Empresas e ex-policiais prestam serviço a parlamentares e ministros receosos de serem grampeados

Empresas e ex-policiais prestam serviço a parlamentares e ministros receosos de serem grampeados

Medo de espionagem leva até STF a pagar agentes

Autor(es): Vannildo Mendes
O Estado de S. Paulo

COLABORARAM MARIÂNGELA GALLUCCI e ROSA COSTA

Acuados pela paranoia do grampo para produção de dossiês que tomou conta do País, políticos e altos dirigentes dos três Poderes passaram a buscar no mercado profissionais com expertise em técnicas de investigação, inteligência e contrainteligência. Em geral, o objetivo é prevenir-se contra a arapongagem, mas em alguns casos é também para bisbilhotar a vida de rivais.

Profissionais da área estimam em mais de 20% o crescimento da procura neste ano. A nova legislatura já nasceu contaminada pelos escândalos envolvendo dossiês nas últimas eleições. "A procura só não é maior porque os políticos optaram por incluir profissionais de inteligência na cota de assessores", disse Edilmar Lima, dono da Central Única Federal dos Detetives do Brasil, uma das empresas do ramo mais requisitadas do País.

Mais da metade dos integrantes do Congresso, segundo Lima, já teria montado alguma estrutura de inteligência. Pelo menos 20 parlamentares requisitam os serviços da empresa. "Estamos no século da insegurança. Na política, todo mundo acha que é investigado e nos contrata para fazer contraespionagem."

Vários políticos usam recursos de espionagem para levantar a sujeira dos adversários. Para o detetive, a lógica é a mesma que move vítimas de traição, chantagem e concorrência desleal.

‘Personal’

No Senado, os mais paranoicos são José Sarney (PMDB-AP), que há mais de dez anos mantém como "personal araponga" o delegado aposentado Edmo Salvatori, ex-superintendente da Polícia Federal em Brasília, e o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), que frequentemente faz varreduras nos locais de trabalho.

Salvatori não está mais no quadro de assessores, mas ainda dá consultoria a Sarney. Uma de suas contribuições mais relevantes ocorreu em 2007, na Operação Navalha, que indiciou aliados do senador, como o ex-ministro Silas Rondeau. O ex-delegado foi útil para vigiar delegados e agentes da PF que atuaram na operação Factor, ex-Boi Barrica, que investigou Fernando Sarney, filho do senador.

Com aval de Sarney, o serviço de inteligência do Senado foi reestruturado e adquiriu equipamentos de varredura de última geração, do mesmo nível do da PF. A equipe recebe treinamento regular na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Na Câmara, que está atrasada em relação ao Senado, destacam-se o delegado Protógenes Queiroz (PC do B-SP), o capitão Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Fernando Francischini (PSDB-PR).

Na Esplanada, o mais ansioso é Edison Lobão (Minas e Energia). O ministro Antônio Palocci (Casa Civil) também estruturou um serviço de inteligência para municiar a presidente Dilma Rousseff com informações estratégicas e para consumo próprio. 

Governadores buscam secretários na inteligência da PF

Nos Estados, a preocupação com os assuntos de inteligência não é diferente. Hoje, 12 governadores contam com quadros da Polícia Federal para comandar a segurança pública estadual. Quase todos os titulares chefiaram ou tiveram passagem pela Divisão de Inteligência. O objetivo alegado é reforçar o caráter técnico da atuação policial, livre das influências políticas locais, e absorver o know how da instituição no combate à corrupção, ao crime organizado e ao narcotráfico. Atualmente, 120 policiais federais estão cedidos aos Estados e órgãos públicos diversos.

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