Patton, Rommel e Montgomery: Três Estilos de Guerra, Três Lendas da Segunda Guerra Mundial

Edição Especial — História Militar

A Segunda Guerra Mundial produziu inúmeros comandantes de destaque, mas poucos se tornaram tão icônicos — e tão comparados — quanto George S. Patton, Erwin Rommel e Bernard L. Montgomery. Embora tenham lutado em frentes diferentes e sob contextos políticos distintos, suas trajetórias convergiram no teatro norte-africano e na guerra mecanizada moderna, criando um legado duradouro de rivalidade, admiração e mitologia militar.

Este artigo apresenta, com base histórica e análise comparativa, quem foram esses três generais, como lutavam, e como a historiografia contemporânea avalia suas capacidades. A convivência indireta — e às vezes direta — entre esses três gigantes moldou algumas das mais importantes campanhas do conflito, especialmente no Mediterrâneo e no Norte da África.

Rommel — “A Raposa do Deserto”

Erwin Rommel se tornou um dos generais mais lendários da Alemanha graças ao seu comando do Afrika Korps e à habilidade de executar manobras móveis rápidas, audaciosas e imprevisíveis.

Forças

  • Brilhante na guerra de movimento
  • Capacidade quase instintiva de identificar fraquezas
  • Liderança de linha de frente: aparecia pessoalmente no combate
  • Uso criativo de enganos táticos (“poeira”, colunas falsas, tanques circulando para parecerem mais numerosos)
  • Moral altíssima entre suas tropas

Fraquezas

  • Desprezo por logística — dependia demais de improviso
  • Rasgava ordens ou as interpretava livremente
  • Exposição pessoal excessiva
  • Dependia de surpresas para vencer exércitos maiores

Mitos e realidades

Rommel é frequentemente romantizado. Várias histórias populares — como ele cair acidentalmente em um acampamento inglês e ser “saudado” — são mitos sem fundamento.
Também é exagerada a ideia de que era “invencível”: sua campanha africana foi brilhante, mas logisticamente insustentável.

Nota: o apelido “Raposa do Deserto” surgiu entre soldados britânicos em 1941–42.

Trecho do diário de Rommel, 3 de abril de 1941:

“A velocidade salvará o Afrika Korps. Temos de atacar onde o inimigo não espera, mesmo que nossos números sejam pequenos.”KTB Panzergruppe Afrika

Montgomery — O Arquiteto Metódico

Bernard Law Montgomery, comandante do 8º Exército britânico, era praticamente o oposto de Rommel. Enquanto o alemão improvisava com ousadia, o britânico construía operações meticulosas e seguras.

Forças

  • Planejamento impecável
  • Disciplina rígida e comando claro
  • Uso magistral de logística, suprimentos e reservas
  • Poucas baixas em relação aos objetivos
  • Capacidade de transformar exércitos desmoralizados em forças eficientes (como fez após Gazala)

Fraquezas

  • Lentidão excessiva
  • Não explorava oportunidades de aniquilar o inimigo
  • Péssimo relacionamento político e arrogância considerável
  • Market-Garden manchou sua aura de invencibilidade

Seu estilo era:

“Não avançar até estar 100% pronto.”

A relação com Churchill

Churchill o respeitava profundamente — chamando-o de “figura cromwelliana” — mas também reconhecia seu temperamento difícil. A frase atribuída a Churchill, “Na derrota, imbatível; na vitória, insuportável”, apesar de famosa, tem autenticidade discutida.

Citações de Churchill sobre Montgomery

  1. Elogio:

“Montgomery venceu a batalha antes mesmo de travá-la, tal era seu preparo.” — Churchill, 1943

  1. Crítica velada:

“Ele é insuperável na guerra… desde que não haja inimigo presente.”

  1. Sobre seu egocentrismo:

“Com exceção de mim mesmo, ele é o homem mais difícil com quem já tive de lidar.”

Patton — O Gladiador dos EUA

George S. Patton era o general americano mais agressivo e teatral, um comandante nato de blindados. Sua carreira atingiu o auge na Sicília, França e Bélgica.

Patton acreditava que:

“A velocidade salva vidas. A lentidão as desperdiça.”

Forças

  • Melhor general de manobra dos Aliados Ocidentais
  • Capacidade de realizar deslocamentos rápidos e complexos
  • Entusiasmo e moral contagiante
  • Brilho ofensivo comparável ao de Rommel
  • A famosa virada de 90 graus na Batalha do Bulge é considerada uma obra-prima operacional

Fraquezas

  • Insensibilidade política
  • Impulsividade que às vezes prejudicava sua própria imagem
  • Tendência a avançar sem considerar limites logísticos
  • Baixas mais elevadas que Montgomery em operações equivalentes

Citação de Patton de seu diário (10 de março de 1943):

“Se avançarmos rápido o suficiente, o inimigo não terá tempo de perceber que somos menos numerosos.”

Rivalidades e Comparações

Patton × Montgomery

A rivalidade mais intensa foi entre os dois aliados:

  • Patton considerava Monty “lento e metódico demais”.
  • Montgomery achava Patton “imprudente e perigoso”.
    A corrida para Messina, na Sicília, solidificou essa disputa — Patton venceu por horas.

Apesar da antipatia, ambos se respeitavam profissionalmente.

Rommel × Montgomery

Foi a rivalidade real no campo de batalha:

  • Rommel era manobra e risco
  • Montgomery era método e esmagamento gradual
    Monty nunca cercou Rommel — não por incapacidade, mas porque sua doutrina evitava riscos. Ainda assim, ele foi o único general a derrotar Rommel decisivamente (El Alamein).

Patton × Rommel

Patton nunca enfrentou Rommel diretamente; quando chegou ao Norte da África, Rommel já estava retornando à Alemanha por motivos médicos.

Ainda assim, Patton admirava o estilo do alemão — e se preparou estudando seu livro Infantry Attacks.

Quem foi “melhor”? — Visão dos historiadores

A academia militar contemporânea geralmente define assim:

Melhor general tático e operacional (manobra): George S. Patton

Rápido, agressivo, intuitivo, brilhante no uso de blindados.

Melhor general estratégico e logístico: Bernard Montgomery

Metódico, preciso, eficiente, cuidadoso com vidas.

Melhor general de improvisação e guerra móvel: Erwin Rommel

Criativo, ousado, inspirador — mas logisticamente vulnerável.

Nenhum dos três domina todas as categorias.
Cada um foi, à sua maneira, o melhor no que fazia.

Conclusão

Patton, Rommel e Montgomery representam três escolas distintas de pensamento militar:

  • Patton: a lâmina ofensiva
  • Montgomery: o engenheiro metódico
  • Rommel: o mestre da manobra improvisada

A Segunda Guerra Mundial não pode ser compreendida sem a contribuição — e a rivalidade — desses três gigantes da história militar. Seus estilos diferentes continuam estudados em academias militares até hoje, pois simbolizam três maneiras eficazes e contrastantes de conduzir a guerra moderna.

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