O Processo de Transformação do Exército e o “paradoxo” da racionalização

Cel Rodolfo Tristão Pina

"…Não há nada mais difícil de executar e perigoso de manejar (e de êxito mais duvidoso) do que a instituição de uma nova ordem de coisas…".

O trecho da obra de Nicolau Maquiavel, O Príncipe, reforça a aspereza de se conduzir qualquer processo de transformação que, no caso do Exército Brasileiro, ainda sofre com os revezes de uma Conjuntura Nacional desfavorável, notadamente sob os pontos de vista político e econômico.

No escopo da reorganização das Forças Armadas, a Estratégia  Nacional de Defesa (END) definiu, como uma das condições precípuas do Processo de Transformação do Exército, a introdução da Força Terrestre na Era do Conhecimento.

Sendo assim, destacou-se o vetor de Ciência e Tecnologia como componente central no esforço de orientação e modernização das estruturas operacionais, logísticas e administrativas ora existentes.

Nas palavras do Comandante do Exército, enfrentar o grande desafio da transformação passa pela necessidade de se dimensionar um novo Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação do Exército (SCTIEx), focado na inovação, na capacidade de antecipação e no atendimento às demandas da Força Terrestre, porém, adequado à realidade dos atuais orçamentos e viável sob o ponto de vista do custeio.

Nesse mister, o Exército Brasileiro, de forma estratégica, investe na relação entre o Estado, a Academia e a Indústria, com base no modelo de Henry Etzkovitz, o "Hélice Tríplice" (ETZKOWITZ, 1994), no qual, sob a égide do respeito à independência de papéis de cada um dos três atores, busca sinergia de esforços de cooperação, proposta que congrega vetores do Poder Nacional em prol dos interesses da Nação.

Sendo assim, a inauguração do Polo de Ciência e Tecnologia do Exército, em Guaratiba, no Estado do Rio de Janeiro, representaria o núcleo duro de grande parte do esforço de transformação, apostando na tecnologia como ferramenta para maximizar, em última análise, as ações do componente humano, este sim, o ponto focal de uma Força Armada que quer estar preparada para a Guerra.

O curioso é que, mesmo em um cenário de crise mundial e de restrições a aumento de gastos, há espaço para oportunidades de crescimento.

Observando o mundo corporativo deste conturbado século XXI, por exemplo, notam-se os grandes investimentos em sistemas de informação, definidos como instrumentos facilitadores para auxiliar gestores a, entre outras medidas, perseguir metas corporativas de excelência operacional, desenvolver novos produtos e serviços, melhorar o processo interno de tomada de decisões, conquistar vantagens competitivas e reduzir perdas.

Atualmente, observa-se que, entre os sistemas mais procurados pelas grandes empresas para otimizar recursos, estão os Sistemas de Apoio à Decisão (SAD), também conhecidos pela sigla DSS (Decision Support Systems), devido à capacidade que possuem de apontar tendências, modelar cenários e sintetizar informações que auxiliam o processo decisório, em ambientes complexos de incertezas e riscos.

Os SAD são ferramentas essenciais de solução de problemas, estruturados ou não, na medida em que processam grande número de dados e informações, usando não apenas ferramentas estatísticas, mas também inteligência artificial, ambientes de simulação, armazenamento de dados qualitativos, entre outras possibilidades tecnológicas.

O uso dos SAD tem sido uma forma analítica de racionalização nas grandes empresas, pois proporcionam uma visão holística das corporações, conjugando ações e variáveis dessas organizações no tempo passado, no presente e, até mesmo, no futuro.

Usando a taxionomia de Falsarella e Chaves, possuímos, no Exército Brasileiro, bons sistemas de informação nos níveis operacional (transacional), gerencial e especialista. Como organização que almeja dar um passo para o futuro, pensar em SAD como modelos de convergência desses sistemas, associando mecanismos automatizados de análise qualitativa de dados e informações, e pensar o uso de metadados, com suporte de uma consistente base de telecomunicações privativa, pode representar o passo em direção à Era do Conhecimento e tornar menos árido o caminho para a tão necessária e almejada racionalização de recursos humanos e materiais no âmbito da Instituição.

Entretanto, falar no investimento em Sistemas de Apoio à Decisão é entrar em choque com a máxima de que o momento atual exige cautela e contenção de recursos. Sob a ótica conservadora, os dias de hoje são considerados inadequados para o aumento de efetivos técnicos e para a aposta no desenvolvimento de tecnologias da informação e comunicações. Essa dicotomia torna a racionalização do processo de transformação mais complexa do que parece.

Não há dúvida de que os SAD, quando modelados no contexto peculiar das organizações, possibilitam o aproveitamento do conhecimento e das informações disponíveis, facilitando a formulação de soluções por parte dos decisores, que, afinal, representam máxima eficiência dos processos e máxima eficácia de resultados.

Portanto, o investimento em tecnologia da informação, na ótica estratégica, representa um passo lúcido no caminho da racionalização. No entanto, não restam dúvidas de que essa opção terá seu preço e de que o momento é sensível para qualquer decisão nesse nível.

É o que registra a canção da briosa Escola de Sargentos das Armas do Exército: "…Nossa cartilha a glória reza, para a batalha devemos ir!…". Somos profissionais da adversidade e, por isso, os desafios sempre foram parte significativa da nossa missão como soldados.

 

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