Rússia e Reino Unido aceitam retomar diálogo sobre crise na Ucrânia

As potências ocidentais buscam uma solução diplomática para a crise com o governo russo, que mantém as tropas na fronteira com a Ucrânia. Neste sábado (22), os ministros da Defesa da Rússia e do Reino Unido concordaram em se reunir, em Moscou, para discutir a tensão russo-ocidental.

O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, concordou em se reunir com o secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, para discutir a crise a Ucrânia.

A última reunião bilateral entre os dois países ocorreu em Londres, em 2013. Shoigu teria proposto o novo encontro, segundo uma fonte do Ministério da Defesa britânico. Wallace disse que "explorará todas as maneiras para alcançar a estabilidade e a resolução da crise ucraniana.

Os dois países concordaram em manter discussões "francas" na próxima semana. Para o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, há esperança de que uma invasão militar russa ou incursão na Ucrânia "não aconteça". A Rússia é acusada pelo Ocidente de ter reunido dezenas de milhares de soldados na fronteira na Ucrânia para preparar um ataque.

O Kremlin nega suas intenções militares, mas insiste na retirada das tropas estrangeiras dos países da OTAN de todos os territórios que aderiram à Aliança após 1997. A lista inclui 14 países do antigo bloco comunista, incluindo a Bulgária e a Romênia, que fazem parte da União Europeia.

Os ocidentais consideram as condições inaceitáveis e ameaçam a Rússia de sanções em caso de ataque. Na sexta-feira (21), os chefes da diplomacia russa e americana, Sergei Lavrov e Antony Blinken, conversaram em Genebra. O encontro aconteceu após duas conversas telefônicas entre os presidentes Vladimir Putin e Joe Biden, ocorridas em dezembro.

A esperada reunião sobre a crise ucraniana entre os chefes da diplomacia das duas potências, no entanto, terminou sem resultados concretos. Os dois lados, porém, "concordaram que um diálogo razoável é necessário" e representantes russos e americanos marcaram um encontro "para a próxima semana".

Alemanha vai enviar hospital de campanha

A Alemanha anunciou neste sábado que enviará um "hospital de campanha" à Ucrânia no mês de fevereiro. O custo da unidade de saúde e formação de pessoal para operá-la foi estimado em € 5,3 milhões, de acordo com o governo alemão.  O anúncio foi feito pela ministra alemã da Defesa,Christine Lambrecht.

De acordo com ela, os soldados ucranianos gravemente feridos já são tratados nos hospitais do exército alemão. "Estamos ao lado de Kiev e devemos fazer tudo o que esteja ao nosso alcance para ajudar a superar a crise", declarou. O país é contra a ideia de entregar armas para a Ucrânia e estima que isso apenas agravará as tensões.

Rússia e EUA concordam em se reunir na próxima semana para discutir a crise na Ucrânia¹

A Rússia e os Estados Unidos se reunirão "na próxima semana" depois de manter conversas "francas" nesta sexta-feira (21) sobre a crise em torno da Ucrânia, em cuja fronteira as forças militares russas ainda estão concentradas.

A reunião de hoje em Genebra entre os chefes da diplomacia russa, Serguei Lavrov, e americana, Antony Blinken, é a mais recente de uma série de iniciativas diplomáticas que começaram com duas conversas telefônicas entre Vladimir Putin e Joe Biden em dezembro.

Embora o tom tenha sido "franco e substancial", de acordo com Blinken, pouco serviu para acalmar as tensões após semanas de escalada verbal.

Serguei Lavrov disse que concordou com o secretário de Estado dos EUA com "um diálogo razoável" para "acalmar as emoções" após menos de duas horas de reunião.

Washington acredita que a perspectiva de uma incursão militar russa na Ucrânia é cada vez mais provável, com dezenas de milhares de soldados posicionados há semanas perto de seu vizinho pró-ocidental.

O chefe da diplomacia dos EUA pediu à Rússia que mostre que não tem intenção de invadir seu vizinho e "uma boa maneira de começar seria diminuir a escalada, retirar essas forças da fronteira com a Ucrânia", disse Blinken.

O Kremlin nega qualquer intenção bélica, mas condiciona a desescalada à assinatura de tratados que garantam a não expansão da OTAN e a retirada da Aliança do Leste Europeu. Algo inaceitável, segundo o Ocidente, que ameaça a Rússia com duras sanções se atacar a Ucrânia.

Blinken concordou em colocar "ideias" na mesa na próxima semana, mas não disse se elas atenderiam às exigências detalhadas dos russos. No entanto, o americano alertou que haveria uma resposta mesmo em caso de agressão "não militar" da Rússia contra a Ucrânia.

"Não sei se estamos no caminho certo", disse Lavrov, enquanto seu colega garantiu que "agora estamos no caminho certo para entender as preocupações e posições um do outro".

Os dois homens concordaram em se encontrar novamente, e Blinken não descartou uma cúpula entre Joe Biden e Vladimir Putin. Uma ideia que Lavrov considerava prematura.

Retorno à OTAN de 1997

Como sinal da complexidade da situação, a diplomacia russa escolheu esta sexta-feira, dia das negociações, para insistir na retirada das tropas estrangeiras dos países da OTAN que aderiram à Aliança após 1997.

Moscou mencionou especificamente a Bulgária e a Romênia, embora a lista inclua 14 países do antigo bloco comunista. Uma exigência inaceitável, segundo o Ministério das Relações Exteriores romeno, que ecoou a posição de todos os membros da Aliança.

O serviço de inteligência militar da Ucrânia acusou Moscou nesta sexta-feira de continuar a "fortalecer as capacidades de combate" dos separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia, com tanques, sistemas de artilharia e munição.

A Rússia é considerada, apesar de suas negações, como a principal apoiadora desses combatentes e instigadora do conflito que deixou mais de 13.000 mortos desde 2014. Nesse mesmo ano anexou a Crimeia em resposta a uma revolução pró-ocidental em Kiev.

O presidente da câmara baixa russa, Viacheslav Volódin, anunciou que o Parlamento vai debater na próxima semana um pedido para Putin reconhecer a independência dos dois territórios separatistas de Donetsk e Lugansk.

A reunião de Genebra conclui uma viagem pela Europa de Antony Blinken para se encontrar com seus aliados ucranianos, alemães, franceses e britânicos.

Europeus e americanos insistiram que Moscou enfrentará duras sanções se atacar a Ucrânia. Uma ameaça que o Kremlin ignorou por oito anos e que não o fez mudar sua política.

Para Moscou, o principal objetivo é fazer a OTAN recuar, já que a aliança é percebida como uma ameaça.

Para os americanos, uma retirada da Europa não é uma opção, embora o governo Biden diga que está disposto a discutir os temores russos por sua segurança.

Uma possibilidade seria trabalhar no extinto tratado de desarmamento nuclear assinado durante a Guerra Fria, que o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, enterrou.

Enquanto isso, Moscou continua a demonstrar seu poderio militar. Os exemplos mais recentes são exercícios militares em Belarus, ao norte da Ucrânia, e exercícios navais em grande escala em janeiro e fevereiro no Atlântico, Ártico, Pacífico e Mediterrâneo.

¹com AFP

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