EMBRAER 190 – A Navegação de um Projeto

Nota DefesaNet

Texto publicado originalmente em 13 Fevereiro 2004. Adições para atualizar  texto.
 

Nelson During
Edito-chefe DefesaNet

 

Na segunda-feira (09FEV04), a EMBRAER apresentou o terceiro membro da família EMB170/190. Presente a vários momentos significativos, ao longo desses últimos cinco anos, do Programa EMB170/190, fazemos uma navegação nesses momentos e eventos.

A Brisa: em 1999, em uma quente manhã , de Junho, no Salão de Le Bourget, Maurício Botelho anunciava o programa EMB170/190, e ao seu lado,  Maurice Sutter da suíça Crossair, já anunciava a primeira encomenda. Seguiram-se outras vendas modestas, mais apoiadas pela GE Capital GECAS),  que apoiava sua empresa irmã, a GE Aircraft Engines parceira de risco do programa.

Assim como o programa avançava, e 2000 foi um ano excepcional de vendas na família EMB145, o meio aeronáutico observava o programa. Aos poucos as minutas dos contratos começavam a chegar à mesa de Maurício Botelho. A consistência técnica do programa, suas metas alcançadas anuviava as desconfianças para o grande  projeto, daquela empresa brasileira produtora de pequenos  jatos.

Os ventos mudam: o  ano de 2001 começou com vendas escassas no mercado de aviões regionais. O mercado de aviação civil mostrava sinais de crise e o  climax é atingido, na manhã de 11 de Setembro de 2001. Enquanto as Torres Gêmeas do World Trade Center ruíam, os contratos, alguns inclusive já em reta final, para venda do EMB170/190, viravam cinzas.

A tormenta: Semanas após o ataque a EMBRAER demite 1.700 empregados. As empresas de aviação uma a uma, começam a afundar em crises e suas ações perdem valor substancialmente. São vistas pelo mercado como "loss money business". O roll-out do EMB170, em 29 de Outubro  de 2001, foi uma festa tensa: sindicato no portão contra as demissões, imprensa local crítica, e os rumores crescentes de cancelamentos de compras tanto do novo EMB170/190, como para a linha ERJ145 . Os dois Maurícios encontram-se e mostram certeza no futuro. Uma bonita festa é realizada e a empresa mostra confiança no futuro.

O Furacão: o pós 11 de setembro é devastador. A indústria de aviação civil, que já sofria de uma saúde financeira asmática, pega pneumonia dupla. Primeiro a não confirmação das opções de compras e após cancelamentos, aviões novos não são retirados pelos compradores. A Swissair entra em crise financeira e o governo da Suíça força uma fusão com a Crossair. Resultado a encomenda dessa empresa passa a ter o  risco de ser cancelada ou no mínimo reduzida.

O Núcleo do Furacão: Lastreada nas encomendas da família ERJ145 a Embraer sai à luta para trazer meios de como viabilizar, as negociações dos EMB170/190. Algumas vendas residuais para Alitalia e LOT. Porém onde arranjar financiadores de exportação dos jatos? Negociações com as empresas: regionais, low fare, "fractionals". Como superar o "Scope Clause", que cria um vácuo no segmento dos aviões de 70-110 passageiros? Concorrentes sucumbem como a Dornier.

A Bonança I: A US Airways contrata David Siegel, para sair do Chapter 11(Concordata), o mesmo que abriu as portas do ERJ145  na Continental e ao mercado americano. Companhias  Low Fare (JetBlue) aproximam-se . Porém as Scope Clause ainda travam as negociações.

A Bonança II: Após sair da tempestade a primeira ação é avaliar os danos e a EMBRAER avaliou que estava em bom estado, porém duas palavras eram cruciais: Crédito e Scope Clauses. O projeto avança e passa as etapas de engenharia e dá início aos testes de certificação sem maiores dificuldades.

A Bonança III:  Corrida para garantir créditos, junto a cálculos estruturais e aerodinâmicos estão  ao lado de complicadas engenharias financeiras. Os bancos estão arredios, a capacidade de crédito estatal brasileira é limitada. Surgem os contratos com a US Airways, segue s JetBlue e no Fim do Ano, na terra do inimigo, a Air Canada.  A Scope Clause é vencida. A Honeywell não consegue terminar todos os procedimentos burocráticos para a certificação do avião e é atrasado de 2003 para 2004, Aviões prontos são estocados no pátio. Até sambas, a pedido do BNDES, entram nas difíceis negociações com o banco de crédito estatal.

O Porto (a batalha começa): A data de 9 de Fevereiro(2004) marca o roll-out do modelo EMB190. O projeto do grande avião da empresa brasileira produtora de jatos pequenos, já não é visto como curiosidade. Os dois grandes (AIRBUS e BOEING) dizem não temer, mas … analisam e o então terceiro produtor mundial (BOMBARDIER), anuncia que iniciará o desenvolvimento de um avião de 110-130 passageiros.

Como disse Maurice Sutter, em 2001, "è o avião do tamanho certo no momento certo."

A EMBRAER projetou, desenvolveu e produziu o maior avião civil já realizado fora da: Europa, Estados Unidos ou Rússia. Defesanet envia seus cumprimentos à Direção, Equipes Técnicas e Funcionários pela realização desse projeto de Engenharia Aeronáutica,  Financeira e de Estratégia.   

No dia 09FEV04, os dados de venda eram 245 ordens firmes e  305 opções A Empresa informou que o contrato com a Air Canada está próximo e serão mais 45 aviões firmes.

Hoje (Base 30SET12) são:

Pedidos Firmes        1063
Opções                       579
Entregues                   885
Pedidos Firmes em carteira   178

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