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Petrobras no limite do risco

SÍLVIO RIBAS

Com todas as refinarias da Petrobras operando no limite da capacidade — esforço exigido pela crescente demanda interna de combustíveis e pela sua frágil saúde financeira —, a estatal se expõe a riscos inéditos, sobretudo ao ignorar recomendações internacionais. No último fim de semana, os efeitos de suas operações industriais cada vez mais perigosas ficaram evidentes, com a paralisação da unidade de coque da Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro.

O incêndio ocorrido na noite de sábado interferiu na produção de gasolina e de diesel, segundo relato do Sindicato dos Petroleiros (Sindpetro) da região, que também calcula de cinco a 10 dias para a retomada das atividades. A entidade acusa a companhia de sobrecarregar os equipamentos, ao forçar um aumento de 20% na operação da refinaria, que processa diariamente 240 mil barris de óleo cru.

O Sindipetro calcula que a parada da Reduc, responsável por 10% de todo o parque nacional de refino, representa uma perda diária de R$ 500 mil em receitas. O prejuízo tende, contudo, a ser bem maior se considerar as importações extras de derivados necessárias para atender a demanda interna. A notícia afetou negativamente as ações da petroleira na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa).

A Petrobras informou apenas que "o incêndio ficou restrito a um equipamento específico" e que "não houve danos a pessoas e ao meio ambiente". "Todos os sistemas e os procedimentos de segurança funcionaram conforme o previsto, e a unidade está preservada", acrescentou, em nota. Segundo o Sindipetro, a própria presidente da empresa, Graça Foster, visitou o local horas depois do ocorrido.

Os sindicalistas vêm alertando para uma escalada de acidentes nas refinarias da empresa, que somam cinco desde novembro envolvendo especificamente a produção de coque, ocorridos nos estados do Amazonas, do Paraná, da Bahia, de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Especialistas reclamam também do emprego máximo de pessoal e de máquinas.

Desabastecimento

Em dezembro, a companhia já havia sido multada pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) em R$ 151 mil devido à sobrecarga nas unidades de coque da Replan, em Paulínia (SP), ao longo de cinco anos. A punição foi determinada na última reunião da diretoria da agência de 2013, após a empresa apresentar recurso.

A ANP informou ontem em comunicado que está investigando as causas do acidente na Reduc. A previsão dada pela Petrobras é de retomada da produção na unidade até amanhã. A agência descartou, contudo, qualquer chance de haver desabastecimento de combustíveis no país em razão da parada.

Com o crescimento da produção de petróleo, as unidades têm atingido o ritmo de 95% de capacidade. O índice considerado normal é 85%, que permite manutenções e paradas preventivas para conter os riscos de acidentes. A estatal planeja investir US$ 64,8 bilhões na área de abastecimento no período de 2013 a 2017, sendo 51% na ampliação da capacidade de refino.

O Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) estima que a Petrobras poderá ter gasto adicional de R$ 1,3 bilhão com importações de diesel e gasolina apenas em razão da parada da Repar, refinaria da estatal no Paraná, afetada por um incêndio na unidade de destilação, no último 28 de novembro.

Produção de óleo cai

Os volumes produzidos pelos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) caíram em dezembro para o seu menor nível desde maio de 2011, afetados pelas greves e pelos protestos na Líbia, pela estagnação nas exportações do Iraque e pela redução adicional da oferta da Arábia Saudita. A produção média nos países do cartel em dezembro foi de 29,53 milhões de barris por dia, ante 29,64 milhões em novembro, segundo dados de empresas, consultorias e da própria Opep. O levantamento revela a pressão que as paradas não planejadas têm sobre a produção da Opep, o que ajudou a manter as cotações do petróleo acima de US$ 100 por barril em 2013, tendência que deve persistir. "Os problemas de abastecimento estão no centro das atenções", disse Carsten Fritsch, analista do Commerzbank. "Em relação à Líbia, ainda é muito cedo para dizer se os níveis de produção vão estabilizar ainda mais."

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