Delfim Netto alerta para as falhas de investimentos em Defesa e o risco sobre a soberania da água brasileira

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Júlio Ottoboni
Especial para o DefesaNet

O ex- ministro e pai do ‘milagre econômico brasileiro’, Prof. Antônio Delfim Netto, fez um alerta altamente significativo sobre a falta de investimentos e atenção ao setor da indústria de defesa e segurança no país.

“As pessoas levam essa questão da defesa um pouco na brincadeira e se esquecem de que o Brasil tem tudo que os outros querem. Nós temos que ter a capacidade de dissuasão antes de queiram tomar a água da gente”, declarou para uma salão lotado no evento da Associação Brasileira de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE) realizado na quarta-feira (12) de agosto no auditório do Comando Militar do Sudeste (CMSE), em São Paulo.

A importância das declarações de Delfim Netto foi além do próprio foco da apresentação da pesquisa inédita “Estudo Cadeia de Valor e Importância Socioeconômica da Indústria de Defesa e Segurança no Brasil”, feita pela FEA- USP e FIPE, sob coordenação do professor Joaquim Guilhoto.  

“ A tendência do governo, não é na verdade dos economistas do governo, que se pode deixar a defesa para depois. O Brasil exporta água, temos os dois líquidos fantásticos, petróleo e água. Temos que ter o mínimo de defesa dissuasiva”, comentou o ex-ministro.

Sua fala, no entanto, voltou a abordar o perigo de não se ter um país aparelhado para um confronto que ofenda sua soberania e mesmo uma invasão externa. Delfim disse que é totalmente ultrapassado o argumento que inexistem riscos para o Brasil, que é um país sem conflitos, ataques a sua soberania e território ou possibilidades de conflito armado. “A prioridade da indústria de defesa é um pouco maior do que pensam os ingênuos”, ressaltou.

Nesta esteira, a ABIMDE quer apresentar a sociedade civil e aos congressistas a importância da indústria de defesa para o país. O ministro da Defesa, Jaques Wagner, não compareceu ao evento, entretanto mandou uma mensagem que foi lida em plenário. Nela, ele diz que “é imprescindível que a sociedade conheça a importância da indústria de Defesa no Brasil”.  No entanto, o próprio presidente da ABIMDE, Sami Hassuani, reconheceu que “nem a área econômica do governo nos conhece, vamos mandar esse estudo para eles”.

Segundo Hassuani, mesmo em países de vanguarda econômica que passam por crises econômicas e recessão, nunca se deixa de investir em defesa. Isso ocorre pelo fato de um país estar alicerçado no tripé formado por soberania geopolítica, riqueza econômica e exportação.  Esses fatores estão presentes em todas as grandes potências mundiais.

“As grandes nações não descuidam dos investimentos em defesa”, reforçou o presidente da associação.

O estudo feito com base de dados do IBGE, Ministério da Defesa, PM estaduais, Polícia Federal e segurança privada é, no mínimo, surpreendente.  Em 2014 foram investidos R$ 110 bilhões, sendo R$ 25 bilhões em Defesa, R$ 7 bilhões em segurança nacional, R$ 47 em segurança estadual e R$ 31 bilhões em segurança privada. O Estado atualmente investe menos que o setor privado em segurança. Em insumos são gastos  mais R$ 8 bilhões, insumos primários cerca de R$ 13 bilhões  e em atividades terciárias outros R$ 71 bilhões, dando um gasto total direto e indireto de 3,7% do PIB em 2014, no valor de R$ 202 bilhões.

Outro dado interessante é o crescimento do PIB brasileiro entre 2009 e 2014, que ficou em 17%. No mesmo período, a alavancagem do setor de defesa não passou de 12,9%.

“O setor de defesa nacional não é maior que da segurança privada, isso é algo que precisa ser analisado pelo grau de importância”, observou o professor Guilhoto.  Segundo seus estudos, o setor de defesa dentro da economia tem efeitos geradores maiores que os valores médios de outros segmentos. Um dos aspectos é que esse tipo de investimento gera mais empregos que a maioria dos outros segmentos e é crucial para aquisição de novas tecnologias.

Quando abordados sobre a movimentação dos programas de atração econômica dos Estados Unidos sobre as empresas do segmento aeroespacial e de defesa, tanto Delfim Netto quanto Hassuani foram evasivos.

Para o ex-ministro, o cluster brasileiro não corre riscos de ser seduzido pelas propostas norte americanas. “ Eu não acredito que vá migrar empresas para lá e nem ter um grande impacto sobre nossa indústria, cada um tem seus interesses”, evitando se aprofundar no assunto. Com a informação que grande parte das empresas do setor aeroespacial e de defesa mostrou interesse em se internacionalizar nos Estados Unidos foi irônico: “Provavelmente o consul dos Estados Unidos fez uma boa análise quanto ao grau de interesse brasileiro”.

O presidente da ABIMDE disse que a entidade não tem empresas associadas sob esse guarda chuvas de interesses do SelectUSA. Como também é presidente da AVIBRAS e esteve na palestra ocorrida no CECOMPI de São José dos Campos com os agentes do governo de Barack Obama, disse não haver interesse na proposta. “O efeito é marginal, está longe do nosso interesse”, reforçou.

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