A força do soldado: valores que unem “x, y, z”

Ten Cel Daniel Mendes Aguiar Santos

O mês de agosto tem um significado especial para a nação brasileira. É o momento em que revisitamos a data natalícia de 25 de agosto e a senda patriótica do Marechal Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro (EB). Em especial, é o momento de reafirmar os valores do soldado, “ Braço Forte – Mão Amiga”, na defesa da Pátria.

Nesta “janela de oportunidade”, o presente ensaio, inicialmente, apresenta perspectivas, tecnológica e sociológica, que têm influenciado a sociedade contemporânea e, a seguir, avançam no seu propósito de exaltar a força do soldado nesse contexto, destacando os valores que sustentam a coesão do EB, parte indissolúvel da nossa sociedade.

Sob a perspectiva tecnológica, nos últimos 300 anos, o planeta presenciou a raça humana superar uma infinidade de desafios, gerando respostas na forma de revoluções industriais (RI): a 1ª RI, no século XVIII, com o domínio do vapor, viabilizando as ferrovias e os processos de mecanização; a 2ª RI, no século XIX, com o domínio da eletricidade, do gás e do óleo, viabilizando o telégrafo, o telefone, o motor de combustão interna etc; a 3ª RI, no século XX, com o domínio da energia atômica e a criação da internet, viabilizando os avanços na produção de energia, a instantaneidade nas comunicações e a aceleração da globalização; e a 4ª RI, em curso no século XXI, com a modelagem da “internet das coisas” e a prospecção de tecnologias disruptivas, viabilizando a inteligência artificial, a robótica, a computação quântica etc.

Sob a perspectiva sociológica, inevitavelmente influenciada pelas revoluções acima descritas, as gerações humanas têm vivenciado diferentes experiências sociais, políticas e econômicas e, assim, modelado pensamentos e comportamentos. Em termos demográficos, de 1930 até 2021, a população passou de dois para quase oito bilhões de habitantes. Nesse contexto, diversas teorias geracionais são debatidas, mesclando abordagens biológicas e sociológicas.

O autor australiano Mark McCrindle indica que, sob uma visão tradicional, uma geração é o intervalo médio de tempo entre o nascimento dos pais e o nascimento de seus filhos. Já, sob uma visão hodierna, uma geração é percebida como um grupo de pessoas nascidas na mesma época, influenciadas pelos mesmos marcadores sociais e por condições, tecnologias e eventos. Logo, fruto das diferentes amálgamas de experiências a que são expostas, as diversas gerações modelam aspirações e visões de mundo diferentes.

Em especial, os autores americanos William Strauss e Neil Howe propõem a observação da história em quatro períodos cíclicos (de alta, de despertar, de desdobramento e de crise), evidenciando as gerações de acordo com o período em que nasceram. Apesar de um enfoque anglo-americano, o modelo tem sido transbordado e referenciado debates globais. De modo geral, admitindo algumas variações nos recortes temporais, teríamos:

– “Baby Boomers”: geração nascida no período “de alta” (1945-1965), que experimentou a polarização EUA x URSS; a “corrida tecnológica”; o aumento das liberdades sociais; e elevou a taxa de fecundidade, sendo de viés “idealista”.

– “X” : geração nascida no período “de despertar” (1965-1985), que experimentou o fim da Guerra Fria, o início da globalização e a gênese da internet, sendo de viés “reativo”.

– “Y” ou “Millennials”: geração nascida no período “de desdobramento” (1985-2005), que experimentou o período de crise pós 11 de setembro, a ampliação da internet e o surgimento de novas tecnologias, sendo de viés “cívico/heroico”.

– “Z”: geração que tem nascido no período “de crise” (2005-2025), que segue experimentando a ameaça do terrorismo, a recessão global, as mudanças climáticas, o surgimento de tecnologias disruptivas e o acirramento das disputas geopolíticas mundiais, sendo de viés “adaptativo”. Em particular, uma vez que os autores estimam que os  quatro períodos são cíclicos, a geração “Z” seria análoga aos “builders”, geração nascida no período “de crise” anterior, 1925-1945, que experimentou o pós 2ª Guerra Mundial e os diversos processos de reconstrução, sendo, também, considerada de viés “adaptativo”.

Observando a existência de gerações tão distintas, atualmente, como uma instituição seria capaz de integrar membros de diferentes gerações em prol de um objetivo comum?

Para responder tal questão, primeiramente, leiam os Eclesiastes 1:4, que ressalta que “uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece”. Dessa forma, vislumbramos que a resposta não é material, mas provavelmente intangível. Avançando, recorremos à história e revisitamos os feitos de Caxias em dezembro de 1868, na Batalha de Itororó, quando resolveu empregar a reserva, a fim de conter um violento contra-ataque oponente sobre uma ponte. Naquele momento, Caxias, no auge dos seus 65 anos, pessoalmente, comandou a ação e a carga final para garantir a posição, eternizando o brado “sigam-me os que forem brasileiros!”. Como consequência, a liderança, pelo exemplo, fez “arder o fogo” de ideais emulados no âmago do soldado – os valores militares.

Assim, indicamos a resposta à indagação anterior: os valores, como “ativos atemporais”, alicerçados nas crenças de um indivíduo, determinantes do comportamento e da atitude, são capazes de integrar diferentes gerações em prol de um objetivo institucional. Neste mister, os soldados, do recruta ao general, manifestam os mesmos valores:

–  “Patriotismo” e  “Civismo”, valores que falam ao âmago do soldado-cidadão, evidenciados pelo amor e respeito  à memória, aos heróis e aos símbolos da nossa Nação;

–  “Fé na missão” e  “Amor à profissão”, valores que falam ao coração do soldado, externados pelo sentimento de pertencimento ao EB, fortalecendo nosso comprometimento;

– “Espírito de corpo”, valor que fala à alma do soldado, materializado pelos laços de camaradagem nos diversos escalões do EB, potencializando nossa coesão;

– “Aprimoramento técnico-profissional”, valor que fala à mente do soldado, consolidado no treinamento diuturno, viabilizando nossa aptidão às novas tecnologias; e

–  “Coragem”, valor que remete à essência de ser soldado, demonstrada pelo senso de sacrifício vital na defesa da Pátria, potencializando nossa força, física e moral.

Como conclusão, mesmo inseridos em um contexto tecnológico e sociológico tão desafiador, é na perfeição diária dos valores militares que obtemos sinergia para criar um compromisso institucional que perpassa as gerações: a coesão para a defesa da Nação!

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Sobre o autor:

Atualmente, o TC Daniel Aguiar é o Comandante do Curso de Cavalaria da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército. Antes de exercer a função atual, realizou o Curso de Idioma Coreano e o Curso de Comando e Estado-Maior Conjunto na República da Coreia (2019-2020). Anteriormente, foi Instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (2018), Comandante do 10º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado (2014-2015) e Instrutor da Escola de Sargento das Armas (2004-2006). Ademais, é Doutor em Ciências Militares pelo Instituto Meira Mattos/ECEME (2016-2018).

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