Saiba mais sobre a al-Qaeda, rede terrorista criada por Bin Laden

O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou nesta segunda-feira (2) a morte do terrorista Osama bin Laden, criador da rede terrorista da al-Qaeda.

Mais conhecida mundialmente após os ataques de 11 de setembro de 2001, a al-Qaeda, rede terrorista internacional criada por Osama bin Laden no final dos anos 1980, tem como meta tentar barrar a influência ocidental em países muçulmanos e substituir seus governos por regimes fundamentalistas.

Estudiosos, no entanto, tendem a discordar da percepção comum no Ocidente de que a al-Qaeda seja uma organização terrorista poderosa, composta por milhares de homens treinados e presentes em todos os continentes prontos para cumprir as ordens de seu líder. “Em vez disso, essa ameaça é nova e diferente, complexa e diversificada, dinâmica e multiforme e extremamente difícil de ser definida”, diz o jornalista norte-americano Jason Burke no livro “al-Qaeda – A verdadeira história do radicalismo islâmico” (Ed. Zahar).

"Mesmo em sua fase mais organizada, no final de 2001, não podemos ver a al-Qaeda como uma organização terrorista coesa e estruturada, com células por toda parte, ou imaginar que tivesse absorvido todos os outros grupos em suas redes."

O próprio nome “al-Qaeda” é controverso. Segundo Burke, a palavra que em árabe pode definir desde uma base ou um lar até um alicerce ou pedestal, já era usada em meados dos anos 1980 entre radicais islâmicos vindos de todos os cantos para defender o Afeganistão da invasão soviética, deflagrada em 1979.
 

Mentor espiritual de Bin Laden, Abdallah Azzam também usava a palavra para se referir ao papel desempenhado pelos volutários não-afegãos atraídos de outros países para lutar mesmo depois do fim da guerra contra os soviéticos, conforme o autor. “Bin Laden e um grupo de companheiros aceitaram a sugestão e, provavelmente em agosto de 1988, criaram, na cidade de Peshawar, na parte ocidental do Paquistão, um grupo militante”, escreve.

Bin Laden deixou o Paquistão em 1989 e voltou para sua terra natal, a Arábia Saudita, onde, em 1990, ofereceu um exército de militantes islâmicos para proteger o país de Saddam Hussein, que invadira o vizinho Kuwait. A ajuda foi recusada e ele deixou o país em 1991, rumo ao Sudão, onde ficou até 1996, quando se fixou no Afeganistão.

É neste período, de acordo com Burton, até 2001, que começou a funcionar algo parecido com a al-Qaeda, da forma como é concebida hoje. “No entanto, mesmo em sua fase mais organizada, no final de 2001, não podemos ver a al-Qaeda como uma organização terrorista coesa e estruturada, com células por toda parte, ou imaginar que tivesse absorvido todos os outros grupos em suas redes”, adverte o autor.

Convivência com o Talibã
De volta ao país que havia ajudado a defender da invasão soviética, Bin Laden não tardou a se aproximar de outro grupo militante que envolvia aprendizes do Islã sunita que pegavam em armas: o Talibã. Com financiamento paquistanês, o grupo havia tomado a capital, Cabul, em 1996 e implantado um governo islâmico radical no país.

A princípio um opositor do Talibã, Bin Laden mudou de lado após um encontro com um de seus líderes, Mullah Mohammed Omar. Com o apoio de Omar, sua al-Qaeda estava segura para agir no Afeganistão.

“O Talibã teve inigualável sucesso, pois implementou uma teocracia austera e puritana às quais desejavam a al-Qaeda e outro grupos jihadistas. Apesar de só ser reconhecido por três países (Paquistão, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita), o minicalifado sob as ordens de Mullah Omar reinou à vontade para realizar seus experimentos entre 1996 e 2001”, escreveu Abdel Bari Atwan no livro "Historia secreta da al-Qaeda" (Ed. Larousse).

A partir da manhã de 11 de setembro de 2001, quando 19 membros do grupo tomaram quatro aviões de carreira nos Estados Unidos e jogaram contra as torres do World Trade Center e do Pentágono, no maior atentado do tipo na história do país, era impossível não identificar mais a al-Qaeda.

Os Estados Unidos invadiram o Afeganistão para tentar destruir as bases da organização e depor o Talibã, cujo regime fundamentalista islâmico abrigara Bin Laden e seus seguidores. As principais lideranças da al-Qaeda, então, fugiram para o Paquistão, instalando-se em áreas tribais na fronteira com o Afeganistão pouco controladas pelo governo.

Alguns analistas acreditam que o grupo de Bin Laden continua a treinar militantes terroristas em áreas tribais paquistanesas e que seria responsável por introduzir a prática dos atentados suicidas com bombas entre membros do Talibã no Paquistão e no Afeganistão.

Entre os diversos ataques atribuídos ao grupo, estão o que matou 191 pessoas no metrô de Madri, em março de 2004, o que atingiu o sistema de transporte público de Londres (ônibus e metrôs) em julho de 2005 e o atentado suicida que matou a ex-primeira-ministra paquistanesa Benazir Buttho.

Por sua organização descentralizada, é impossível precisar quantos membros compõem hoje a al-Qaeda. Os Estados Unidos estimam em centenas ou até milhares de militantes espalhados por diversos países, com uma concentração de lideranças no Paquistão.

Relatório do Departamento de Estado dos EUA de 2008 afirma que a rede terrorista incorpora membros de outros grupos no Oriente Médio, sul da Ásia, África, Europa e Ásia central “que continuam a planejar ataques contra os Estados Unidos e outras nações ocidentais”.

A julgar pela última tentativa de atentado que assustou os EUA, assumido por um braço armado da al-Qaeda da Península Arábica no Iêmen, a localização do grupo terrorista parece ainda permanecer uma incógnita.

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