Micróbios tiveram papel importante na limpeza do Golfo depois de vazamento

.Publicado Wall Street Journal

Uma combinação fortuita de uma bactéria voraz, correntes oceânicas e topografia regional ajudou a limpar com rapidez boa parte do óleo e do gás despejados no Golfo do México no desastre da plataforma Deepwater Horizon em 2010, relataram pesquisadores.
Depois de vazar petróleo e gás por quase três meses, o poço da BP PLC foi fechado em meados de julho de 2010. Cerca de 200.000 toneladas de gás metano e cerca de 4,4 milhões de barris de petróleo vazaram no oceano. Dada a enormidade do vazamento, muitos cientistas previram que uma grande quantidade dos poluentes químicos resultantes ficaria nas águas da região por anos.

Segundo um novo estudo patrocinado pelo governo americano e publicado ontem pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, esses cientistas estavam errados. No final de setembro de 2010, a vasta mancha submarina de metano, mais outros gases, havia praticamente desaparecido. No fim de outubro, uma grande quantidade do óleo que havia ficado sob as águas — uma substância complexa formada por milhares de componentes — havia desaparecido, também.

"Houve muita conversa de dimensões catastróficas", disse o microbiologista David Valentine, da Universidade da Califórnia, coautor do estudo, publicado na revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences". Mas acabou-se vendo "que o oceano abriga organismos que podem dar conta" da absorção de poluentes como óleo e gás, disse ele.

Um ano atrás, Valentine e outros cientistas publicaram uma monografia descrevendo como bactérias que ocorrem naturalmente haviam, aparentemente, devorado a maior parte dos químicos tóxicos liberados pelo vazamento da BP. O trabalho, patrocinado pelo governo e publicado na revista "Science", provocou a desconfiança de outros pesquisadores, que questionaram se outros micróbios poderiam ingerir tanto gás e petróleo em tão pouco tempo.

Valentine e seus colegas agora usaram um modelo computadorizado para explicar exatamente como esse cenário pode ter acontecido. "O ceticismo foi certamente um dos fatores que ajudaram a nos motivar a fazer este [novo] estudo", disse Valentine.
Foi um desafio intrincado. O primeiro passo foi estimar o fluxo dos vários hidrocarbonetos do poço durante os 87 dias de vazamento. Os pesquisadores identificaram 26 classes desses químicos; eles então tiveram de calcular quais desses químicos ficaram na mancha que ficou a mais de 1.000 metros de profundidade, e quais subiram à superfície. Por exemplo, na mancha submarina, certos químicos se dissolveram completamente na água, inclusive o gás metano, enquanto algumas das gotas de óleo foram atomizadas e continuaram suspensas na água.

Em seguida, os cientistas trataram de identificar as principais espécies de bactérias que comem óleo e gás e que vivem nas profundezas do golfo. Eles identificaram 52 espécies principais desses micróbios. Os cientistas também estimaram o tempo que leva para as bactérias consumirem petróleo e gás, e o quanto as colônias de bactérias cresceram.

O último passo foi fazer um modelo do complexo movimento da água no golfo para determinar para onde o óleo e o gás — e as bactérias — foram levados. Igor Mezic, um colega de Valentine e também coautor, havia publicado um estudo em 2011 prevendo para onde o petróleo vazado havia ido. Essa análise incluía dados do modelo da Marinha dos EUA para as correntes oceânicas do Golfo e observações sobre os movimentos da água logo depois do vazamento e durante os meses depois de seu encerramento.

Os pesquisadores decidiram juntar seus modelos computadorizados — um sobre as bactérias que se alimentaram do vazamento e o outro sobre o movimento das águas. Quando rodaram o modelo resultante, descobriram que ele ajudava a explicar o enigma do rápido sumiço do petróleo vazado.

O modelo mostrou que a topografia do Golfo havia tido um papel fundamental. Como o Golfo tem terra em três lados — norte, leste e oeste —, as correntes não fluem numa só direção, como um rio. Em vez disso, a água bate e volta nas paredes de terra, como numa máquina de lavar.
Uma população inicial de bactérias encontrou o vazamento perto do poço da BP, a colônia cresceu, e ela então foi arrastada pelas correntes oceânicas. Mas quando a água voltou — o efeito máquina de lavar —, ela já estava cheia de bactérias famintas, que imediatamente voltaram ao ataque, engolindo mais uma rodada de hidrocarbonetos. Essas repetidas incursões sobre o poço da BP pela crescente população de bactérias acelerou a velocidade em que o metano e o óleo foram devorado nas águas.

Valentine sugeriu que petrolíferas deveriam examinar as correntes, o movimento das águas e a comunidade nativa de micróbios no oceano antes de embarcar num grande projeto em águas profundas. "Então, se acontecer algo, vamos estar vários passos à frente para entender para onde o petróleo pode ir e qual deve ser a resposta ambiental", disse ele.

A pesquisa foi bancada pela Fundação Nacional de Ciências dos EUA, o Departamento de Energia do governo americano e a Agência de Pesquisa Naval.

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