Petróleo – Futuro indica anos de preços baixos

O mercado de petróleo está sinalizando que os preços podem ficar baixos por mais tempo, desferindo um novo golpe nas já debilitadas petrolíferas americanas.

Nos Estados Unidos, os preços do petróleo nos contratos futuros de referência para entrega em setembro estão próximos da mínima de seis anos registrada em março. Os contratos para entrega em 2016 e 2017 foram mais atingidos e já são negociados em níveis menores que suas mínimas de março.

Isso indica que os investidores, negociantes e as empresas de petróleo acreditam que o excesso de oferta mundial vai se manter além deste ano.

As empresas que estão tomando decisões de investimentos de longo prazo dependem dos preços dos contratos futuros com um ou mais anos de antecedência. As petrolíferas negociam contratos futuros e de opções para garantir os preços do petróleo que desejam vender nos próximos anos.

Várias empresas americanas que exploram petróleo em formações de xisto afirmam que podem aumentar a produção de forma lucrativa se os preços estiverem acima de US$ 65 o barril. Ontem, os preços do contrato futuro de petróleo de vencimento mais próximo caíram 4,18%, para US$ 43,08 o barril, enquanto os preços para entrega em dezembro de 2016 fecharam em US$ 52,14. Os futuros mais caros, com entrega em 2022 e 2023, fecharam a US$ 64,21 o barril.

Para muitas petrolíferas, como a Diamondback Energy Inc. e a Marathon Oil Corp., os contratos futuros estão agora muito baratos para justificar ações para garantir os preços. Isso significa que esses produtores devem entrar em 2016 com menos hedge (proteção) de preços que o normal.

Empresas menos protegidas contra variações de preços em 2016 podem ser forçadas a reduzir ainda mais sua atividade de exploração se os preços permanecerem abaixo do necessário para equilibrar os custos.

"Creio que seja uma avaliação correta que quase ninguém está fazendo hedge nesse ponto”, diz Jason Wangler, analista da corretora Wunderlich Securities. “Por que travar o preço lá embaixo?”

A queda nos preços de contratos posteriores surpreendeu alguns analistas e investidores. Na semana passada, o operador do mercado de petróleo Andrew Hall, que é conhecido por fazer apostas otimistas de longo prazo, escreveu em nota aos investidores que ele não previa esse “pessimismo” no mercado. A firma de fundos de hedge de Hall, Astenbeck Capital Management LLC, que administra US$ 2,8 bilhões, teve um retorno negativo de 16,6% em julho.

As operações de hedge impulsionaram os lucros dos produtores neste ano, já que algumas empresas foram capazes de vender petróleo a US$ 90 o barril ou mais, preços que foram travados através de contratos futuros fechados há pelo menos um ano. Muitas empresas estão esperando que os preços subam. Se os preços indicados pelo mercado futuro se materializarem, dez das maiores petrolíferas independentes dos EUA irão gastar US$ 11,4 bilhões a mais que as entradas de seu fluxo de caixa em 2016, segundo o banco de investimento Tudor, Pickering, Holt & Co.

Os bancos avaliam duas vezes por ano o valor das reservas das firmas de petróleo e gás, reservas essas que podem ser usadas como garantias para empréstimos. Se os bancos precificarem essas reservas com base nos preços dos contratos futuros de longo prazo, o valor pode cair significativamente na próxima avaliação de 2015, reduzindo o quanto as petrolíferas podem captar, dizem analistas.

“Acredito que os bancos tenham menos flexibilidade na próxima avaliação”, diz John Saucer, diretor de pesquisa e análise da Mobius Risk Group, em Houston, que ajuda empresas a fazer hedges. “Será uma rodada dura dessa vez.”

As ações das empresas do setor de petróleo que integram o índice S&P 500 caíram coletivamente 14% desde que os preços do petróleo atingiram sua máxima de 2015, em junho, enquanto o índice como um todo recuou 1,3% no mesmo período.

Os produtores correram para fechar seus hedges quando os preços subiram acima de US$ 60 o barril em maio, o que levou os preços de longo prazo a superar a marca de US$ 65. Mas preocupações com o crescimento da China e um aumento na atividade de perfuração nos EUA fizeram os preços despencarem em julho. De fato, em seus resultados do segundo trimestre, algumas petrolíferas americanas anunciaram produção recorde de petróleo.

Travis Stice, diretor-presidente da Diamondback Energy, diz que não pretende fazer hedge de uma fatia maior da produção da empresa em 2016, a menos que os preços do petróleo subam para US$ 65 o barril ou mais.

No início do ano, contratos futuros mais longos foram negociados com um alto prêmio em relação ao vencimento mais próximo, devido ao receio que algumas regiões ficariam sem espaço para armazenar petróleo.

Mas os estoques começaram a cair há alguns meses com a maior atividade das refinarias, impulsionada pela forte demanda por gasolina. Ao mesmo tempo, um acordo nuclear entre o Irã e seis potencias mundiais criou a expectativa de que, com o levantamento das sanções, o Irã poderia elevar as exportações de petróleo no fim de 2015 e em 2016. Tudo isso fez os preços do petróleo cair nos contratos futuros mais distantes.

“As empresas [de petróleo] estão sofrendo mais hoje do que dois meses atrás”, diz Will Riley, gerente de portfólio na Guinness Atkinson Asset Management Inc., que administra cerca de US$ 300 milhões em investimentos em ações de empresas do setor.

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter