Mensagem do Senador da República Hamilton Mourão (também General de Exército) pelos 80 anos da Vitória na Segunda Guerra Mundial
Hamilton Mourão
Senador da República
Brasília/DF, 08 de maio de 2025.
Nesta data, falar sobre a Força Expedicionária Brasileira (FEB) é um dever de justiça, a nação precisa homenagear e exaltar os feitos dos bravos soldados brasileiros, buscando transmitir uma mensagem importante sobre valores para as gerações mais novas.
Hoje, 08 de maio de 2025, no dia em que o mundo ocidental comemora os 80 anos da vitória aliada na 2ª Guerra Mundial, é preciso lembrar dos feitos da nossa 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, que corajosamente lutou nos campos da Itália, nos anos de 1944 e 1945.
Voltando nossos olhos para o passado, recordemo-nos do final da década de 1930 e do início da década de 1940, época em que o mundo começou a despertar sobre os perigos do autoritarismo e do expansionismo da Alemanha sob o domínio de Hitler, principalmente após a anexação dos Sudetos e a invasão da Polônia.
Aqui na América do Sul, a guerra parecia muito distante, mas creiam…havia setores políticos e da sociedade que admiravam a ascensão da Alemanha e seu nacional socialismo. Lembro, também, que o Brasil vivia sob a égide do Estado Novo e Getúlio Vargas, em certa medida, governava o País com ferramentas de um regime de força.
O Brasil, conforme sua secular tradição diplomática, buscava manter a neutralidade e o pragmatismo face aos acontecimentos na Europa e até mesmo em relação a algumas tendências políticas no ambiente doméstico.
Mas, aos poucos, foram soando as trombetas da guerra, as tratativas para a instalação de bases aéreas para apoio aos EUA em nosso território motivaram o início de ações hostis dos submarinos alemães contra navios brasileiros, ceifando a vida de quase mil irmãos que pereceram no mar.
Getúlio, pressionado pela conjuntura e pelo extremado clamor popular, teve que reconhecer, em 22 de agosto de 1942, um estado de beligerância entre o nosso País, a Alemanha e a Itália.
Era a guerra, mas muitos duvidavam que a nação e seus filhos iriam realmente empenhar todas as suas capacidades para cruzar o Atlântico e, com sangue, vingar a injusta agressão e a morte dos nossos compatriotas.
E foi nesse contexto que surgiu a ideia do distintivo usado na manga esquerda dos uniformes dos expedicionários, com uma cobra fumando, uma resposta clara à descrente opinião pública da época, que dizia que era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra.
Em 1943, foram expedidas as diretrizes de organização da FEB. Mas o mundo daquela época era outro, a velocidade dos eventos era muito menor e o País teve que empreender um esforço hercúleo para viabilizar a sua efetiva participação militar no conflito.
Inicialmente, foi desencadeada a mobilização, sucedida por uma concentração estratégica e intensos ciclos de treinamento e adestramento que objetivavam romper o paradigma da antiga doutrina oriunda da Missão Francesa e adaptar a tropa às novas condições de combate.
Os efetivos humanos, verdadeiro retrato multiétnico e democrático de nosso povo, foram concentrados na região da Vila Militar do Rio de Janeiro e o campo de Gericinó foi o cenário dos duros treinamentos aos quais nossos militares foram submetidos para que, no dia 02 de julho de 1944, a bordo do navio norte-americano General Mann, pudesse o 1º contingente da FEB partir para a guerra.
Ao todo 25.834 homens e mulheres foram deslocados para Teatro de Operações de Guerra da Itália, aonde lá chegaram para adotar os preparativos operacionais finais, antes da entrada em combate. Lá na Itália, a FEB recebeu novos armamentos e equipamentos, buscando estar apta para combater lado a lado com as outras divisões aliadas.
Em 16 de setembro de 1944, deu-se o batismo de fogo da FEB, marco inicial de uma campanha cheia de dificuldades logísticas, moldada por um inverno rude e inclemente, mas também plena de significativas vitórias e belas histórias de companheirismo, sacrifício e coragem; protagonizadas não por uma elite, mas sim por pessoas simples e de origem humilde, sem dúvida legítimos heróis brasileiros.
Seguiram-se as operações da FEB, que se desenvolveram em quatro fases distintas: inicialmente as operações no vale do rio Serchio, seguidas das operações no vale do rio Reno e rio Panaro e culminando com a perseguição ao sul do rio Pó e a rendição, nos dias 29 e 30 de abril de 1945, de quase 20.000 militares remanescentes de quatro divisões inimigas, sendo duas alemãs (a 148ª Divisão de Infantaria e a 90ª Divisão Blindada) e duas italianas (a 1ª Divisão Bersaglieri e a 4ª Divisão de Montanha “Monte Rosa”); feito inédito na doutrina e na história militar.
Mas o caminho para a vitória foi longo e penoso. Os nossos bravos militares tiveram que atuar em um terreno acidentado, com difíceis condições de trafegabilidade, fustigados pela neve e pelo frio que auxiliava a missão de um inimigo experiente e que ocupava posições defensivas fortificadas.
A FEB participou e venceu batalhas difíceis e decisivas, como as de Monte Castello, Castelnuovo, Montese, Collecchio e Fornovo di Taro; lá nossos soldados infligiram severas perdas a um inimigo experiente, tenaz e testado em combate; contribuindo para a libertação de territórios ocupados e para o fim do conflito na Europa.
Mas uma guerra sempre cobra um preço alto em vidas humanas e o Brasil entregou 478 de seus filhos em verdadeiro holocausto à liberdade e à democracia. Nossos bravos que tombaram foram sepultados no Cemitério de Pistóia e, posteriormente, em 1960, transladados para o Brasil, onde repousam no mausoléu do Monumento Nacional ao Mortos da 2ª Guerra Mundial, no Rio de Janeiro. Trazer os nossos mortos de volta, foi uma missão de vida para o incansável gaúcho Mascarenhas de Morais, general que comandou a FEB na Itália. Sobre isso, ele assim dizia: “Eu os levei para o sacrifício, cabe-me trazê-los de volta”, cumpriu sua promessa.
Nas páginas de glória escritas pela FEB, destacam-se nomes mais conhecidos como o do Major Apollo Resk, do Capitão Ernani Ayrosa da Silva, do Tenente Amaro Felicíssimo da Silveira, do Tenente Ary Rauen, do Aspirante Francisco Mega, do Sargento Max Wolff Filho; e dos Soldados Geraldo Baeta da Cruz, Arlindo Lúcio da Silva e Geraldo Rodrigues de Uza; que em máximo sinal de respeito pela bravura em combate foram dignamente sepultados pelo inimigo.
Ao retornar para o Brasil, a FEB foi recebida com emoção pelo povo do Rio de Janeiro, mas logo dissolvida em claro ato político de um governo totalitário e que temia as influências daquele fenômeno onde uma nação orgulhosa exaltava e vibrava com o retorno dos que lutaram pela democracia. Os pracinhas foram desmobilizados e literalmente “abandonados”, não havendo nenhuma política de apoio psicológico, de saúde ou de reintegração à sociedade. Tal injustiça só foi parcialmente reparada depois de décadas.
Ainda hoje, na Itália, nas cidades onde a FEB passou, há um sentimento de gratidão eterna, pois como diziam os antigos, “gratidão é virtude que não prescreve”. Aqui no Brasil, é preciso um trabalho de convencimento para que esses homens tenham seus nomes colocados no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, isso sim seria justiça e gratidão.
Hoje, nossos pracinhas são menos de 50, por isso urge que o Brasil conheça, admire e cultue esses poucos e bravos heróis da FEB que estão vivos. São homens que provaram ao mundo o seu patriotismo, a sua coragem e demonstraram o espírito de sacrifício do povo brasileiro. Sim, nós brasileiros temos heróis de verdade e não precisamos de heróis artificiais, de internet ou importados do exterior.
Em verdade, a FEB e nossos bravos “pracinhas” brasileiros, junto dos irmãos marinheiros e aviadores; protagonizaram feitos gloriosos na Itália, conquistando o respeito internacional e consolidando a presença do Brasil entre as nações do mundo ocidental que verteram o sangue de seus filhos na luta pela democracia e pela paz mundial.
Por derradeiro e para reflexão, deixo o pensamento de Péricles, líder democrata ateniense, chefe de Estado de Atenas por 14 anos, que teve grande e benéfica influência na construção da democracia grega, que disse: “Aquele que morre por sua Pátria, serve-a mais em um só dia que os demais em todas as suas vidas”.
Aos bravos da FEB, honra e glória para sempre!