Promoção de oficiais-generais

Em nome do Exército Brasileiro, por delegação do nosso comandante, General Paulo Sérgio, tenho, como Chefe do Estado-Maior do Exército, a honra de saudar os companheiros recém-promovidos a general de brigada.

Ressaltamos, hoje, com muita alegria, a presença dos familiares dos homenageados nesta cerimônia tão significativa. Esta situação somente foi possível em função do avanço consistente das medidas contra a covid-19, pandemia que tão profundamente afeta o mundo desde o ano passado. Assim, ao cumprimentar os generais promovidos, estendemos aos seus entes queridos os votos mais sinceros e calorosos de felicidade que lhes formulam os integrantes do Exército Brasileiro.

Caros Generais de Brigada TRIANI, GOBERT, ABREU, FERRAZ, PAULO SÉRGIO, CARVALHO LIMA, EVERTON, MEDEIROS, PIMENTEL, BISPO, PEIXOTO, IVAN, KAMEI, ÍSOLA, OLIVEIRA, RABÊLO, ROCHA LIMA e AMÉRICO, repete-se o processo admirável pelo qual nossa Instituição se revigora pela salutar renovação dos quadros da sua mais elevada hierarquia.

No restrito círculo dos oficiais-generais, mais que em outros, o exercício pleno da liderança é condição necessária para o engrandecimento do Exército. A essência da profissão militar – o emprego em situações de guerra e de não guerra –, exige o discernimento para lidar em ambientes incertos, repletos de informações difusas e muitas vezes contraditórias, em situações de desfecho imprevisível.

O desafio permanente será reagir adequadamente a essas incertezas, amparando-se na experiência e no conhecimento acumulados, tendo por base as referências de nossa profissão: valores militares, como o amor à Pátria e a fé na missão; atributos como honra pessoal e sentimento do dever; e os pilares da Hierarquia e da Disciplina.

Possuímos uma singular forma de perpetuação de valores. Faz parte do ethos militar a transmissão do legado de experiência e de conhecimento reunido em muitos anos de tarimba aos companheiros mais modernos. Acontece no dia a dia da instrução militar, nas mensagens das formaturas diárias, nas celebrações dos feitos dos grandes heróis de nossa História e nas cerimônias de passagem de comando. Tal prática, exaustivamente realizada em todos os círculos hierárquicos e potencializada no âmbito dos generais, realça o espírito de corpo e dá solidez a nossa Instituição, possibilitando que ela vença os desafios mais difíceis e atravesse os tempos mais revoltos, mantendo-se firme no cumprimento de sua nobre destinação.

Este verdadeiro pacto de gerações se manifesta nesta significativa cerimônia. Na entrada deste salão, conduzindo as espadas de generais que serão outorgadas aos promovidos, os cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras encontram-se perfilados, constituindo uma Guarda de Honra, não somente abrilhantando, mas também representando o mesmo compromisso dos nossos antepassados e daqueles que se encontram em extremos opostos da hierarquia militar.

Cabe relembrar, neste momento, a ação de comando do então Cel Alberto Mendes Cardoso, comandante do Corpo de Cadetes durante o período de formação dos senhores, que tinha a faculdade de transformar as formaturas da AMAN em verdadeiras sessões de fortalecimento dos atributos militares, de consagração dos princípios de guerra e de reforço do pacto entre gerações. É do Gen Ex Cardoso um artigo publicado no EBlog, em 15 de março de 2016, cujo trecho eu trago à reflexão dos senhores:

“O artigo constitucional que nos impõe disciplina e hierarquia como bases organizacionais nos aponta um norte nos momentos em que consideramos afrontados os nossos valores. O rumo indicado é o da confiança nos camaradas ocupantes de postos na cadeia de comando, tendo sempre em mente que todos temos a mesma formação ética e moral, a mesma participação no fortalecimento e na sustentação do caráter permanente das instituições militares e a mesma certeza de que só somos fortes quando unidos.”

Assim, a mensagem que se depreende é: sejam os chefes que inspiram confiança nos seus subordinados e exerçam o papel que lhes cabe na consecução dos objetivos do Exército e no cumprimento de suas missões constitucionais.

Falemos agora, sinteticamente, sobre os Princípios de Guerra, para que se juntem às referências profissionais elencadas anteriormente. Consagrados pela experiência, constituem-se em normas básicas de procedimento para a condução da guerra. Não são regras fixas a serem aplicadas sem um adequado estudo de Estado-Maior, e é por isso que sua correta interpretação e aplicação são pertinentes para os que ingressam no círculo dos oficiais-generais.

A literatura castrense ocidental consagra nove princípios como os de maior relevância: Objetivo – Ofensiva – Manobra – Massa – Economia de Meios (ou de Forças) – Unidade de Comando – Simplicidade – Surpresa e Segurança, havendo registros de alguns outros em manuais militares.

Apesar de não serem hierarquizados, quero destacar cinco deles para a consideração dos senhores.

O primeiro princípio de guerra é o do Objetivo, sem o qual nenhum dos demais fará sentido. Ele diz respeito ao estabelecimento de objetivos claramente definidos e atingíveis, a fim de se obter os efeitos desejados. É ele que define o cumprimento da missão, orienta a estratégia e possibilita a convergência de esforços. O objetivo mal definido resulta em má estratégia, que nenhuma boa tática será capaz de corrigir. É assim não só no nível estratégico, mas também no nível tático e mesmo nas tarefas cotidianas.

Os objetivos do Exército Brasileiro se confundem com a sua missão e estão claramente estabelecidos no artigo 142 da Carta Magna. Cuidem para que sejam atingíveis, não negligenciando o provimento de todos os recursos necessários e tendo em vista que a missão precípua de nossa Força é a defesa da Pátria.

O segundo princípio é o da Simplicidade, como são simples os próprios princípios de guerra. Em meio ao excesso de informações, à sobrecarga das demandas e à insuficiência dos recursos, deve-se ter em mente a riqueza das soluções simples e diretas.

Nosso Exército tem efetivos reduzidos e disponibilidades orçamentárias acanhadas em face da amplitude de todas as suas missões e responsabilidades para com a Nação brasileira, uma população que já se aproxima de 214 milhões de pessoas, habitando um território gigantesco, riquíssimo de recursos naturais, com imensos vazios demográficos e, por isso mesmo, sempre alvo de cobiça.

O princípio da Economia de Meios é caracterizado pelo uso econômico das forças e pela distribuição judiciosa dos meios disponíveis, poupando-os nas ações secundárias e preservando-os para a obtenção do resultado máximo nos locais e momentos decisivos. Ele se revela, então, fundamental, obrigando a sua prática diuturna, com o estabelecimento de prioridades e o emprego dos recursos tendo por foco a máxima contribuição para o incremento do poder de combate da nossa Força.

Ainda assim, diante das justificadas demandas orçamentárias da Força, que nada mais pretende senão servir à Pátria com todo o vigor e toda a eficiência que a dimensão estratégica de nosso País exige, à semelhança do que há muito foi relatado a respeito dos militares por Moniz Barreto em sua carta ao rei de Portugal, de tempos em tempos “…corações mesquinhos lançam-lhes em rosto o pão que comem, como se os cobres do pré pudessem pagar a liberdade e a vida. Publicistas de vista curta acham-nos caros demais, como se alguma coisa houvesse mais cara que a servidão. Eles, porém, calados, continuam guardando a Nação do estrangeiro e de si mesma”.

A Economia de Meios propicia, de forma mais completa, a aplicação de outro princípio, o da Massa, que, no seu aspecto operacional, exige a concentração de forças e seu emprego com a máxima intensidade no local e no momento apropriados, de forma a provocar o desequilíbrio no poder de combate decisivo para a vitória no campo de batalha. Já em sua vertente institucional, é materializado pela coesão de nossa Força para o cumprimento de sua missão constitucional, com fé e determinação inabaláveis, com todas as suas capacidades convergindo para o propósito máximo de sua atividade-fim: a defesa da Pátria.

Cabe, por fim, destacar o princípio da Unidade de Comando, caracterizado pela concentração do poder decisório em uma única autoridade, cujas ordens devem ser acatadas e cumpridas sem a concorrência de outras fontes de decisão. É da Unidade de Comando que brotam a coesão e a sinergia necessárias ao cumprimento das missões mais difíceis, especialmente quando a autoridade para decidir vem acompanhada da liderança que motiva e inspira os subordinados. O Exército Brasileiro orgulha-se de ter tido sempre modelares comandantes – assim como tem hoje –, exemplos de retidão, serenidade e coragem, tendo por paradigma o seu patrono, Marechal Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias.

Caros promovidos!

O Exército deposita nos seus generais irrestrita confiança, pois tem a certeza de que são os guardiões dos mais caros princípios e valores da nossa Instituição. Os senhores serão capazes de chefiar com liderança, tendo iniciativa e bom senso para se antecipar e resolver problemas, utilizando a experiência e a sabedoria para decidir, distinguindo o perene do episódico, focando no importante ao invés do supérfluo e, em todo o tempo, praticando a justiça.

Despeço-me convidando-os à reflexão e à prática do contido no dístico da bandeira do estado do Espírito Santo: “Trabalha e Confia”.

Tal passagem, atribuída a Santo Inácio de Loyola, é mais ampla e evoca a vocação cristã e ordeira do nosso povo: “Trabalha como se tudo dependesse de ti e confia como se tudo dependesse de Deus”.

Que o Senhor dos Exércitos os ilumine, proteja e guie!

Sejam felizes!

 

General de Exército Marcos Antonio Amaro dos Santos

Chefe do Estado-Maior do Exército

 

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