25 de Agosto, O Duque vem inspecionar o Exército

 
     
   Paulo Ricardo da Rocha Paiva
 Coronel de Infantaria e Estado-Maior
 
Caxias recebe a continência da Força Terrestre concentrada em Copacabana/RJ. São cerca de 26 brigadas (módulo básico de combate) de distintas naturezas, cada uma com efetivo aproximado de cinco mil combatentes:
 
– 2 blindadas (veículos encouraçados sobre lagarta);
– 4 mecanizadas (veículos encouraçados sobre rodas):
– 10 motorizadas (organização obsoleta);
– 5 de selva, uma paraquedista;
– 2 leves (uma é aeromóvel);
– uma de aviação (helicópteros), e,
– uma de forças especiais.

Para o cidadão, leigo no assunto, 130.000 (26X5000) combatentes podem até parecer muito, mas, para quem assistiu aos eventos da “JMJ’ naquela orla de praia, que reuniu mais de 3 (três) milhões de pessoas, por certo, a imagem do efetivo do EB teria impressionado bem menos, tanto ao Papa como ao expectador que, dos arranha céus, divisava boquiaberto a imensa multidão de fiéis que superlotava a Avenida Atlântica.

O Duque, todavia, entusiasmado com efetivo de tamanha grandeza jamais alcançado pelo Exército Imperial, nem mesmo na Guerra do Paraguai, resolve aprofundar a revista e passa a indagar sobre a eficiência/eficácia dos sistemas operacionais daquelas grandes unidades e, surpreso, constata que nem o País nem o EB dispõem de recursos para equipá-las e mantê-las em operações de defesa externa contra os grandes predadores militares que, hoje, mais do que nunca, ameaçam colocar por terra o seu legado maior de integridade do nosso território.


O condestável do Império alarmado reúne os oficiais-generais e passa a indagar sobre as hipóteses de guerra da atualidade. A princípio se reporta ao cone sul, acostumado que estava com as tropelias dos castelhanos ao longo daquelas fronteiras, porém, é informado de que as ameaças nos dias de hoje estão a assombrar cada vez mais o nosso setentrião e que os inimigos em potencial de agora são extra-regionais, em verdade, as grandes potências militares tradicionais.

Luís Alves de Lima e Silva, que não é amador em assuntos de geopolítica, visualiza de imediato as pontas de lança representadas pelas antigas guianas e indaga sobre o poder de combate representado pela França e Grã-Bretanha e como o nosso Exército está se precavendo para fazer frente a uma invasão da calha norte do Rio Amazonas por aqueles notórios capangas de Tio Sam.

Os comandantes se alvoroçam e se reportam de imediato ao SISFRON. O duque aquiesce: – “Muito bem! Mas de que adianta apenas a vigilância da fronteira? Se o inimigo ultrapassar nossos limites, o que vamos lançar sobre ele? As brigadas daqueles países, quantas são realmente operacionais? ”

O chefe da seção de informações do comando militar da área muito solícito, se apressa em responder: -"As grandes unidades operacionais naqueles exércitos chegam a 10/12, algumas de prontidão imediata".

Caxias, preocupado, quer saber do comandante do Exército a quantas andam os investimentos em defesa. Um general de “quatro estrelas” desalentado aproveita a privacidade para confidenciar aquilo que lhe vaticinaram: – “Bem, meu caro duque, o Ministro da Defesa disse que, talvez, em 10 (dez) anos se possa igualar o percentual (2,5%) que índia e Rússia destinam do PIB para suas forças armadas.”

O patrono encolerizado pragueja indignado: -“O titular da pasta está a brincar com a verdade! E como estão as brigadas de selva? Elas ainda empregam aquelas pirogas de lata, do ano (1964) de inauguração do CIGS, no adestramento de operações ribeirinhas?  Alguns teóricos de carteirinha se apressam a dizer que, no momento, a coqueluche é a distribuição de 2044 viaturas blindadas Guarani para a mecanização das unidades mecanizadas.

O Duque, já atordoado pela falta de tenência acachapante, exclama: “É inacreditável, não bastaram MERCOSUL / UNASUL / CONSELHO DE DEFESA SULAMERICANO para se mudar de mentalidade, os “hermanos” ainda nos assombram e integrar forças de coalizão como membro permanente do CDS / ONU continua previsto no “menu”.

Caxias quedou-se em silêncio. Guardadas as devidas proporções no tempo e no espaço, o exército da presidenta amedrontava bem menos do que o do imperador. De repente um coro de vozes se faz ouvir do silêncio dos tempos passados. São os invencíveis das antigas fileiras que clamam pela sua presença para uma parada no céu. O herói maior da Pátria, com lágrimas nos olhos, se despede das tropas mal armadas mas sempre empertigadas. Seu temor é que estas sucumbam no cumprimento do dever sem vitórias. Vai rezar por elas!

 
                                                                       

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