A Força delas: a crescente participação feminina no Exército Brasileiro

Elas atuam na saúde, no ensino, na administração militar. São engenheiras, mecânicas, instrutoras. Integram missões de paz e apoiam o combate. Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o Exército Brasileiro não celebra apenas a presença feminina na Força.

O Exército exalta, sobretudo, a participação cada vez maior das mulheres nas mais diversas atividades da instituição. Atualmente, a Força conta com mais de 13 mil mulheres em organizações militares de todo o País. E, de acordo com o Departamento-Geral do Pessoal (DGP), o número de militares do sexo feminino vem aumentando nos últimos anos.

Essa evolução numérica reflete diversas conquistas. Desde a inserção de mulheres no Exército, em 1992, as mulheres passaram a assumir cada vez mais funções dentro da instituição. Hoje, elas também são paraquedistas, instrutoras, responsáveis por materiais bélicos, engenheiras.

Essa expansão culminou com a formatura, em 2021, da primeira turma mista de oficiais da linha de ensino militar bélico da história do Exército Brasileiro – a primeira oriunda da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) a conter oficiais do sexo masculino e feminino.

Pioneiras de hoje

Muitas militares deram sua contribuição para o crescimento da participação feminina no Exército. A Sargento Cristina Lopes, do Centro de Instrução Pára-Quedista General Penha Brasil, foi a primeira mulher a integrar uma equipe de instrutores de formação básica paraquedista.

Detentora do curso de Mestre de Salto, a militar ressaltou as emoções de ter atingido os grandes objetivos de sua carreira. “A minha expectativa sempre foi a melhor, porque eu sabia que meu lugar era ali. Parece que eu já sabia o tanto de felicidade que eu carregaria de colocar um gorro azul (usado pelos instrutores do Centro) na cabeça.

Ser a quinta mestre de salto do sexo feminino do Brasil já é um diferencial para a minha carreira, mas ser 'gorro azul' é uma felicidade e é a realização de um mérito alcançado”. Já a Sargento Mayara Kellen destaca-se por ter sido a primeira mulher do Exército a fazer o Curso de Manutenção de Blindados, especialização que a capacitou a ser responsável, atualmente, por uma oficina de manutenção da viatura blindada Guarani.

Inspirada no pai, que também foi militar, ela decidiu entrar no Exército quando ainda estava na universidade. “Estava na faculdade de Administração quando vi que seria realizado o concurso para a Escola de Sargentos das Armas. Resolvi trancar a faculdade e dedicar-me inteiramente aos estudos para o concurso e, então, passei na Escola”.

Foi no meio da formação militar que Mayara interessou-se por manutenção de blindados, o que a fez cursar de forma pioneira a especialização e tornar-se, pouco depois, responsável pela oficina de manutenção do Guarani. “Ministro instruções direcionadas para a formação de motoristas e comandantes do carro.”

Pioneiras de ontem

A história das mulheres no Exército não é recente e integra episódios históricos da Força.  Aquela que deflagrou o início da trajetória feminina na instituição lutou no século XIX e tornou-se sinônimo de heroísmo: Maria Quitéria de Jesus, a primeira mulher da história brasileira a combater pelo Exército. Baiana, Quitéria destacou-se nos combates pela Independência do Brasil ocorridos na Bahia, entre 1822 e 1823.

Inspirada pelos ideais de liberdade de seus conterrâneos, Quitéria ignorou a restrição do serviço militar para mulheres, fugiu de casa e assumiu a identidade do cunhado, alistando-se para o combate como Soldado Medeiros. Encerrada a campanha baiana, Maria Quitéria foi condecorada como “Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro” pelo próprio Dom Pedro I, uma comenda de reconhecimento à bravura da pioneira baiana.

A trajetória feminina no Exército continuou com a participação das enfermeiras em apoio à a Força Expedicionária Brasileira, tropa que lutou contra o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial. Foram 67 enfermeiras do Exército e seis da Força Aérea que, de forma inédita, trabalharam com oficiais americanas, na Itália, no atendimento aos feridos.

O nome de Maria Quitéria ecoou pela história brasileira até ser imortalizado em um outro momento crucial para o Exército: o ingresso das mulheres na Força.

E isso se deu há exatos 30 anos: em 1992, 49 pioneiras formaram-se como primeiros-tenentes na então Escola de Administração do Exército (EsAEx), localizada em Salvador (BA), e tornaram-se militares de carreira dentro da Força.

No meio da formação, elas ainda fizeram história como o primeiro grupamento exclusivamente feminino a desfilar, pelo Exército, em uma celebração de 7 de Setembro – apenas um dos vários episódios de pioneirismo que cada uma das militares protagonizaria na carreira.

Defesa celebra força e heroísmo no Dia da Mulher¹

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o Ministério da Defesa destaca a força e o heroísmo feminino nas Forças Armadas. As mulheres, cada vez mais, conquistam espaço em diversos setores no país. Na Marinha, no Exército e na Aeronáutica, não é diferente. Atualmente, a Força Naval conta com mais de 12,7% de mulheres; a Força Terrestre com 6,4%; e a Força Aérea com 19,7%. Ao todo, elas somam mais de 35 mil.

O mérito, a competência e o profissionalismo são fundamentais para ingresso e ascensão na carreira militar, e independem de gênero. A partir desses valores, é possível reconhecer a contribuição feminina para a manutenção da independência do país, da liberdade do povo brasileiro e da soberania da nação, em especial, no ano em que o Brasil comemora 200 anos de emancipação.

Desde os primórdios da independência, as mulheres tiveram participação fundamental nas Forças Armadas. Há mais de 200 anos, Maria Quitéria de Jesus adentrou as fileiras do Exército para lutar pela liberdade brasileira. Em 1996, foi reconhecida como Patrono do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.

Oficialmente, a participação feminina nas fileiras militares iniciou em 1943, na Força Expedicionária Brasileira (FEB), durante a Segunda Guerra Mundial. Foram enviadas 67 enfermeiras hospitalares e 6 enfermeiras especialistas em transporte aéreo. Após a Guerra, as militares, em sua maioria, foram condecoradas e ganharam a patente de oficial.

Na Marinha, o ingresso das mulheres constituiu um marco na sociedade brasileira. Originalmente, foi implantado o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha (CAFRM). Posteriormente, por meio da lei nº 9.519/97, o CAFRM foi extinto e, de acordo com as habilitações de origem, as mulheres passaram a integrar os respectivos corpos e quadros existentes para o sexo masculino, o que possibilitou o ingresso como oficiais nos corpos de engenheiros e de intendentes da Marinha, nos quadros de médicos, de cirurgiões-dentistas, de apoio à saúde e técnico, em igualdade de condições no acesso às promoções e cursos.

Já na Força Aérea Brasileira, a participação das mulheres, como parte do efetivo, ocorreu a partir dos anos 80. Na ocasião, viu-se a necessidade de ampliar o contingente e, por isso, foram realizados estudos para a inclusão do segmento feminino. As pesquisas culminaram na criação do Corpo Feminino da Reserva da Aeronáutica, constituindo o Quadro Feminino de Oficiais e o Quadro Feminino de Graduadas. A primeira turma de mulheres ingressou na Aeronáutica em 1982.

Ao longo dos anos, a participação das mulheres nas Forças Armadas tem sido, cada vez mais, incentivada e valorizada. A defesa do país, seja por terra, água ou pelo ar, conta com a competência e a determinação feminina. Neste Dia Internacional da Mulher, o Ministério da Defesa homenageia e agradece as militares e civis pela contribuição para um país seguro, solidário e soberano.

¹Por Isabela Nóbrega e Bianca Sampaio / MD

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