“Carreira militar é vocação e não saída para crise”

Márcio Souza
JORNAL DE JUNDIAÍ (SP) / Via Notimp – FAB

 

À frente do 12º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) de Jundiaí há pouco mais de um ano, o tenente-coronel Messias Siqueira Mendes Barbosa se diz satisfeito com o trabalho realizado desde que assumiu o posto. Ele destaca a atuação em equipe, o apoio da Associação dos Amigos do Grupo Barão de Jundiahy e a dedicação dos militares como pilares da boa relação construída pela corporação com a comunidade local.

Em entrevista ao JJ Regional, o comandante defendeu a participação do Exército no combate ao mosquito Aedes aegypti e destacou a importância de priorizar a vocação – e não uma ambição financeira-ao tentar uma carreira no exército. Confira abaixo os principais pontos.

Jornal de Jundiaí Regional- Que o balanço o senhor faz deste primeiro ano de trabalho à frente do 12º GAC?

Tenente-coronel Mendes- De uma forma global, o resultado foi positivo no ano de 2015, fruto principalmente do trabalho em equipe, do apoio da sociedade jundiaiense, da Associação dos Amigos do Grupo Barão de Jundiahy (ASSAGBY) e dos militares que servem com muita dedicação e competência nesta tradicional unidade do Exército brasileiro.

Qual a sua opinião em relação ao uso de homens do Exército no combate à dengue?

O emprego dos militares do 12º GAC está dentro da legalidade, pois é uma ação subsidiária prevista no Artigo 142 da Constituição Federal. De igual modo, é uma ação que tem legitimidade, pois grande parte da população, dos públicos e da mídia jundiaiense, bem como das demais cidades da região estão unidos contra um inimigo comum, que é o Aedes aegypti.

Além disso, destaco o alto índice de credibilidade da instituição, pois o militares têm constatado, na prática, a aceitação da opinião pública e a receptividade das pessoas, por ocasião das palestras de esclarecimento nas escolas feitas pelos médicos e demais profissionais da saúde pertencentes a esta unidade militar, das campanhas de orientação quanto as medidas para evitar ou minimizar a ação do mosquito, entre outras ações.

Em síntese, acredito ser uma medida eficaz no contexto atual das regiões que o 12º GAC está atuando e pelo significativo envolvimento e apoio da população em geral no combate à proliferação do mosquito transmissor dos vírus causadores da dengue, chikungunya e zica.

Em tempos de crise econômica, com maior dificuldade enfrentada pelos jovens para encontrar emprego, o senhor acredita que o Exército acabe sendo uma “saída” para muitos jovens em busca de uma carreira?

Em parte, porque a carreira das Armas é um sacerdócio, tem algo diferente que não se configura apenas como um emprego. Tem suas especificidades e sacrifícios. Envolve vocação e uma motivação, que levam o militar a vibrar com as atividades da caserna e acreditar em valores como honra, respeito, lealdade, verdade, honestidade, exemplo, hierarquia, disciplina, legalidade, culto aos símbolos nacionais, amor ao Brasil, valorização dos fatos históricos do Brasil e dos verdadeiros heróis nacionais.

Em resumo, acaba sendo uma consequência e não a causa. Existem casos pontuais dessa chamada “saída”, mas via de regra, a maioria dos militares do 12º GAC é de voluntários (quase cem por cento), conforme constam das nossas pesquisas internas. Ressalto que não é uma tendência observada nos recrutas de Jundiaí, respaldado nos dados estatísticos realizados nos dois últimos anos.

E qual a opinião do senhor sobre isso? Acredita que isso seja um fator positivo, mesmo sabendo que a vocação deve vir em primeiro lugar?

A carreira militar é mais que uma profissão, é missão de grandeza. Acredito que pode haver poucos casos, porém, o militar é vocacionado, é voluntário, tem orgulho da farda verde-oliva que veste, tornando incompatível o ingresso no GAC com essa finalidade. O grupo Barão de Jundiahy é uma unidade de elite que enviou militares para a Segunda Guerra Mundial , na década de 1940, participou da Operações de Pacificação nas comunidades do Rio de Janeiro e cumpriu a missão de segurança e defesa na Copa do Mundo de 2014, entre várias outras de destaque.

Cabe destacar que a estabilidade financeira é algo relevante e visto positivamente, desde que o militar seja voluntário, escolha ingressar na carreira das armas por vocação e entenda que isso é uma consequência e não um fato gerador de motivação para ser militar. A experiência ao longo dos anos tem mostrado que o ingresso apenas com esse objetivo leva o militar a pedir licenciamento das fileiras do Exército ou mudar se o foco for apenas a estabilidade financeira como motivação para ingresso e permanência no 12º GAC.

O senhor está a frente do grupamento há um ano. Houve novos investimentos esse período? Há novos investimentos previstos?

Sim, desde o dia 7 de janeiro de 2015, quando assumi o 12º GAC, houve investimentos necessários para a organização, contextualizados com a realidades do País, em várias áreas (logística, operacional, de pessoal, fiscalização de produtos controlados, fundo de saúde do Exército, administrativa, infraestrutura, da Unidade Militar, Programa Forças no Esporte, Programa Soldado Cidadão, recurso para o Ensino Militar da Escola de Sargentos existente na Unidade) recebidos do escalão superior.

Mesmo para os recrutas que cumprem apenas o período obrigatório e não seguem no Exército, qual a importância desse período na vida dele?

O Serviço Militar Inicial propicia aos soldados e cabos do efetivo variável, temporário, uma lição de vida, além de os deixar numa situação regular e legalizada com o Serviço Militar. O período incute no jovem valores, tradições e crenças na instituição, desenvolve um sentimento de amor à Pátria e de nacionalismo. Além disso, os torna aprimorados na área psicomotora (fruto das atividades físicas e esportivas), aperfeiçoado na parte cognitiva (aprendizado, particularmente quanto às instruções e lições aprendidas no quartel) e enriquecidos no aspecto afetivo (companheirismo, camaradagem, amizade, respeito ao próximo, dentre outros atributos).

Há, ainda, uma melhoria na compleição física do jovem em função do treinamento físico-militar (psicomotora), proporcionando-lhes ganhos corporais e na saúde. Outro destaque é a formação profissional dos soldados, por meio de cursos no Sistema “S” e várias outras parcerias. Muitos são motivados a fazerem cursos preparatórios para a Polícia Militar, Guarda Municipal, Aeronáutica e Marinha, bem como para Escola de Sargento das Armas (Essa) e Escola Preparatória de Cadetes do Exército.

Na área afetiva, menciono a tradicional Solenidade do Volta à Caserna, que em 2015 reuniu cerca de 3000 ex-soldados no 12º GAC para uma formatura, materializando a importância do serviço miliar na vida daqueles homens e o valor de uma sã camaradagem.

Quando o senhor assumiu o 12º GAC no ano passado, disse que pretendia continuar o trabalho desenvolvido e servir à comunidade. Acredita que tem alcançado este objetivo nesses 13 meses?

Sim, mas na minha visão, quem tem confirmado isso, de diversas formas, é a sociedade jundiaiense e os integrantes do 12º GAC. Só tenho procurado dar continuidade ao trabalhos dos meus antecessores e tentado servir à sociedade jundiaiense, ao Exército e ao País.

O que o 12º GAC tem feito (ou pode fazer) para aproximar o grupamento da comunidade na qual ele está inserido?

Um dos exemplos que me é muito caro e honroso é o trabalho que tem sido feito com crianças de 9 a 11 anos, estudantes da rede pública municipal, no complexo desportivo do 12º GAC, que é o Programa Forças no Esporte (PROFESP) em parceria com a administração municipal.

Estes 100 meninos e meninas chegam às 8h, tomam café, aprendem e praticam diversos esportes orientados por professores de educação física, almoçam e são transportados até as escolas. Da mesma forma, registro a participação nas principais solenidades militares de várias autoridades civis, militares e eclesiásticas, convidados, órgãos de mídia, grupos de serviço, amigos da unidade, sociedade em geral e familiares dos soldados.

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