Iron Dome – Israel e Palestina: os novos modos de se fazer a guerra nos conflitos modernos


Adel Bakkour e Isadora Novaes Bohrer
Geocorrente 140
Escola de Guerra Naval
Núcleo de Avaliação de Conjuntura


Um dos grandes elementos de instabilidade na política internacional do século XX foi a incapacidade de encontrar uma solução definitiva para o conflito entre Israel e Palestina. A região continua sendo uma das mais instáveis no Oriente Médio e regularmente retorna às manchetes internacionais.

No mais recente episódio, em maio de 2021, ressalta-se a evolução dos modos de se fazer a guerra, evidenciando a transformação dos atores e estratégias envolvidos, sobretudo contando com elevado grau de violência nos micro-espaços urbanos.

Seria possível, então, que esse caso possa se enquadrar na categoria esboçada por Tatiana Moura de “novíssimas guerras”?

O conflito entre Israel e Palestina é, sobretudo, urbano. A Faixa de Gaza possui 2 milhões de habitantes em 365 km², tornando-a um dos territórios de maior densidade populacional do mundo. Essa configuração faz com que o combate nesse local seja extremamente diferente daquele imaginado em campos abertos, com tropas e veículos de combate. Foi perceptível que, nos 10 dias de conflito, não houve proximidade entre as tropas rivais.

Ao contrário, apresentou-se a maximização do uso da inteligência artificial para controlar e guiar os mais de 4.300 foguetes lançados pelo Hamas e, do outro lado, a utilização de um sistema de defesa antiaérea de ponta, o Iron Dome, para proteger seus civis (majoritariamente administrado por uma sala de controle, que utiliza radares espalhados por Israel para interceptar e destruir foguetes e mísseis inimigos).
 


Atreladas às táticas militares estão as ações com o intuito de impedir o reabastecimento do inimigo. Os focos da danificação continuam sendo as linhas de suprimentos, mas, no caso discutido, outras instâncias são adicionadas a esse conjunto. Não é apenas a destruição do Hamas, mas tornar o urbano (Gaza) inabitável. Nos primeiros protestos em Jerusalém Oriental, uma das ações promovidas por Israel foi fechar a área de pesca da Faixa de Gaza.

Durante o conflito, o prédio de escritórios de duas das maiores mídias regionais foi destruído (o governo israelense alegou atividade terrorista no edifício). A informação também é arma nesse mundo de notícias instantâneas e redes sociais.

Mais que restringir os relatos, Israel empreendeu operações de informação e guerra psicológica, na qual os seus perfis estatais nas redes sociais tiveram intensa atuação durante toda crise.

Portanto, o modus faciendi do conflito em questão revela uma nova faceta da guerra contemporânea. O combate humano direto é complementado por sofisticados recursos tecnológicos e o teatro de operações, circunscrito a ambientes urbanos densamente povoados, conta com um elevado grau de violência.

Desse modo, com certo cuidado, podemos admitir que o recente episódio entre Israel e Palestina se trata de um exemplo das “novíssimas guerras”.

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