Por, General de Brigada André Luiz de Souza Dias
e Major Jefferson Andrade Lima da Silva
Conceito Operacional do Exército para 2040 (COEB 2040)[1] aponta que a Força Terrestre (F-Ter), inserida no contexto de operações conjuntas, combinadas e interagências, será empregada face aos desafios impostos pela complexidade que caracterizará o ambiente operacional futuro.
Dentre diversos eventos possíveis, o COEB 40 define o emprego de tecnologias disruptivas aplicadas ao campo militar como um dos principais elementos a causar impactos e reflexos no preparo e emprego das Forças Armadas.
Assim, as atividades de inteligência e reconhecimento têm sido objeto de intenso impulsionamento, com o emprego crescente de Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (SARP) e outros dispositivos autônomos.
Nesse ínterim, em ligação direta com os eventos futuros definidos pelo COEB 40, o emprego de SARP mostra-se presente na Inteligência de Imagens (IMINT[2]), que permite a análise de imagens fixas e de vídeo, obtidas por meio de fotografia, radar e sensores ópticos, em plataformas terrestres, navais, aéreas ou espaciais. Dessa forma, a IMINT é a única disciplina de Inteligência que permite a visualização da área de operações em tempo real.
No nível tático, em que se insere a Força Terrestre Componente (FTC), os meios devem ser capazes de proporcionar imagens de toda a área de operações, dando resposta às necessidades de Inteligência do comandante.

O Manual de Vetores Aéreos do Exército Brasileiro[3] explica que a função básica dos SARP em operações é cumprir tarefas relacionas à Inteligência, Reconhecimento, Vigilância e Aquisição de Alvos (IRVA), podendo atuar nos níveis estratégico, operacional e tático.
No caso particular do nível tático, as unidades e frações dotadas de SARP realizam missões em prol do comando ao qual estiverem subordinadas. É importante ressaltar que os SARP geralmente são distribuídos
em categorias de emprego numeradas, de 0 a 5.
Nesse escopo, as de 0 a 3 são as que se empregam no nível tático, fornecendo informações em tempo real à tropa apoiada e proporcionando suporte contínuo nas áreas de interesse, com vistas tanto ao planejamento como à condução das operações.
A Brigada Blindada (Bda Bld), integrando uma FTC, será normalmente a sua principal peça de manobra. Sempre pronta para decidir o combate, constitui-se em um meio bastante nobre, devendo, pois, ser mantida em segurança e inicialmente em reserva, ocupando uma Zona de Reunião (Z Reu). Quando acionada, deverá estar pronta para atuar com rapidez, precisão, violência e ação de choque.

Em razão dos meios e do treinamento que possui, coloca à disposição do escalão decisor capacidades bastante peculiares e efetivas. Seus recursos humanos, instruídos e adestrados para trabalhar com iniciativa, flexibilidade e adaptabilidade, são treinados para agir conforme a intenção do comandante e o propósito das tarefas,
compreendendo com clareza e profundidade o estado final desejado para cada missão.
De forma complementar, é importante salientar que, conforme definição do Manual de Campanha EB70 – MC- 10.310[4], a Bda Bld é uma Grande Unidade pesada, dotada de grande mobilidade tática, potência de fogo e proteção blindada, o que lhe permite executar operações continuadas, ofensivas e defensivas, estando vocacionada para o emprego decisivo nas operações.
O Exército Brasileiro, atualmente, dispõe apenas de duas Bda Bld em sua Força Terrestre[5], o que torna ainda mais imperativo preservar esses meios somente para o emprego nas ações determinantes para a vitória. Isso pressupõe o planejamento da alocação de meios que assegurem uma alta prioridade para a sua segurança e sobrevivência.

Como consequência, essas brigadas deverão ter à sua disposição módulos especializados integrados por elementos e meios de inteligência militar, o que inclui certamente os já descritos SARP.
Atualmente, o Exército Brasileiro vem empregando, dentro outros, o SARP NAURU 1000C ISTAR, Categoria 2 (SARP Cat 2), com alcance de até 60 km e voos com duração de até 8 horas. Com pintura furtiva, baixa assinatura de radar e emissão sonora reduzida, esse material tem apresentado excelentes resultados em operações de inteligência e vigilância.
Considerando o emprego desse tipo de SARP e suas capacidades, percebe-se, dentre outras, uma contribuição
direta em reconhecimentos específicos, que refletem na ampliação da liberdade da ação das tropas amigas no campo de batalha, por meio de transmissões em tempo real de informações que influem diretamente na agilidade do ciclo decisório.
Transportando tais aplicabilidades para a prática, pode-se considerar o emprego de SARP em proveito da Bda Bld durante todo o seu ciclo de permanência no combate. Em particular, denota-se ser o momento de ocupação, permanência e abandono de uma Z Reu a fase mais vulnerável para a tropa blindada, considerando, sobretudo, o tempo e as condições necessárias para a sua saída de posição e entrada em formação para o emprego. Ressalta-se que ao sair de Z Reu, a Bda Bld, por motivos óbvios, será um alvo de grande valor e interesse para os fogos inimigos, advindos de plataformas terrestres, aéreas ou navais.
Do exposto, percebe-se que o emprego de um SARP Cat 2, orgânico de uma FTC, em prol do reconhecimento e vigilância de uma área de retaguarda onde estaria a Z Reu de uma Bda Bld, traz grande oportunidade para a ampliação da sua segurança. A grande capacidade de visualização e a vasta autonomia de voo, aliadas à possibilidade de transmissão em tempo real de informações ao comando das tropas, fazem do SARP Cat 2 uma solução bastante adequada, também por enquadrar-se com exatidão no tipo de tecnologia disruptiva apontada pelo COEB
Desta feita, amplia-se a consciência situacional dos comandantes táticos e assegura-se o aumento da sobrevivência da Bda Bld no campo de batalha.

Por fim, conclui-se que a associação de meios tecnológicos de Inteligência, atuando em favor de forças operativas modernas e de grande poder de fogo, como são as Bda Bld, em particular no momento bastante crítico de ocupação, permanência e abandono de uma Z Reu, aumenta significativamente a sua possibilidade de emprego quando necessário nos momentos decisivos do combate. O uso do SARP Cat 2 em proveito das tropas blindadas é, por tudo isso, essencial ao sucesso das operações terrestres, em um cenário cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo, em perfeito alinhamento ao que especifica o COEB 2040.
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[1] Manual de Fundamentos EB20-MF-07.001 – Operações de Convergência.
[2] Sigla oriunda do termo original, em inglês: Imagery Intelligence.
[3] EB70-MC-10.214.
[4] Manual de Campanha “A Brigada Blindada”
[5] A 6ª Brigada de Infantaria Blindada – Brigada Niederauer, com sede em Santa Maria-RS e integrando a 3ª Divisão de Exército – Divisão encouraçada, e a 5ª Brigada de Cavalaria Blindada – Brigada General Tertuliano deAlbuquerque Potyguara, localizada em Ponta Grossa-PR, pertencente à 5ª Divisão de Exército – Divisão Marechal José Bernardino Bormann.
Nota DefesaNet:
SARP (Sistema de Aeronaves Remotamente Pilotadas) — Termo oficial brasileiro equivalente a RPAS (Remotely Piloted Aircraft System). Diferencia-se de VANT, expressão mais antiga e genérica (“Veículo Aéreo Não Tripulado”), que não deixa claro se há pilotagem remota nem abrange todo o sistema envolvido na operação. No exterior também se usam UAV (Unmanned Aerial Vehicle), referente apenas à aeronave, e UAS (Unmanned Aircraft System), que designa todo o sistema.
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AUTORES :
GENERAL DE BRIGADA ANDRÉ LUIZ DE SOUZA DIAS – Formado em 1996, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), é oriundo da Arma Infantaria. Atualmente, comanda a 6° Brigada de Infantaria Blindada, com sede em Santa Maria-RS. Nessa mesma Brigada, foi o Comandante da Companhia de Comando, em 2010-11, e do 29º Batalhão de Infantaria Blindado, no biênio 2019-20. Além do Curso de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro, realizou o Curso de Estado-Maior das Forças Armadas da Espanha e o de Altos Estudos Nacionais da Bolívia. Possui os Mestrados Acadêmicos em Operações Militares e em Ciências Militares, ambos no Brasil, em Política de Defesa e Segurança Internacional, na Espanha, e em Segurança, Defesa e Desenvolvimento, na Bolívia. É membro da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB) e do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB).
MAJOR JEFFERSON ANDRADE LIMA DA SILVA – É graduado pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), na arma de Infantaria, no ano 2008. É possuidor dos seguintes cursos: Curso de Polícia do Exército, pelo 4º Batalhão de Polícia do Exército (4º BPE), em Recife-PE, Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), no Rio de Janeiro-RJ, Curso Intermediário de Inteligência, pela Escola de Inteligência Militar (EsIMEx), em Brasília-DF e o Curso de Altos Estudos Militares, pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), também no Rio de Janeiro-RJ. Atualmente, ocupa a função de Chefe da Seção de Inteligência da 2ª Brigada de Infantaria de Selva (2ª Bda Inf Sl), em São Gabriel da Cachoeira-AM





















