Emprego da viatura blindade de combate Gepard 1A2 na Operação Punhos de Aço 2025: desafios do tiro sem a aquisição pelo radar

Por, General de Brigada André Luiz de Souza Dias
e 1º Tenente Vitor Siqueira Wollmann

A defesa antiaérea (Def AAe) tem assumido papel central no contexto dos conflitos atuais, em razão da crescente utilização de Sistemas Aéreos Remotamente Pilotados (SARP)[1] e drones de alta tecnologia, de diferentes modelos, tanto por forças regulares como irregulares[2].

Diante desse cenário, a realização de adestramentos com aeromodelos que simulam a atuação desses vetores aéreos é essencial para a verificação da capacidade dos sistemas vocacionados para esse fim.

Na Operação Punhos de Aço 2025[3], no mês de outubro, foi possível adestrar as guarnições de Def AAe da 6º Brigada de Infantaria Blindada – Brigada Niederauer (6ª Bda Inf Bld), representadas pelas Seções da 6ª Bateria de Artilharia Antiaérea Autopropulsada (6ª Bia AAAe AP), dotadas da Viatura Blindada de Combate Gepard 1A2 (VBC Gepard 1A2).

O exercício no terreno representou o coroamento do preparo operacional desenvolvido ao longo do ano de instrução, consolidando as capacidades táticas e técnicas das tropas envolvidas.

Na edição deste ano, após a concentração dos meios, a Operação teve início com a ocupação de uma Zona de Reunião (Z Reu). Posteriormente, foram desencadeadas as ações ofensivas, com a realização de uma marcha para o combate descoberta, cuja vanguarda foi uma força-tarefa valor unidade.

Estabelecido o contato com posições sumariamente organizadas inimigas, essa vanguarda foi ultrapassada por outras três forças-tarefas valor unidade, que, ao realizarem ataques de oportunidade, criaram as condições favoráveis para o aproveitamento do êxito[4].

O 6º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado executou a segurança do flanco exposto da Brigada, ao passo que a 6ª Bia AAAe AP proveu a Def AAe da Brigada Niederauer.

As brigadas blindadas (Bda Bld) detêm o maior poder de combate da Força Terrestre e estão vocacionadas para as ações decisivas. São meios bastante nobres e, quando acionadas, agem com rapidez, precisão, violência e ação de choque. Por isso mesmo, ao abandonarem suas Z Reu, tornam-se alvos de alto valor para o inimigo.

É imperativo, portanto, preservá-las a todo custo, planejando, inclusive, a alocação de meios que lhes assegurem uma alta prioridade de segurança, aumentando a sua sobrevivência no campo de batalha.

Nesse sentido, é imprescindível a adoção de sistemas integrados de Def AAe, capazes de detectar, rastrear e neutralizar ameaças aéreas de pequeno porte. No último dia da Punhos de Aço, foi realizado, no polígono do Campo de Instrução Barão de São Borja (Saicã), o tiro real com a VBC Gepard 1A2 em suas duas modalidades:
contra em alvos terrestres e aéreos.

No caso do tiro aéreo, contra aeromodelos, vale lembrar que o principal desafio se relaciona à maneira pela qual o operador realiza a designação e a apreensão do alvo, tendo em vista as capacidades dos radares atualmente disponíveis nas viaturas do inventário do Exército Brasileiro e o material de confecção do alvo.

A VBC Gepard 1A2 possui dois radares: um de busca e outro de tiro. O radar de busca tem alcance horizontal de 750 até 15.750m, alcance vertical de 3.000m e opera na denominada banda “Echo” (faixa de frequência de 2,3 a 2,49 GHz). Já o radar de tiro, complementar ao de busca, tem alcance horizontal de 300 a 15.000m, alcance vertical também de 3.000m e utiliza a banda “Juliet” (faixa de frequência de 15,5 a 17,5 GHz).

A complementariedade desses radares se explica da seguinte forma: o radar de busca detecta alvos maiores e a distâncias igualmente maiores, ao passo que o de tiro se comporta melhor no rastreio dos alvos de menor dimensão.

Assim, enquanto o primeiro é pouco afetado por chuva ou neblina, sendo mais satisfatório na detecção e localização das ameaças aéreas, o segundo é ideal para seguir e identificar o alvo anteriormente detectado. O radar de tiro, assim, se presta a fornecer ao subsistema de armas, dois canhões de 35mm, os elementos de correção para a precisão do tiro, como direção, distância e velocidades radial.

Entretanto, ambos são efetivos somente no caso de o material do alvo aéreo permitir ao radar a sua reflexão por onda eletromagnética, conseguida pela ação da Seção Reta Radar[5] (RCS), do inglês Radar Cross Section.

Assim, quanto maior a RCS, mais forte será o eco da onda e, em consequência, mais fácil a detecção do alvo. De volta ao caso específico do alvo utilizado na Punhos de Aço, o seu material predominante era o isopor, que por ser dielétrico, apresentava uma RCS quase zero.

Vetores aéreos confeccionados com materiais stealth[6] também possuem essa característica, considerada essencial para burlar as defesas antiaéreas.

Como resultado, os chefes de peça e os atiradores das VBC Gepard 1A2 não conseguiram utilizar o processo de designação ótica[7]. Foi necessário, então, se valerem do método tradicional de busca de alvo, desenvolvido de forma manual, calcado na utilização do periscópio e na execução da mira empregando precessões à frente do aeromodelo, efetuando disparos cujas trajetórias são corrigidas pela observação em tempo real.

Isso faz com que o engajamento e neutralização da ameaça se torne uma tarefa bastante difícil, exigindo habilidade, familiaridade do operador com o equipamento e bastante treino. Sua efetividade se relaciona também ao grande volume de fogos disparados, com um consequente alto consumo de munição.

Mesmo não havendo a oportunidade de usar a tecnologia de tiro da VBC Gepard 1A2 em sua plenitude, salienta-se que a prática do processo manual foi de grande valia.

Indispensável na atualidade, será esse o método prioritário a ser utilizado para a supressão de ameaças advindas da abrangente gama de modelos de drones hoje facilmente adquiridos no mercado e amplamente empregados em ações hostis de toda a natureza. A VBC Gepard está em pleno uso na Guerra da Ucrânia, apresentando elevada proficiência na defesa do espaço aéreo ucraniano contra drones lançados em profusão pelas forças armadas da Federação Russa.

Isso, por si só, já explica o enorme ganho que representou o treinamento do processo manual de tiro pelas guarnições da VBC Gepard 1A2 da Brigada Niederauer, na Operação Punhos de Aço 2025.

-x-

[1] Sistemas em que as aeronaves são controladas remotamente do solo, sem a necessidade de um piloto.
[2] Os drones têm sido empregados de forma expressiva na Guerra da Ucrânia, com feitos do nível tático ao político.
[3] Exercício de adestramento avançado planejado e conduzido pela 6ª Brigada de Infantaria Blindada, no Campo de Instrução Barão de São Borja, o Saicã, localizado no município de Rosário do Sul-RS.
[4] O Aproveitamento do Êxito, em particular, ocorreu somente por meio do planejamento na carta, realizado previamente à ida para Saicã, por todas as organizações militares da 6ª Bda Inf Bld.
[5] A RCS (Radar Cross Section) ou Seção Reta Radar é a medida de capacidade de um objeto refletir o sinal do radar de volta para a antena.
[6] Materiais stealth são classificados como furtivos, desenvolvidos para reduzir ao máximo a detecção pelos radares, seja pelo formato (design), pelos materiais que o compõe (absorvedores) ou pela combinação de ambos.
[7] Processo no qual o operador pisa no pedal de acompanhamento ótico e leva o periscópio até o alvo, agindo no anel de designação e realizando a apreensão da ameaça, fazendo com que a torre acompanhe o vetor aéreo de forma automática.

Autores:

GENERAL DE BRIGADA ANDRÉ LUIZ DE SOUZA DIAS – Formado em 1996, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), é oriundo da Arma de Infantaria. Atualmente, comanda a 6° Brigada de Infantaria Blindada, com sede em Santa Maria-RS. Nessa mesma Brigada, foi o Comandante da Companhia de Comando, em 2010-11, e do 29º Batalhão de Infantaria Blindado, no biênio 2019-20. Além do Curso de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro, realizou o Curso de Estado-Maior das Forças Armadas da Espanha e o de Altos Estudos Nacionais da Bolívia. Possui os Mestrados Acadêmicos em Operações Militares e em Ciências Militares, ambos no Brasil, em Política de Defesa e Segurança Internacional, na Espanha, e em Segurança, Defesa e Desenvolvimento, na Bolívia. É membro da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira (ANVFEB) e do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB).

1º TENENTE VÍTOR SIQUEIRA WOLLMANN – Formado em 2019, na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), é Oficial da Arma de Artilharia. Realizou o Curso de Operação das Viaturas Blindadas de Combate Obuseiros Autopropulsados M108, M109 A3 e M109 A5+ BR para Oficiais, no ano de 2021, e Curso de Artilharia Antiaérea para Oficiais, no ano de 2024. Serve atualmente na 6ª Bateria de Artilharia Antiaérea Autopropulsada, localizada em Santa Maria-RS, exercendo o cargo de Comandante da 1ª Seção Antiaérea, que é composta por 04 (quatro) Viaturas Blindadas de Combate Gepard 1A2.

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