor norte-americano Kenneth Cooper, idealizador do famoso método de avaliação física que leva o seu nome. Convidado pelo mesmo, frequentou o Laboratório de Estresse Humano da NASA. Dando prosseguimento às suas experiências internacionais, defendeu tese de mestrado na Universidade de Fontainbleau, na França. Ao ser convidado a integrar a Seleção Brasileira, como Supervisor, em 1970 passou a introduzir, particularmente os métodos de Cooper. Oficialmente os treinadores físicos eram Admildo Chirol, formado na Escola de Educação Física do Exército e Carlos Alberto Parreira.

Foi de Admildo Chirol a ideia de levar a seleção com antecedência para se prepaparar para a altitude.

Isto explica que mesmo na altitude de Guadalajara (1.500m) e Cidade do México (2.500m) em pleno verão do Hemisfério Norte o time brasileiro teve uma performamce física espetacular.

2 – Comando da Delegação – Foi indicado o Brigadeiro Jerônimo Bastos. Discreto, sem aparecer contornou crises e enquadrou em um certo momento a dupla Jairzinho e Paulo Cesar.    

 

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