A tropa de elite do esporte brasileiro

Flávia Ribeiro

Nos últimos dois anos, 320 atletas ingressaram nas Forças Armadas Brasileiras, notadamente no Exército e na Marinha, como militares temporários, com contratos de até oito anos. Alguns desses atletas, medalhistas em Jogos Pan-Americanos e Olimpíadas e promessas para 2012 e 2016, carregam a responsabilidade de serem destaques nos Jogos Mundiais Militares. Mas o que faz um atleta de ponta se tornar soldado ou sargento do Exército ou marinheiro naval na Marinha? O soldo de cerca de R$ 1,5 mil para soldados e marinheiros e de cerca de R$ 2,5 mil para sargentos ajuda, mas não é a principal explicação. Infraestrutura, apoio em viagens e benefícios como plano de saúde fazem toda a diferença.

“Para muita gente, parece que o atleta que já ganhou medalha olímpica está estabilizado e tudo bem, mas isso não é a verdade. A gente segue continuamente em busca de patrocínios. Então, esse dinheiro faz diferença para a gente, sim. Mas, além disso, a gente tem uma estrutura pronta nas Forças Armadas. Eu faço fisioterapia com um fisioterapeuta da Marinha, já usei nutricionista da Marinha. Para quem precisa, há academia, psicólogo, preparador físico… Vem tudo pronto. Além disso, a Marinha tem apoiado a gente em viagens, com diárias. Eu e a Martine (Martine Grael, sua parceira na classe 470, olímpica) fomos treinar em Weymouth, na Inglaterra, onde será a competição de vela na Olimpíada de 2012, com esse apoio”, explica a marinheira naval Isabel Swan, 27 anos, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, na classe 470, e que disputará os Jogos Mundiais Militares na classe Hpe.

Ela não está sozinha. No atletismo, alguns nomes chamam a atenção, como o marinheiro naval Jadel Gregório, 30 anos (recordista sul-americano de salto triplo, medalha de ouro no Pan do Rio e de prata no Mundial de Atletismo de Osaka, em 2007) e a sargento Keila Costa, 28 anos, medalha de prata no salto em distância e no salto triplo nos Jogos Panamericanos do Rio, bronze no salto em distância no Mundial Indoor de Atletismo de 2010, e recordista sul-americana de salto triplo. A sargento Yane Marques, 27 anos, atual 4ª colocada no ranking mundial de pentatlo moderno, tem se destacado pelo grande evolução nos últimos dois anos.
Esportes coletivos também têm estrelas. O futebol feminino, bicampeão mundial militar e favorito nos Jogos, conta com Daniele Batista, 28 anos, atacante da seleção que acabou de disputar a Copa do Mundo, e com ex-jogadoras da seleção, como Maicon e Tânia Maranhão, todas marinheiras. No vôlei feminino, as sargentos Fernanda Garay, 24 anos, e Juciely, 29, se juntaram à equipe militar três dias depois de conquistarem o título da Copa Pan-Americana feminina de vôlei, no México, com a seleção,

No judô, o sargento Leandro Guilheiro, de 27 anos, já conquistou duas medalhas olímpicas de bronze, em Atenas 2004 e em Pequim 2008, e o sargento Tiago Camilo, campeão Mundial em 2007, foi prata nas Olimpíadas de Sydney 2000 e bronze na de 2008. Eles são os nomes mais conhecido de uma equipe fortíssima, que conta ainda com a marinheira naval Ketleyn Quadros, 23 anos, bronze em Pequim. Não foi à toa que as finais do judô e do taekwondo foram as primeiras a ter ingressos esgotados. No taekwondo, o marinheiro naval Diogo Silva, 29 anos, ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio e quarto lugar nas Olimpíadas de Atenas, lidera um batalhão de bons lutadores.

“Esses atletas sentiram uma estabilidade na instituição. Eles não ingressam nas Forças Armadas para ficar ricos. Eles fazem isso por segurança e pela vibração de defender o país, e pela infraestrutura disponível. Atleta de alto rendimento é naturalmente disciplinado e determinado, eles se adaptam facilmente ao ambiente militar”, avalia o vice-almirante Bernardo Gamboa, Presidente da Comissão Desportiva Militar do Brasil (CDMB), que garante continuidade no investimento das Forças Armadas no esporte nacional, baseado no exemplo de diversos países da Europa, especialmente na França, Alemanha e Itália. “Estudamos o modelo adotado por estes três países, que é um modelo que dá certo, e o implantamos nos últimos dois anos. As Forças Armadas querem participar do programa olímpico brasileiro, para além de 2012 ou 2016. Não há perspectiva para nosso investimento acabar”, afirma o vice-almirante, que aposta no Brasil entre os três primeiros no ranking de medalhas dos Jogos Mundiais Militares.

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