Maduro diz há acordo com delegação dos EUA sobre agenda de trabalho

O autocrata da Venezuela, Nicolás Maduro, disse na segunda-feira que concordou com uma agenda para futuras negociações com uma delegação dos Estados Unidos que ele encontrou no sábado, a primeira reunião de alto escalão entre os dois países em anos.

Autoridades dos dois países discutiram a flexibilização das sanções petrolíferas ao país sul-americano, mas fizeram pouco progresso para chegar a um acordo, disseram cinco fontes familiarizadas com o assunto à Reuters no domingo, parte dos esforços dos EUA para separar a Rússia de um de seus principais aliados.

"No último sábado à noite, uma delegação do governo dos Estados Unidos da América chegou à Venezuela, eu a recebi aqui no palácio presidencial", disse Maduro em uma transmissão na mídia estatal. "Tivemos uma reunião, posso descrevê-la como respeitosa, cordial, muito diplomática", afirmou.

A reunião durou duas horas, disse ele, sem especificar os tópicos discutidos ou quem eram os delegados dos EUA. Fontes disseram anteriormente à Reuters que a delegação dos EUA era liderada por Juan Gonzalez, o principal assessor da Casa Branca para a América Latina, o embaixador dos EUA James Story, bem como Roger Carstens, enviado especial presidencial dos Estados Unidos para assuntos de reféns.

Mais cedo, a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o objetivo da viagem era discutir uma série de questões, incluindo "segurança energética" e os casos de nove cidadãos norte-americanos que estão presos na Venezuela. As negociações continuarão, declarou Maduro, sem divulgar uma data.

Delegação dos dos EUA viajou à Venezuela e falou sobre energia com governo Maduro¹

A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, durante sua entrevista coletiva diária em Washington, em 7 de março de 2022 (AFP/Nicholas Kamm) (Nicholas Kamm)

Uma delegação dos Estados Unidos conversou com o autocrata venezuelano, Nicolás Maduro durante uma visita a Caracas no fim de semana, informaram os governos dos países na segunda-feira.

A Casa Branca, que não reconhece Maduro como presidente depois de considerar sua reeleição fraudulenta em 2018, afirmou que o tema energia foi debatido, no momento que os Estados Unidos buscam reduzir as importações de petróleo da Rússia, um aliado chave da Venezuela, após a invasão da Ucrânia.

"O propósito da viagem dos funcionários do governo americano foi discutir uma variedade de temas que incluem certamente energia, segurança energética", declarou a porta-voz do governo Joe Biden, Jen Psaki.

Maduro confirmou durante a noite de segunda-feira a reunião, que descreveu como "respeitosa, cordial e diplomática", sem entrar em detalhes sobre os temas abordados.

"Fizemos a reunião no gabinete presidencial", disse em um discurso na televisão. "Lá estavam as duas lindas bandeiras, unidas como deveriam estar as bandeiras dos Estados Unidos e da Venezuela. Tivemos quase duas horas de conversa".

"Pareceu muito importante poder, cara a cara, conversar sobre temas de máximo interesse da Venezuela", acrescentou. "Ratifico, como disse à delegação, toda nossa vontade de diplomacia, de respeito e da máxima esperança de um mundo melhor. Podemos avançar em uma agenda que permita o bem-estar e a paz dos povos de nosso hemisfério, de nossa região".

A Venezuela não tem relações diplomáticas com Washington desde 2019, quando o governo dos Estados Unidos reconheceu como presidente encarregado o líder opositor Juan Guaidó e impôs uma série de sanções sobre Caracas na tentativa de forçar a saída de Maduro.

As medidas incluem um embargo vigente desde abril de 2019 que impede a Venezuela de negociar o seu petróleo – que representava 96% das receitas do país – no mercado americano.

Desde então, Maduro recebe forte apoio da Rússia para continuar exportando petróleo, apesar das medidas punitivas de Washington.

Psaki acrescentou que a delegação também falou sobre a situação de cidadãos e residentes americanos detidos pelo governo Maduro, incluindo seis executivos da Citgo – filial nos Estados Unidos da estatal venezuelana PDVSA, presos na Venezuela em 2017.

Contudo, a porta-voz Psaki enfatizou que as conversas sobre energia e o destino dos detidos são "temas separados".

"Houve uma discussão com os membros do governo no decorrer nos últimos dias", assinalou a porta-voz. "E parte de nossa abordagem também está na saúde e no bem-estar dos cidadãos americanos detidos".

Nos últimos anos, Washington também pediu a libertação do ex-fuzileiro naval Matthew Heath, preso em setembro de 2020 sob a acusação de "espionagem"", e de dois veteranos militares, Airan Berry e Luke Denman, acusados de planejar um ataque marítimo fracassado para derrubar Maduro em maio de 2020.

Segundo o jornal The New York Times, a visita a Caracas de altos funcionários do Departamento de Estado e da Casa Branca segue o suposto interesse de Washington de substituir parte do petróleo que compra atualmente da Rússia com o que deixou de comprar da Venezuela.

Aliado de Moscou, Maduro alertou para o perigo de uma expansão do conflito na Ucrânia para "uma terceira guerra mundial" e para os "impactos brutais" nos preços da energia, dos alimentos e transporte.

"Estamos tocando a campainha de alerta (…) ao mundo inteiro", disse Maduro, que pediu respeito aos corredores humanitários na Ucrânia e que "o conflito militar não seja intensificado".

Reunião com a oposição venezuelana

Psaki não revelou os integrantes da delegação do governo de Biden, mas algumas fontes vazaram os nomes de Juan González, diretor para as Américas do Conselho de Segurança Nacional de Biden, Roger Carstens, enviado presidencial especial para questões de reféns, e Jimmy Story, embaixador dos Estados Unidos na Venezuela, baseado em Bogotá.

Pelo governo venezuelano participaram Maduro, sua esposa Cilia Flores, além do presidente do Parlamento, Jorge Rodríguez.

Guaidó informou mais cedo que teve um encontro com os altos funcionários do governo americano, que também se reuniram com Gerardo Blyde, chefe da delegação da oposição em um processo de negociação com o governo no México, que está suspenso desde outubro e que, segundo Maduro, será reativado "com muita força".

O anúncio também coincide com a visita da delegação dos Estados Unidos, que há meses pede a retomada das negociações. De fato, Washington sinalizou no mês passado que estaria disposto a revisar a política de sanções "se avanços consideráveis fossem registrados no âmbito destas negociações".

Maduro ordenou a suspensão das negociações no México em retaliação à extradição para os Estados Unidos por Cabo Verde de Alex Saab, um colaborador próximo do presidente chavista e acusado de lavagem de dinheiro.

"O diálogo no México recebeu um tremendo golpe, como vocês sabem, mas se estamos pedindo diálogo para o mundo, temos que dar o exemplo no país e vamos reformatar o processo de diálogo nacional", disse Maduro.

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