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A juventude do sobrenome

DefesaNet

Série de 3 matérias do Correio Braziliense analisando as manifestações de Junho / Julho no Brasil,

2014 – Black Blocs se preparam Link

As estratégias antiprotesto Link

A juventude do sobrenome Link

A mobilização dos jovens que foram às ruas nas manifestações de junho geraram pouco eco entre os grandes partidos políticos brasileiros. De liberais a socialistas, as legendas continuam a adotar uma postura à margem dos apelos da juventude. Além de contar com poucos representantes de até 29 anos em seus quadros, as siglas têm lideranças juvenis dirigidas, em sua maioria, por parentes de caciques da política brasileira.

O Correio enviou um questionário às lideranças das juventudes dos maiores partidos brasileiros perguntando sobre quem seriam os representantes jovens de destaque. Foram consultados PT, PSB, PMDB, PSDB, DEM e PDT. A maioria dos partidos não soube apontar dois nomes de militantes considerados jovens, segundo o Estatuto da Juventude, com até 29 anos.

Os democratas tratam, por exemplo, o prefeito de Salvador, ACM Neto, e o deputado federal Efraim Filho (PB) como representantes da juventude do partido, apesar de ambos terem 34 anos. Entre os trabalhistas, o presidente nacional da Juventude Socialista, Luiz Marcelo de Camargo, sugere os nomes do deputado Weverton Rocha (MA), 34, e da deputada estadual do Rio Grande do Sul Juliana Brizola, 38.

A falta de representantes jovens nos partidos se deve, em especial, à falência da União Nacional dos Estudantes (UNE), afirma o cientista político Leonardo Barreto. A organização, que ficou conhecida por ser o espaço de encontro de universitários contra o regime militar, vigente de 1964 a 1985, perdeu credibilidade nas discussões políticas nos últimos anos, segundo Barreto. "A UNE virou um grande negócio de carteirinhas de estudante. Além disso, passou a receber verbas do governo do PT, perdendo assim toda a legitimidade", afirma.

No PMDB, há jovens de destaque na política com até 29 anos, mas a maioria deles tem relações familiares com caciques dos partidos. Na juventude dos peemedebistas, o filho do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), é o presidente nacional da organização. Aos 21 anos, Marco Antônio Cabral assumiu o cargo em março deste ano. Ao lado dele na diretoria, ainda estão o deputado estadual do Ceará, Danniel Oliveira, 28 anos, e o deputado federal Wilson Filho (PB), 24, respectivamente, sobrinho do senador Eunício Oliveira (CE) e filho do ex-senador Wilson Santiago (PB).

Parentes com histórico na política também é a realidade da juventude tucana, na qual se destacam os nome de Expedito Neto, 25 anos, que tentará uma vaga na Câmara este ano. Ele é filho do ex-senador Expedito Júnior (PR-RO), que teve o mandato cassado por compra de votos e abuso de poder econômico, em 2009.

Clã

No PSB também são vistos sobrenomes repetidos da política tradicional entre os líderes da juventude. Secretário nacional da Juventude Socialista Brasileira, Bruno da Mata, 30 anos, é filho da senadora Lídice da Mata (BA), pré-candidata ao governo do estado em 2014. Ele ainda não dá como certa a própria candidatura no ano que vem. "Nada pode ser descartado", diz. Em Pernambuco, o filho do governador do estado, Eduardo Campos, também está cotado para ser candidato ao Congresso Nacional. Aos 20 anos, João Campos pode manter a tradição da família Arraes de ter, ao menos, um representante na Câmara.

O cenário de novas gerações das tradicionais famílias de políticos acaba afastando novatos no sistema, afirma o cientista político Leonardo Barreto. "Não há estímulo para o jovem entrar numa legenda sem que ele tenha um vínculo de poder", argumenta. Para ele, um dos fatores de escassez de jovens nos partidos é porque as agremiações não apresentam estruturas democráticas. "Com exceção do PT, que tem eleições diretas, dificilmente as lideranças são renovadas dentro dos partidos", diz.

"Não há estímulo para o jovem entrar numa legenda sem que ele tenha um vínculo de poder"

Leonardo Barreto, cientista político

Bandeiras

Confira alguns dos temas defendidos pelas alas jovens de alguns dos principais partidos do país

PSDB

» Ampliação da oportunidade de emprego

» Mais investimento na educação

» Lazer, esporte e cultura como instrumentos para fazer os jovens se distanciarem das drogas e da criminalidade

PSB

» Defesa da igualdade de oportunidades e respeito pelos direitos humanos

» Direito ao pleno exercício da juventude

» Direito ao trabalho decente, com salários dignos

PT

» Defesa de reformas estruturantes, como política e agrária

» Democratização da comunicação

» Combate ao machismo, homofobia e racismo

PDT

» Educação básica e construção de escolas em período integral

» Defesa dos direitos do trabalhador

» Soberania nacional

PMDB

» Defesa do Estatuto da Juventude

» Posição contrária à redução da maioridade penal

» Criação de órgãos específicos para executar políticas para jovens nos estados e nos municípios

DEM

» Fim do voto obrigatório

» Fim do serviço militar obrigatório

» Defesa do direito à propriedade

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