“Nós vamos bater o martelo!” – MD aprova WAD e garante financiamento

por Vianney Junior

 
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Em encontro com um dos dois oficiais da Força Aérea que participaram do treinamento de voo na Suécia, Jaques Wagner foi apresentado às principais funcionalidades do WAD, do inglês, wide area display, ou visor único de tela larga, que substituirá os três pequenos displays hoje em operação nos Gripen de versão C e D. O novo caça brasileiro, já será dotado desta tecnologia que visa ampliar a consciência situacional, ou seja, a percepção do piloto de todas as ameaças que estão em sua volta numa situação de combate.

Além da vantagem operacional militar, a adoção deste novo modelo de tela permitirá a participação da indústria brasileira em um dos itens de mais valor, dentre aqueles onde o Brasil poderá avançar dentro da pretendida transferência de tecnologia: os softwares embarcados. No caso do WAD, os de interação homem-máquina, ou HMI – Human-Machine Interface.

De maneira análoga à lógica aplicada aos nossos aparelhos celulares, um telefone de “teclinha” será sempre, apenas um telefone, enquanto um telefone touch screen, com função definida por software tem a capacidade de incorporar múltiplas funções, reprogramáveis a qualquer momento, de acordo com a evolução e desenvolvimento de novas aplicabilidades. No caso do Gripen, uma área sensível para a continuidade de seu desenvolvimento.

O ministro ficou satisfeito com o que viu, e pode compreender sob a ótica do piloto que opera o caça, que vantagens a decisão brasileira pelo WAD traz para a upgradabilidade, ou capacidade de atualização do Gripen NG.

Em um país que tem mantido seus caças de primeira linha em operação por, em média, 30 anos, a contínua modernização é vital para pelo menos minimizar as gritantes defazagens tecnológicas e operacionais.

Quanto ao trâmite contratual envolvendo Brasil e Suécia, para a produção das 36 aeronaves, sendo 28 do modelo equivalente ao E (monoposto), e 8 da versão F (biposto) ainda a ser desenvolvida, espera-se até o dia 24 de junho a ratificação do contrato de financiamento. Jaques Wagner é enfático na crença de que tudo se concretize, apesar do prazo apertado.

O pré-contrato de compra foi assinado em outubro de 2014, prevendo que em até oito meses o financiamento com o banco de fomento sueco SEK fosse ratificado. Para que se feche todo o processo de compra, ainda é necessário a votação no Senado para aprovação da negociação e do orçamento.

O receio da Força Aérea e das empresas brasileiras da base industrial de defesa envolvidas com a produção do Gripen, é que caso a aprovação e o contrato de financiamento não saiam até 24 de junho, todo o processo de negociação perca efeito, demandando que todos os termos do acordo da compra dos caças sejam reavaliados.

Sob o ponto de vista da END – Estratégia Nacional de Defesa, que pautou os critérios que pesaram na decisão, o adiamento ameaça a participação do Brasil no processo de desenvolvimento do Gripen NG com grave prejuizo à transferência de tecnologia almejada.
 

Queda de braço

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está determinado a reduzir as taxas de juros que já haviam sido fixadas e congeladas pelo acordo comercial assinado em 24 de outubro de 2014.

O ministro da indústria, comécio e inovação sueco, Mikael Damberg, interlocutor de Levy na disputa, afirma que não tem como rever os juros, a não ser que o contrato volte ao parlamento sueco e se inicie toda uma rodada de discussões e negociação. Neste caso, haveria impreterivelmente o atraso dos cronogramas de produção em curso, com postergação da chegada do primeiro dos 36 caças, hoje prevista para 2019, bem como de todas as demais entregas, até a última aeronave, esperada para 2024 pelo calendário atual.

O ministro Jacques Wagner reduz a contenda dos juros definindo-a como um “puxa-estica” natural, entre as duas partes, e afirmando que “não há nenhuma ameaça à decisão”.

“O contrato foi feito com seguro para as duas partes. Se subir [os juros] eles bancam, se baixar a gente banca. É óbvio que quando ele [o contrato] foi discutido, os juros estavam em um patamar, e agora estão em outro. Essa é a discussão. O que se está tentando é um ganho a mais no contrato de financiamento. A decisão nossa é de manter esse contrato, fazer a compra dos Gripen e fazer essa transferência de tecnologia”, garantiu o Ministro da Defesa.

A Saab já havia aceitado um pedido do governo brasileiro para reduzir de R$ 1 bilhão para R$ 200 milhões o valor do desembolso da primeira parcela, contribuindo com a decisão da presidente Dilma em assegurar a meta de 1,2% do superavit. Os demais R$ 800 milhões seriam distendidos no decorrer dos próximos anos.

O ministro Jaques Wagner conclui sua visão sobre a compra do Gripen dizendo que “essa operação é uma operação de dois países, de duas Forças Aéreas, e ela é boa para os dois lados, então é evidente que cada lado está compreendendo a dificuldade que o outro tem, e nós vamos seguir adiante.”

Conversa com o Ministro

WAD – WIDE AREA DISPLAY

Ministro Jaques Wagner: “O caça que o Brasil escolheu é algo do qual nosso povo pode se orgulhar. O painel dele é um painel produzido por uma empresa brasileira, a AEL, do Rio Grande do Sul, que tem uma parceria com tecnologia israelense, e ele é o estado-da-arte, pelo menos dessa tecnologia embarcada.”

INDÚSTRIA DE DEFESA

JW: “É preciso que as pessoas entendam que tudo que você faz na indústria de defesa acaba transbordando para a indústria comum. Tudo que a gente está aprendendo com o Gripen vai servir, por exemplo, para a Embraer desenvolver outros equipamentos, inclusive da aviação civil. Ele é fundamental. Efetivamente, a variável preponderante é a transferência de conhecimento e tecnologia.”

16 ANOS DE MINISTÉRIO DA DEFESA

JW: “Nessa data que marca os 16 anos do Ministério da Defesa, temos a oportunidade de refletirmos sobre as conquistas da sociedade brasileira em matéria de defesa, consubstanciadas na atuação deste ministério e das Forças Armadas, mas construídas em conjunto. A FAB está de parabéns. Foi muito competente de no dia do aniversário do Ministério da Defesa, está mostrando um equipamento que é a jóia da coroa da Força Aérea, porque falar em FAB, tem que se falar em caça, e aqui nós vamos ter um caça de primeiríssima qualidade, com alta capacidade de combate, com muita tecnologia, e que futuramente será produzido aqui, em território nacional.

É um dos nossos projetos estratégicos, e é bom que ele esteja aqui para a população ver [referindo-se à maquete exposta em Brasília e que percorrerá outras cidades]. É também imprescindível que continuemos a valorizar o mais importante recurso da defesa nacional: os militares brasileiros, que dedicam suas vidas ao Brasil com profissionalismo, competência e patriotismo.”

TRANFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

JW: “Nós temos empresas nacionais como Embraer, Akaer, SBTA, Atech, AEL, Mectron e Inbra, além do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), órgão da Aeronáutica, que vão se beneficiar com a transferência de tecnologia. Eu acho que a gente tem que ter orgulho e bater no peito. Foram na verdade visionários, no caso aqui, Brigadeiros, gente que trabalhou na FAB, civis também evidentemente, que entenderam que o Brasil tinha que dominar essa tecnologia pela dimensão, pela grandeza do país.”

ORÇAMENTO

JW: “Quando você faz um projeto cujo curso é de 10, de 15, de 20 anos é difícil você imaginar que durante esses 10, 15, 20 anos você não vai ter nenhum obstáculo no caminho. O que não pode é ser descontinuado. Essa é a visão que adotamos na disputa que houve do orçamento, já que nós estamos em um ano de restrição. É eventualmente diminuir velocidade, mas não descontinuar o projeto, porque aí seria um prejuizo muito grande.”

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