1º Workshop de Emprego de Drones do CFN: Interoperabilidade e Lições da Guerra Moderna

O Corpo de Fuzileiros Navais realizou, em 26 de novembro, o 1º Workshop de Emprego de Drones, no Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC), no Rio de Janeiro. O evento reuniu especialistas civis e militares das Forças Armadas brasileiras, de instituições estrangeiras, da ONU, de órgãos de segurança pública e do setor privado, consolidando-se como um fórum técnico essencial para o debate sobre Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (SARP).

A participação da Força Aérea Brasileira (FAB) — representada pelo Subcomandante do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), Coronel Aviador Rodrigo Moura, e pelo Capitão de Infantaria Rodrigo Sande, do Grupo de Segurança e Defesa de Brasília (GSD-BR) — agregou perspectiva doutrinária e operacional ao encontro. Os temas apresentados, “Emprego de Drones na ONU” e “Drones em Operações em Ambiente Urbano”, dialogam diretamente com as demandas contemporâneas que emergem dos conflitos recentes e das operações multidomínio.

O Workshop e a Integração do Conhecimento

O encontro promoveu debates sobre:

  • emprego tático de SARP;
  • contramedidas e guerra eletrônica;
  • uso em ambiente urbano;
  • segurança de voo;
  • inovação e avaliação de riscos;
  • evolução doutrinária e interoperabilidade.

As palestras da FAB destacaram o uso crescente de drones pelas missões de paz da ONU — sobretudo na África — e a complexidade adicional do emprego desses sistemas em áreas densamente povoadas. Ferramentas como GEOAISWEB e SARPAS, mencionadas pelo GSD-BR, reforçam a importância de integrar planejamento aeronáutico às operações terrestres, tendência que se intensifica em todo o mundo.

Para o CCOPAB, o evento reforça a necessidade do aprimoramento contínuo, da padronização de procedimentos e da aceleração de pesquisas internas sobre sistemas não tripulados. A interoperabilidade, segundo o Coronel Moura, é um dos pilares para o uso eficiente de SARPs em operações conjuntas — premissa alinhada à Estratégia Nacional de Defesa.

Enfoque DefesaNet – As lições ucranianas: o drone como arma decisiva no campo de batalha moderno

Embora o workshop tenha caráter técnico, é impossível dissociá-lo do que ocorre atualmente nos campos de batalha, especialmente na guerra da Ucrânia — o conflito que, até o momento, mais redefiniu o emprego militar de drones desde a Guerra Global ao Terror.

A experiência ucraniana evidencia:

1. Proliferação e democratização de RPAS

Drones comerciais, baratos e facilmente adaptáveis, tornaram-se protagonistas. Equipamentos que custam centenas de dólares são capazes de destruir plataformas de milhões, representar ameaça constante a tropas, veículos e até navios.

A guerra demonstrou que não existe mais “linha de frente” segura — o sensor barato transformou-se em arma estratégica.

2. Uso maciço de FPV como munição de precisão improvisada

Os drones FPV (First Person View), modificados para portar explosivos, criaram uma nova categoria de “munição guiada de baixo custo”. Eles alteraram completamente a lógica da manobra terrestre, impondo dispersão, ocultação constante e mudanças no ritmo operacional.

3. Guerra eletrônica como fator crítico

Sistemas de interferência, spoofing de GPS e bloqueio de comunicações se tornaram tão importantes quanto blindagem ou artilharia.
A “batalha invisível” entre operadores de RPAS e sistemas de EW molda diariamente os resultados táticos.

4. Necessidade de grande capacidade industrial

A Ucrânia revelou que a guerra contemporânea exige produção em massa de drones, peças, baterias e cargas úteis. A logística se tornou tão relevante quanto o emprego em si.

5. Mudança doutrinária profunda

O drone deixou de ser um mero multiplicador de força e tornou-se um dos pilares centrais das operações.

Essas lições estão diretamente alinhadas aos temas abordados no workshop do CFN: contramedidas, emprego tático, guerra eletrônica e integração interagências.

Implicações para as Forças Armadas Brasileiras

O Brasil tem intensificado esforços para absorver essas transformações. O workshop evidencia três grandes movimentos:

1. Doutrina conjunta e interoperabilidade

A presença simultânea de FAB, CFN, Exército, ONU e especialistas civis aponta para uma necessária convergência doutrinária.
O uso de drones não pode ser isolado por força ou por área — é sistêmico e multidomínio.

2. Necessidade de capacitação e padronização

Os conflitos recentes mostram que operadores de RPAS precisam de formação sólida em:

  • guerra eletrônica;
  • gestão de tráfego aéreo em baixa altura;
  • integração com artilharia e inteligência;
  • planejamento urbano e rural.

O workshop é passo importante para padronizar conceitos, treinar quadros e atualizar procedimentos.

3. Indústria nacional e autonomia tecnológica

O aumento da demanda por drones táticos, FPVs militares, sensores e sistemas de contramedidas reforça a urgência de desenvolver soluções nacionais. A interoperabilidade também passa pela independência tecnológica.

O 1º Workshop de Emprego de Drones do Corpo de Fuzileiros Navais representa mais que um encontro técnico: é um sinal claro de que as Forças Armadas brasileiras estão buscando alinhar-se às tendências globais que emergem da guerra moderna.

Ao integrar especialistas da FAB, da Marinha, do Exército, da ONU, da indústria e da segurança pública, o Brasil avança numa agenda essencial: construir uma doutrina conjunta, atualizada e capaz de responder ao impacto crescente dos sistemas não tripulados no campo de batalha.

A participação da FAB reforça o compromisso com a interoperabilidade — elemento central da Estratégia Nacional de Defesa — e destaca a importância de compreender as profundas transformações trazidas pelo emprego de drones, especialmente à luz das lições da Ucrânia.

O futuro da guerra é cada vez mais caracterizado por sensores onipresentes, drones baratos e manobras baseadas na informação. Eventos como este são passos fundamentais para que o Brasil esteja preparado para esse novo paradigma.

Nota DefesaNet – Terminologia no Brasil
No contexto brasileiro, a sigla internacional RPAS (Remotely Piloted Aircraft Systems) equivale oficialmente ao termo SARP (Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas), conforme adotado pela ANAC e pelas Forças Armadas. Ambas as designações descrevem o mesmo conceito operacional, variando apenas pela padronização normativa utilizada no país.

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