Rússia diz ser contra a militarização do espaço após acusação dos EUA; entenda

Patrícia Gnipper – Canaltech
 

Depois de ser acusada pelos Estados Unidos de ter testado uma arma antissatélite na órbita da Terra, a Rússia veio a público se defender. Dmitry Peskov, porta-voz presidencial, disse a repórteres na sexta-feira (31) que o país está comprometido com a desmilitarização total do ambiente espacial, sendo contrário ao envio de qualquer tipo de arma ao espaço.

Os EUA acusaram os russos de ter testado, na surdina, uma tecnologia que seria capaz de destruir satélites ao redor do planeta, ainda que o suposto teste não tivesse destruído equipamento algum. Segundo as acusações norte-americanas, o satélite russo Kosmos 2543 teria lançado um "objeto desconhecido" próximo a um satélite russo, no que seria um experimento para verificar se a tal arma chegaria mesmo perto o suficiente de um satélite a ponto de abatê-lo.

Então, militares dos EUA se mostraram preocupados com a possibilidade de os russos usarem essa tecnologia para se aproximar de seus satélites e destruí-los, no que poderia ser um ato de guerra.

A mesma acusação foi feita em abril deste ano, por sinal, também contra a Rússia. John Raymond, chefe de operações espaciais da Força Espacial e comandante do Comando Espacial dos EUA, disse que o sistema russo detectado em julho teria sido o mesmo no também suposto teste antissatélite que a Rússia teria feito em abril, quando os estadunidenses acusaram os russos de terem "inspecionado" um satélite de vigilância dos EUA.

"Esta é mais uma evidência dos esforços contínuos da Rússia para desenvolver e testar sistemas espaciais, e consistente com a doutrina militar publicada pelo Kremlin para empregar armas que mantêm em risco os ativos espaciais americanos e aliados", declarou.

Tudo o que Peskov disse a respeito foi que a Rússia é contra esse tipo de ação, dizendo, ainda, que uma reação às acusações dos EUA "provavelmente deveria ser feita pelo nosso Ministério da Defesa e pelo Ministério das Relações Exteriores", justificando por que não falaria mais sobre o assunto — ao menos por enquanto.

"Incomum e perturbador": EUA criticam teste antissatélite feito pela Rússia¹

O Comando Espacial dos EUA afirmou que a Rússia disparou um míssil antissatélite em um de seus testes balísticos no dia 15 de abril. Para os norte-americanos, o teste teria sido uma prova de que as armas russas são uma ameaça em potencial a satélites estadunidenses. John Raymond, comandante do SpaceCom, disse que o teste antissatélite da Rússia “fornece outro exemplo de que as ameaças aos sistemas espaciais dos EUA e seus aliados são reais, sérias e crescentes", e afirmou que os mísseis da Rússia são capazes de destruir satélites em baixa órbita terrestre. Armas antissatélite (ASATs) são armas espaciais projetadas para destruir satélites por motivos militares estratégicos.

Atualmente, quem possui esse tipo de tecnologia são os EUA, alguns países membros da antiga URSS, a China e a Índia. Há pouco mais de um ano, a Índia destruiu um satélite em órbita e se autointitulou "uma potência espacial" por conta disso.

O teste recente da Rússia veio pouco tempo após manobras suspeitas realizadas em fevereiro. Os EUA viram dois satélites russos chamados COSMOS 2542 e COSMOS 2543, que "exibiram características de uma arma espacial", de acordo com o general Raymond.

Essa dupla de satélites teriam sido colocados para seguir o USA 245, um satélite norte-americano de imagens confidenciais. Raymond descreveu esse comportamento como "incomum e perturbador".

Sobre o teste ASAT de 15 de abril, Raymond declarou que esta teria sido uma prova de que a Rússia é hipócrita ao defender propostas de controle de armas do espaço sideral. Essas propostas foram projetadas para restringir as capacidades militares dos Estados Unidos no espaço. Para Raymond, no entanto, os russos “claramente não têm intenção” de interromper seus programas de armas espaciais.

Por isso, o general pediu aos governos que adotem normas de comportamento responsável no espaço. "É um interesse e responsabilidade compartilhados de todas as nações que viajam no espaço criar condições seguras, estáveis ??e operacionalmente sustentáveis ??para atividades espaciais, incluindo atividades comerciais, civis e de segurança nacional", afirmou, acrescentando que a segurança é importante também para lutar contra a pandemia de COVID-19.

O espaço é crítico para todas as nações e para o nosso modo de vida. As demandas por sistemas espaciais continuam neste período de crise, onde a logística, o transporte e a comunicação globais são fundamentais para derrotar a pandemia do COVID-19.

A Secure World Foundation (SWF), organização que prevê os usos seguros, sustentáveis e pacíficos do espaço sideral, disse, por meio de seu diretor Brian Weeden, que a arma testada era um teste do Nudol, é um míssil anti-balístico russo e antissatélite que está em desenvolvimento.

Ele foi projetado para desviar um ataque nuclear a Moscou e regiões industriais do país. Os russos haviam emitido um aviso de que lançariam um Nudol para testes, de acordo com Weeden. "Este parece ter sido o nono ou décimo teste do sistema Nudol desde 2014, então sabemos que esse sistema está em desenvolvimento há um tempo", disse o diretor da SWF ao SpaceNews.

¹por Daniele Cavalcante – Canaltech

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