Embraer não teme concorrência de novo avião chinês

Por Juliano Basile | De Brasília

 

O desenvolvimento de novos modelos de aeronaves por empresas estatais da China, como a Commercial Aircraft Corporation of China (Comac), não é visto como uma ameaça pela Embraer, a líder do mercado naquele país. Pelo contrário, a demanda por aeronaves na China tende a crescer de maneira tão grande que há espaço para os jatos da companhia brasileira e para os da concorrência.

A avaliação é do presidente da Embraer Aviação Comercial, Paulo César Silva. A companhia tem 90% do mercado de jatos de 100 assentos, justamente a faixa em que a Comac pretende ingressar a partir do ano que vem com a comercialização dos modelos ARJ 21.

Segundo Silva, há necessidade de expansão na aviação regional chinesa, especialmente no oeste e no centro do país. Para atender a essa demanda, novas empresas aéreas estão sendo formadas, principalmente no segmento de baixo custo. "Acreditamos que isso é bom para nós", disse Silva ao Valor. O desafio, segundo ele, é convencer as empresas aéreas chinesas que os jatos da Embraer "são tão ou mais eficientes que os 'narrow bodies'" -as aeronaves de corredor estreito e dois ou três assentos em cada lado.

A seguir os principais trechos da entrevista.

Valor: O desenvolvimento de novas aeronaves pela China, em especial do ARJ 21, pode tirar mercado da Embraer naquele país?

Paulo César Silva: A China vem crescendo muito rápido e há a necessidade de jatos regionais para sustentar a eficiência das operações de alimentação de tráfego nos grandes aeroportos que complementem as operações de aviões "narrow body" (de corredor estreito), fornecendo um equilíbrio ideal de frequência e assentos, incentivando o desenvolvimento de novos mercados com menores riscos e capacidade incremental, gerando assim significativa demanda por novas aeronaves desta categoria.

Valor: Qual o tamanho dessa demanda?

Silva: Segundos as nossas perspectivas de mercado, a China será responsável por 17% das entregas mundiais de jatos com 70 a 130 assentos nos próximos 20 anos, gerando uma demanda por 1.020 entregas de novos jatos no país até 2033 nesta categoria, na qual a Embraer é hoje líder mundial com mais de 50% de participação.

Valor: O mercado chinês é tão grande que comporta novas companhias, como a Comac, sem prejuízos para as demais?

Silva: Acreditamos que há espaço tanto para os nossos jatos quanto para os da concorrência, mas são as companhias aéreas que decidirão qual aeronave adquirir. Queremos participar ainda mais do plano do governo chinês em desenvolver a aviação regional no país, ajudando a melhorar a conectividade dos chineses por meio de aeronaves com alto grau de desempenho, conforto e baixo custo operacional.

Valor: Qual é a importância da China para a Embraer?

Silva: Pelo tamanho do país e do mercado, a China tem grande importância no nosso segmento de negócios. Atualmente, temos em torno de 150 jatos da Embraer voando no país, detendo cerca de 90% de participação de mercado no segmento de jatos de 100 assentos.

Valor: A empresa espera que o desenvolvimento da aviação regional chinesa leve à criação de novas competidoras?

Silva: Há uma grande necessidade de aviação regional na China, especialmente no oeste e no centro do país. Há algumas novas empresas aéreas sendo formadas, principalmente no segmento de baixo custo, e acreditamos que isso é bom para nós. O que temos de fazer agora é convencer as empresas aéreas chinesas de que os jatos de 100 assentos são tão ou mais eficientes que os "narrow bodies" para esse propósito, que é abertura de novos mercados com menores riscos, oferecendo a quantidade adequada de assentos para cada mercado.

Valor: Qual a importância para a empresa das vendas assinadas em julho para a Tianjin e para a ICBC?

Silva: A Embraer e a Tianjin Airlines têm uma parceria bem sucedida de longa data. A companhia aérea foi o cliente-lançador do E190 na China e opera a maior frota de E-Jets na Ásia, com 50 jatos E190. Também foi a primeira empresa chinesa apontada como Centro de Serviço Autorizado pela Embraer no país. Este novo pedido de jatos por parte Tianjin reforça o sucesso que a companhia aérea vem tendo com os jatos da Embraer, contribuindo para a aviação regional chinesa e sendo vitrine para as nossas aeronaves na China, abrindo novas oportunidades de mercado e construindo uma rede de transporte aéreo para o benefício do país. Já ter a ICBC Leasing, uma das principais empresas de leasing de aviões do mundo, comprando os E-Jets dá aos nossos potenciais clientes mais uma opção quando pensam em operar estas aeronaves. Isso não apenas na China, mas também em outros países, mostrando que os E-Jets E2 têm grande apelo junto às companhias aéreas de todo o mundo.

Valor: Como estão as atividades na unidade em Harbin, no Nordeste da China?

Silva: A Embraer se estabeleceu na China em 2000, quando abriu o escritório de representação em Pequim. No mesmo ano, entregamos o primeiro ERJ 145, de 50 lugares, para Sichuan Airlines. Desde então, a presença da Embraer no país cresceu constantemente. Em 2002, formamos a Harbin Embraer Aircraft Industry (HEAI), joint-venture com a empresa chinesa AVIC, na cidade de Harbin, onde produzimos o ERJ 145 para o mercado chinês até 2011, e onde atualmente é fabricado o jato executivo Legacy 650.

Valor: A Embraer pretende ampliar os investimentos na China de alguma maneira nos próximos meses?

Silva: Tendo em vista o crescimento da frota na China, a Embraer vem fortalecendo a capacidade de atendimento aos clientes. Em 2010, a Embraer estabeleceu a Embraer China Aircraft Technical Service Company, subsidiária integral cujo escopo comercial cobre a venda de peças de reposição e serviços de consultoria relativos a problemas técnicos e operações de voo. No mesmo ano, a Tianjin Airlines tornou-se Centro de Serviços Autorizado da Embraer para os jatos ERJ 145 e E190. Em 2012, a Embraer nomeou a Taikoo (Shandong) Aircraft Engineering (STAECO) como Centro de Serviços Autorizado da Embraer. Ou seja, quanto mais aeronaves operando no país, maior o investimento no suporte à operação desses jatos. Além disso, temos feito investimentos para mostrar a eficiência do segmento, como na Conferência de Aviação Regional da China do ano passado, que fez parte do Fórum de Desenvolvimento da Aviação Civil naquele país, sendo a primeira vez, nos sete anos em que o fórum é realizado, que a aviação regional foi incluída entre os temas.

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