Rio 2016 – Cooperação mundial é chave antiterror

Renata Batista E Robson Sales


Uma força-tarefa internacional trabalha para proteger a Olimpíada do Rio de atentados terroristas. Inicialmente considerado uma ameaça secundária, o terrorismo assumiu o topo das preocupações dos especialistas em segurança e relações internacionais após os ataques do Estado Islâmico em Paris no dia 13 de novembro.

Além da mobilização de 85 mil homens e mulheres das forças de segurança, que já estava prevista, as medidas para fazer frente à nova ameaça devem exigir mais inteligência e integração das forças brasileiras e estrangeiras, como o intercâmbio de informações oferecido pelo governo francês ao Brasil logo após os ataques.

Na avaliação da Secretaria Extraordinária para Grandes Eventos do Ministério da Justiça, a cooperação internacional é a chave para as ações antiterrorismo no período olímpico. Na semana passada, o órgão reuniu representantes de 78 países no Rio para apresentar o Plano Estratégico de Segurança Integrada para os Jogos Olímpicos.

O plano da secretaria está dividido em três eixos: segurança pública, que inclui polícia, trabalho e inteligência e combate ao terrorismo; defesa, que engloba ações marítimas e aéreas, além de segurança cibernética; e o eixo inteligência. Juntos, os ministérios da Justiça e da Defesa vão investir quase R$ 2,2 bilhões na segurança da Olimpíada.

Do total de 85 mil agentes de segurança, mil devem ser destacados apenas para o aeroporto internacional Antônio Carlos Jobim, para proteger a entrada e saída de autoridades, delegações e turistas.

A oito quilômetros da reunião com os representantes dos países participantes dos jogos, agentes franceses ministravam treinamento à tropa de elite da Polícia Militar do Rio. Sede da Olimpíada de 2012, o Reino Unido também troca informações e equipamentos com o Brasil desde o ano passado. Segundo a embaixada britânica, desde 2010 há cooperação entre as agências de segurança pública e serviços de inteligência dos dois países.

No Centro Integrado Antiterrorismo (Ciant), criado especialmente para a Olimpíada, o Brasil espera reunir agentes de pelo menos 40 países. A Polícia Federal (PF) ficará à frente desse grupo, que também contará com homens da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), do Ministério da Defesa e da Interpol, entre outros representantes estrangeiros. Há mais de 20 anos a PF possui uma unidade especializada em antiterrorismo.

Internamente, são duas as preocupações dos especialistas que acompanham o assunto: a falta de segurança nas fronteiras e a facilidade de compra de armamento pesado no Rio. "O risco é menor, mas existe. O que fizeram em Paris foram ataques coordenados, bem financiados, com bom suprimento de armas e que mexem com o dia a dia das pessoas", resume Kai Michael Kenkel, pesquisador visitante honorário do Green College, da Grã-Bretanha, há 12 anos, e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio).

Segundo ele, desde a Olimpíada de Berlim, em 1972, quando o grupo terrorista Setembro Negro sequestrou e matou 11 atletas da equipe israelense, as características desses grupos mudaram. Nas décadas de 70 e 80, eram mais ligados a questões políticas e não religiosas, embora os integrantes do grupo Setembro Negro fossem palestinos e tenham atacado atletas israelenses. Também havia menos recursos e poder de comunicação.

"O EI [Estado Islâmico] usa a religião para recrutar pessoas que, pela posição social e econômica que têm, acabam acumulando muita raiva e frustração. Quando conseguem acoplar essa ideologia maior à frustração é que criam perigo", diz, lembrando que há suspeitas de células do EI tentando se fixar na região da tríplice fronteira – Brasil, Argentina e Paraguai.

Samuel Rubens Pereira, diretor operacional da Haganá, grupo de segurança privada de origem israelense, diz que o risco de atentados terroristas é real. "O Brasil tem uma fronteira seca muito grande, que dificulta o controle. Seria uma forma de os terroristas fazerem propaganda do poder que têm", observa.

Jornalistas estrangeiros demonstraram inquietação com a falta de clareza do governo em relação ao plano de defesa, durante entrevista coletiva no Rio após a reunião da semana passada. A grande dúvida era saber se o governo brasileiro será capaz de garantir segurança contra ataques extremistas, já que oficialmente o país afirma não ser necessário mudar o planejamento já estabelecido, mesmo após os ataques na França.

Na opinião do especialista da Haganá, os nove meses até o início do evento permitem a preparação de um sistema de segurança eficaz contra o terrorismo que atenda a três pontos básicos: divulgação, pressão política e flagrante. O primeiro passo, a divulgação, consiste em conscientizar a população sobre a importância de informar as forças de segurança sobre atitudes suspeitas. Pressão política é demonstrar força, com presença ostensiva das polícias nas ruas, nos pontos turísticos e nas arenas esportivas. Já o flagrante está diretamente ligado ao trabalho dos serviços de inteligência, que permite sustar a ação terrorista ainda na fase de planejamento.

"Terrorismo é a luta contra o "amigo" que se infiltra na sociedade. A "ostensividade" gera pressão psicológica, mas é preciso usar inteligência e, principalmente, envolver a população", explica Pereira.

O uso de tecnologias de reconhecimento facial é, segundo Pereira, uma das ferramentas mais indicadas em eventos como a Olimpíada. Segundo ele, o Rio tem tempo suficiente para ampliar o uso de câmeras e se integrar a bancos de dados internacionais, já que sistemas e softwares são padronizados. "O sistema é robusto, com câmeras de alta definição, capazes de varrer ambientes e interpretar faces em milésimos de segundos, mesmo de multidões. É uma tecnologia que está bem popularizada e disponível para uso", completa.

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