Legio – Patria Nostra


Fernando Diniz
Especialista em Forças Especiais
In memorian

 


Escrever a história da Legião é como uma aventura. Um monumento não é passível de ser narrado, e seria muita pretensão encerrar em poucos parágrafos século e meio de campanhas, de combates, de bravura e de coragem destes trezentos mil voluntários que serviram desde 1831 sob a bandeira da Legião.

Sob a bandeira vermelha e verde da Legião serviram homens de inegáveis

qualidades militares e de liderança, a começar por membros de famílias reais européias, como Aage, príncipe da Dinamarca e neto de Luís Felipe, Rei de França, ou Amilakvari, príncipe georgiano, que cobriu-se de glória em Bir Hacheim e tombou a frente de seus homens em El Alamein.

Homens da estirpe de De Corta, Lyautey, Gaucher, Danjou ou o lendário coronel Rollet, conhecido entre seus homens como “père Rollet”, que no comando do Regimento de Marcha da Legião na I Guerra, nunca foi vencido, tendo seu Regimento sido o mais condecorado do Exército Francês.

Falar da Legião é falar de milhares de combates, campanhas e batalhas, pois a partir de sua fundação em 1831, sempre foi a extensão do poder francês além-mar, já que a Constituição Francesa proíbe o emprego de unidades formadas por estrangeiros em solo pátrio…Ironicamente, aqueles que com maior valor e desprezo à própria vida defenderam o estandarte tricolor são proibidos de fazê-lo quando a Pátria corre perigo. Exceções foram feitas: durante a I Guerra Mundial, o I Regimento de Marcha da Legião Estrangeira, esvaziado de seus membros de origem alemã, bateu-se em terras européias, tendo sido a unidade mais condecorada de todo o exército francês.

Mas antes disto, na Guerra da Criméia, em 1851, a Legião sempre esteve à frente das tropas francesas, que junto aos ingleses, bateu-se contra o exército russo. Foi a Legião que tomou o Forte Malakoff, posição-chave da defesa de Sebastopol, forçando a retirada dos russos e obrigando o czar a negociar a paz.

Mas não se pode citar a Legião sem citar sua data máxima: 30 de abril de 1863. O México era governado por Maximiliano de Áustria, em nome da França. A revolta comandada por Benito Juarez se alastrava. Uma unidade da Legião é cercada por irregulares mexicanos na localidade de Camerone. São sessenta legionários contra três mil cavaleiros e infantes. A massa destes esmagou-os. A vida, mas não a coragem abandonou estes soldados franceses. Desde então, a data de 30 de abril é comemorada onde quer que exista um legionário.

Em julho de 1962, após a independência da Argélia e o fim de uma sangrenta guerra colonial, a Legião recebe ordens de partir, de abandonar sua casa-mãe, em Sidi Bel Abbès, pois a nova republica argelina não pode tolerar mais a presença de tropas estrangeiras em seu território. Em frente às frades do Quartel Vienot, os árabes pavoneiam-se, provocando os legionários. Estes, impassíveis, tratam de seus afazeres. O brio de serem os soldados mais corajosos do mundo, herdeiros de mil combates, de cem batalhas, de vinte campanhas, lhes dá este direito.

Na praça central de Sidi bel Abbès, setecentos legionários estão reunidos em silencio. Partiram os símbolos da Legião. Partiram o sabre de Juarez e os mosquetes de Abdelcader. Levada religiosamente a mão do capitão Danjou. Tiraram-se as placas de mármore que contém os nomes de todos os mortos da Legião.Ficaram apenas cinzas.

Ao regressar do Tonquim em 1885, o capitão De Borelli, herói do cerco de Tuyen Quang tinha doado ao Museu um grande estandarte de seda negra tomado ao inimigo. Ele especificara: – O troféu nunca deverá sair de Bel Abbès. Se a Legião partir, deverá ser queimado…

Naquela noite, a Legião irá queimar o estandarte dos Pavilhões Negros. Enquanto as chamas se extinguem, setecentos legionários permanecem em continência.

A Legião partiu…Transferiu-se para Raffali, na Córsega, onde permanece até hoje. Seu estandarte flutua em lugares longínquos, como Guyana, Djibouti ou Madagascar.

Da Espanha à Criméia, De Marrocos a Verdun, de Madagascar à Diem Biem Phu, a história da Legião é uma sucessão de “Camerones”.

Os tempos mudaram, os impérios coloniais já não existem, as guerras são outras. Mas a Legião permanece. No seu passo lento e seguro, certo de si mesmo e do poder de suas armas, continua a marchar.Onde quer que esteja, onde quer que se vá, onde quer que se bata, é seguro que será ouvido o seu apelo:

“A mim, a Legião!”

Código de Honra do Legionário

Artigo 1
Legionário, tu és um voluntário servindo a França com honra e lealdade.

Artigo 2
Cada legionário é o teu irmão de arma seja qual for a sua nacionalidade, a sua raça, a sua religião. Tu manifestarás sempre a estreita solidariedade que une os membros de uma mesma família.

Artigo 3
Respeitador das tradições, fiel aos teus chefes, a disciplina e camaradagem são a tua força, o valor e a lealdade tuas virtudes.

Artigo 4
Fiel do seu estado de legionário, tu o mostrarás na tua farda sempre elegante, teu comportamento sempre digno mas modesto, teu aquartelamento sempre limpo.

Artigo 5
Soldado de elite, tu treinas com rigor, cuida da tua arma como teu bem mais valioso,
cuida permanentemente da tua forma física.

Artigo 6
A missão é sagrada. Tu a executas até o fim, no respeito das leis, dos costumes da guerra, das convenções internacionais e se for necessário, ao perigo da tua vida.

Artigo 7
No combate, tu agis sem paixão e sem ódio, tu respeitas os inimigos vencidos, nunca abandonas nem os teus mortos, nem os teus feridos, nem as tuas armas.

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