A Intentona Comunista de 1935 em Poucas Palavras

A Intentona Comunista de 1935 em Poucas Palavras

Luiz Ernani Caminha Giorgis
Coronel de Infantaria e Estado-Maior Veterano do Exército Brasileiro.

 “O comunismo não é a fraternidade; é a invasão do ódio entre as classes. Não é a reconciliação dos ho-mens; é a sua exterminação mútua”.

Ruy Barbosa

“O fascismo e o comunismo não são duas coisas opostas, mas duas gangues rivais que lutam pelo mesmo território… ambos são variantes do estatismo, que se baseia no princípio coletivista de que o homem é um es-cravo do Estado, sem direitos”.

Ayn Rand – Filósofa russo-americana

No próximo dia 27 de novembro(1) recordamos amargamente a grande traição perpetrada pela esquerda brasileira – a chamada Intentona Comunista de 1935.

Este é um breve apanhado dos acontecimentos daqueles dias fatídicos.

Em 1908 surge, no Rio de Janeiro, a Confederação Operária Brasileira (COB), inspirada nos postulados de Karl Marx e Friedrich Engels. Seu órgão oficial foi o jornal “A Voz do Trabalhador”, que adotou uma linha grevista-reivindicatória e contrária ao Serviço Militar.

Com a Revolução Comunista na Rússia em 1917 a COB ganha força e passa a atacar acintosamente o Governo Federal. Mesmo desativada em 1918, continuou a operar de forma descentralizada até 1920. Seu legado foi a politização dos trabalhadores no Brasil.

Em 1922, é organizado o Partido Comunista Brasileiro (PCB), no Rio de Janeiro, negando o sentimento de Pátria e manifestando a tomada do poder pela força. O PCB lança o jornal “O Movimento Comunista” e em seguida o periódico “A Classe Operária”.

Em seguida, surgem no cenário duas novas organizações de esquerda, o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) (2) e a Federação Sindical, ambas nitidamente subversivas.

A agitação reinante (3) faz o Presidente Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa pedir imediatamente o Estado de Sítio, aprovado pelo Congresso no dia 5 de julho por 30 dias e, findo este prazo, prorrogação até 31 de dezembro.

Eleito, Arthur da Silva Bernardes assumiu a presidência em 15 de novembro de 1922, em pleno Estado de Sítio, somente suspenso em 1927, já no mandato de Washington Luís Pereira Gomes.

No mesmo ano de 1922 o Congresso havia aprovado a lei que colocou o PCB na ilegalidade.

O movimento comunista passa a ser clandestino. Mesmo assim, em um congresso, o Partido escolhe Luís Carlos Prestes para líder que, convidado, aceita (4).

Em 1931, Luís Carlos Prestes segue para a União Soviética (5), onde faz cursos de liderança comunista. No regresso5, assume a direção do Partido. As atividades comunistas ganham incremento.

Em 1934, surge a Aliança Nacional Libertadora (ANL), nova organização comunista, melhor es-truturada. A ANL será o dínamo da Intentona e Prestes é o Presidente.

Neste contexto, o deputado Carlos Lacerda lê em plenário um manifesto de ataque ao governo, com-batendo o imperialismo e o latifúndio. O manifesto favorece os comunistas.

Ainda em 1935, chega ao Brasil um agente da Internacional Comunista, o Komintern – Artur Ernest Ewert (6), para auxiliar na articulação do movimento. A propaganda comunista chega aos quartéis, através de elementos doutrinados por Prestes e por Agildo Barata, entre outros. O assalto sóciocomunista para tomada do poder passa a se tornar iminente.

A 23 de novembro inicia-se o levante em Natal, estendendo-se ao Recife em 24 e ao Rio de Janeiro em 27. Na Capital Federal, irrompe no 3º RI (Praia Vermelha) e na Escola de Aviação (Campo dos Afonsos).

No 21º BC em Natal, às 1930 h de 23 de novembro (sábado), dois sargentos, dois cabos e dois soldados prenderam o Oficial de Dia Tenente Abel Cabral, o Tenente José Cícero de Souza e o Sargento João Barradas, todos recolhidos ao cassino dos oficiais. Depois disto, os revoltosos abriram o quartel para os demais.

Muitos eram remanescentes da recém extinta Guarda Civil. O armamento e a munição foram reti-rados das reservas e paióis. Armados, os revoltosos atacaram o quartel da Polícia Civil que, depois de 19 horas de resistência, rendeu-se. Após dominarem a situação, os revoltosos instalaram o Comitê Popular Revolucionário, também chamado Governo Revolucionário Popular. Os comunistas só fugiram com a ação das tropas federais, depois de terem feito vários assassinatos, saques e arrombamentos, ao longo de quatro dias. Presos logo após, responderam processos na justiça (7).

Em Recife, quando os militares comunistas souberam dos acontecimentos em Natal, insurgiram-se contra seus comandantes. Em Olinda, no dia 24, civis comandados por um sargento, atacaram a Ca-deia Pública, apoderando-se do armamento. A Secretaria da Segurança Pública, bem como o QG da 7ª RM foram também atacados. No CPOR, um sargento matou um oficial e feriu outro, sendo preso em seguida.

Os confrontos mais graves ocorreram no 29º BC, sediado na Vila Militar de Socorro, que sublevou-se marchando em direção a Recife. As tropas revoltosas eram comandadas pelo capitão Otacílio Alves de Lima e pelo tenente Lamartine Coutinho Correia de Oliveira, comandante de Companhia. Este, colocou sua tropa contra as forças legais, no que foi seguido por outras subunidades. Lamartine apossou-se de todo o armamento e suas tropas ocuparam vários pontos do Recife.

Com o reforço de tropas das Alagoas e da Paraíba o comandante das forças legais, Tenente-Coronel Afonso Augusto de Albuquerque Lima, conseguiu cercar os rebeldes. Resultado: dezenas de mortos, cerca de 100 feridos e 500 rebeldes presos.

No Rio de Janeiro aconteceram os fatos mais graves, por ser a Capital Federal. Os dois locais de maiores levantes comunistas foram o 3º RI (Praia Vermelha) e a Escola de Aviação (Campo dos Afonsos).

No 3º RI, a doutrinação esquerdista tinha atingido oficiais e graduados, em todas as subunidades. Os líderes eram os capitães Álvaro Francisco de Souza, Agildo Barata e José Leite Brasil. A unidade estava de prontidão no dia 26 de novembro, em função dos acontecimentos no NE. Neste dia, à tarde, o Capitão Agildo Barata recebeu ordem de Luís Carlos Prestes para deflagrar o movimento na madrugada de 26/27. O primeiro tiro foi disparado às 0200 h, no pátio do Regimento. Em seguida, a Companhia de Metralhadoras foi atacada e reagiu, sob o comando do Capitão Álvaro Alves da Silva Braga. Depois de muito tiroteio e prisões de oficiais legalistas, os comunistas, ao amanhecer, dominaram o RI, inclusive com a prisão de seu Comandante, Coronel José Fernando Afonso Ferreira.

A reação legalista, comandada pelo General Eurico Gaspar Dutra, não tardou, tendo a tropa cercado o 3º RI. Sob ataque de Infantaria e Artilharia, os amotinados não resistiram e renderam-se, já por volta das 1300 h do dia 27 de novembro, uma 4ª feira.

No Campo dos Afonsos, o ataque rebelde iniciou por volta de 0200 h do mesmo dia 27, liderado pelos capitães Sócrates Gonçalves da Silva e Agliberto Vieira de Azevedo à frente de 30 homens.

Dois outros capitães, legalistas, foram assassinados. Um outro oficial foi morto após ter sido preso, já desarmado e incapaz de reagir. Os amotinados apossaram-se do armamento e munição e buscaram os hangares, para acionar os aviões, mas as baterias de obuses do Grupo Escola de Artilharia impediram o acesso.

No 1º Regimento de Aviação, vizinho à Escola, o comandante Tenente-Coronel Eduardo Gomes comandou a reação com êxito, até a chegada das forças legais. Muitos revoltosos fugiram e 254 foram presos.

Anos depois, os sóciocomunistas da Intentona de 1935 foram anistiados e perdoados pela Sociedade, mas realizaram, em 1964 e 68, novas tentativas.

O saldo da Intentona Comunista de 1935 foi de mais de 100 mortos, entre civis e militares, e 500 mutilados e feridos.

Referências:

Atlas Histórico do Brasil/FGV

www.dhnet.org.br/memoria/1935/livros/giocondo/cap4_rebeliao.htm

SILVA, Hélio. 1935 – A Revolta Vermelha. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.

1 – Em 2025, 90 anos.

2 – Posteriormente denominada “Confederação”.

3  – Em parte causada pela revolta tenentista iniciada em 05 de julho de 1922.

4 –  Prestes era conhecido nacionalmente pela participação na Coluna de Miguel Costa (movimento tenentista, não socialista).

5 – Prestes chegou ao país clandestinamente em abril de 1935, com sua companheira Olga Guttman Benário, uma alemã militante comunista que foi deportada para a seu país de origem pela justiça brasileira. Estava grávida.

6 – Arthur Ernest Ewert, também conhecido como Harry Berger, foi um militante comunista internacional. Nascido em 1890 na Prússia Oriental, já parte integrante da Alemanha, Ewert entrou para o Partido Comunista Alemão em 1921.

7 – Além de Natal, foram ocupadas outras cidades do Rio Grande do Norte, como Ceará-Mirim, Baixa Verde, São José de Mipibu, Santa Cruz e Canguaretama. Os rebeldes organizaram uma coluna em direção a Recife, outra para Mossoró e outra para Caicó. Mas em 27 de novembro as tropas do Exército e as polícias militares dos estados vizinhos retomaram o poder dos revoltosos, entregando-o ao governador Rafael Fernandes Gurjão. Iniciou-se então a prisão dos amotinados e de todos os opositores do governador, entre os quais figuravam os chefes políticos João Café Filho e Kerginaldo Cavalcanti.

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