Entrevista Contra-Almirante Gondim – Projetos Estratégicos da MB


Valéria Rossi
Matéria publicada no Informe ABIMDE


O novo diretor da Diretoria de Gestão de Programas Estratégicos da Marinha (DGePEM), Contra-Almirante Roberto Gondim Carneiro da Cunha fala dos desafios para implementar os programas estratégicos da Marinha. Em entrevista à revista INFORME ABIMDE, ele também ressalta suas expectativas, preocupações com contigeciamentos e o futuro do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz).
 
Roberto Gondim assumiu o cargo no dia 03 de abril. Ele é responsável pelo órgão que gerencia todos os programas estratégicos da Marinha. “Tenho certeza da importância da nossa Diretoria que, com seu portfólio atual de Programas Estratégicos, contribuirá diretamente para o fortalecimento do Poder Marítimo, para a expansão do Poder Naval, bem como para o desenvolvimento das Indústrias de Defesa Nacional”.
 
INFORME ABIMDE – O senhor assumiu recentemente o comando da DGePEM, quais são suas expectativas?
 
Contra-Almirante Roberto Gondim Carneiro da Cunha – Inicialmente, gostaria de agradecer a oportunidade de poder contribuir, de alguma forma, para a divulgação dos Programas Estratégicos da Marinha, e de forma particular com a ABIMDE, ao mesmo tempo em que divulgo de forma direta a minha diretoria.
 
Como disse na assunção como Diretor de Gestão de Programas Estratégicos da Marinha, atuar como órgão executivo central de gerenciamento dos Programas Estratégicos da MB, definidos pela Alta Administração Naval, em coordenação com as Diretorias Especializadas e demais Organizações Militares (OM) envolvidas, servindo de repositório do conhecimento institucional adquirido nessa gestão, sem sombra de dúvidas, representa um rumo promissor, repleto de desafios, aprendizagem e realizações.
 
Tenho certeza da importância da nossa diretoria, que com seu portfólio atual de Programas Estratégicos, contribuirá diretamente para o fortalecimento do Poder Marítimo, para a expansão do Poder Naval, bem como para o desenvolvimento das Indústrias de Defesa Nacional.
 
IA – Um dos grandes projetos da DGePEM é o SisGAAz, como está esse processo?
 
Contra-Almirante Roberto Gondim – O Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz) é considerado e definido pela MB como um sistema de defesa estratégico para a defesa nacional, a ser desenvolvido totalmente no Brasil e com forte índice de nacionalização.

Nota DefesaNet – Para notícias detalhadas sobre o SisGAAz acesse a Cobertura Especial SisGAAz Link
 
Apesar de seu nome referenciar a expressão “Amazônia Azul”, sua cobertura abrangerá, também, as Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB), incluindo cerca de 22.000 Km de rios navegáveis das bacias hidrográficas brasileiras, e, ainda, as áreas internacionais de responsabilidade para Operações de Busca e Salvamento (SAR – Search and Rescue).
 
O Programa SisGAAz está previsto para ser executado em três etapas: conceituação, contratação e desenvolvimento.
 
A etapa de conceituação envolveu as fases de concepção operacional, de especificação do sistema e do projeto de arquitetura de alto nível, e foi encerrada em dezembro de 2013.
 
Atualmente, nos encontramos na etapa de contratação, iniciada em janeiro deste ano. Em 19 de março do corrente ano, na Escola de Guerra Naval, houve a publicação de uma RFP (“Request for Proposal”), ou seja, foi apresentada uma solicitação de propostas a ser respondida pelas chamadas empresas integradoras (“Main Contractors”). Essas companhias, que deverão estar credenciadas como Empresas Estratégicas de Defesa (EED) de modo a usufruir de um regime tributário diferenciado e, consequentemente, reduzir o custo do programa, deverão apresentar suas propostas até 16 de julho de 2014.
 

Nota DefesaNet

Em evento na Helibras, 13 JUN 14, o Almirante-de-Esquadra Júlio Moura Neto, Comandante da Marinha, informou que foi concedido uma prazo maior para a apresentação de propostas da formalização das Main Contractors.

A complexidade da documentação levou muitas empresas a solicitarem à Marinha a dilatação do prazo. 

Não há no momento informações sobre alterações nos aoutros prazos do cronograma.

O editor


A partir do recebimento das propostas das candidatas a “Main Contractors”, iniciar-se-á um processo de avaliação por meio de uma comissão composta por especialistas de diferentes setores da MB, e com a aplicação de uma metodologia especialmente desenvolvida, que culminará com a escolha da melhor solução e, consequentemente, da empresa vencedora. Após essa fase, deverá ser iniciado o processo de contratação.

Por fim teremos a etapa de desenvolvimento, que ocorrerá a partir da assinatura do contrato, cuja previsão é dezembro de 2015.
 
IA – O corte de orçamento feito pelo governo afetou o SisGAAz? Pode vir a comprometer o futuro do programa?

Contra-Almirante  Roberto Gondim – Como mencionado anteriormente, o Programa SisGAAz recentemente saiu de sua fase de conceituação, somente agora sendo iniciada a fase de contratação. Os custos envolvidos em todo o programa ainda não são plenamente conhecidos, pois estão diretamente relacionados à solução tecnológica que irá ser proposta pelas empresas que se candidatarem ao seu desenvolvimento.
 
Não pode ser esquecido que se trata de um grande programa, que trará diversos benefícios ao País. Sua consecução ensejará a mobilização de recursos físicos, econômicos e humanos voltados para o investimento no potencial produtivo do Brasil e a independência nacional, impulsionando a indústria de material de defesa na busca da desejável autonomia tecnológica, de modo a eliminar, progressivamente, a compra de serviços e produtos importados.
 
Além de contribuir para o controle da exploração dos recursos minerais e vivos existentes no mar, e para o funcionamento regular e contínuo dos portos e vias de comércio marítimo e fluvial, o Sistema propiciará a criação de conhecimento afeto à produção de serviços e produtos de alto valor agregados. Não obstante, vislumbra-se que o SisGAAz seja capaz de gerar significativo volume de empregos diretos e indiretos.
 
Assim, diante dos benefícios que podem ser auferidos com a implementação do programa, espera-se que os eventuais cortes e/ou contingenciamentos orçamentários não afetem a condução e a implementação do programa, uma vez que sua operação viabilizará ao País, além da ampliação da capacidade de cumprimento dos compromissos internacionais de busca e salvamento (SAR), a possibilidade de reafirmação de sua soberania, aumentando a presença do Estado Brasileiro nas suas águas e a consciência situacional marítima.
 
IA – Essa redução poderá afetar outros projetos da Marinha? Quais?
 
Contra-Almirante Roberto Gondim – Obviamente qualquer corte ou contingenciamento tem um efeito complicador no planejamento, principalmente em projetos de longa duração e com volume significativo de recursos envolvidos.

Esse é um problema que vem postergando a condução e a conclusão de programas importantes para a MB, o que exige um esforço muito grande da Força, principalmente nos casos em que existem compromissos contratuais previamente firmados. É importante mencionar que há vários anos a Marinha convive com cenários restritivos de recursos, e, graças a um planejamento acurado e criterioso, vem conseguindo cumprir sua missão.
 
Atualmente a Marinha passa por um momento de renovação. Além do Programa Nuclear da Marinha, do PROSUB (Programa de Desenvolvimento de Submarinos), e do SisGAAz, grandes programas estratégicos estão  revistos, como:

 – Programa de Obtenção de Navios-Aeródromos (ProNAe);
–  Programa de Obtenção de Navios-Anfíbios (ProNAnf), e,
–  Programa de Obtenção de Navios de Superfície (PROSUPER), dentre outros.

 
IA – Como o senhor vê a participação da ABIMDE junto às Forças Armadas?
 
Contra-Almirante Roberto Gondim – A atuação da ABIMDE é de extrema importância para as Forças Armadas, pois contribui para o estreitamento da relação entre as empresas Associadas e as organizações militares.
 
Com a ABIMDE verificamos uma possível agilização e incentivo da comercialização, do desenvolvimento e da qualidade dos produtos de defesa fabricados no País, fomentando, assim, a criação e a manutenção de uma Base Industrial, Logística, Científica e Tecnológica voltada para a Defesa e Segurança, que é um dos eixos estruturantes da Estratégia Nacional de Defesa (END).
 
Em essência, a soberania nacional está diretamente relacionada à existência dessa indústria de defesa forte, capacitada a oferecer produtos de qualidade, tecnologicamente avançados e adequados à crescente importância do País no cenário mundial.
 
Para tal, o Brasil precisa se desenvolver e investir na sua própria defesa.
 
Durante diversos anos, os investimentos em defesa foram aquém das necessidades das Forças, havendo, todavia, fortes motivos para crer em uma tendência a reverter esse quadro. Nesse caso, uma entidade como a ABIMDE, e suas Associadas, podem contribuir significativamente para o seu atendimento.

 

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